Depois de quase uma semana sem ver televisão, um zapping rápido pelos canais do cabo levou-me a um filme de 2013 que ainda não tinha tido oportunidade de ver, O Comboio Noturno para Lisboa, baseado no romance de Pascal Mercier. Como apaixonado por comboios, achei o título sugestivo e, além disso, o elenco contava com um ator que aprecio, Jeremy Irons. Confesso que logo o início me pareceu pouco verosímil – ainda assim, achei que o filme merecia uma oportunidade. Por isso, continuei a vê-lo. Até que percebi que, afinal, não era uma história sobre comboios, mas sim sobre a ditadura em Portugal – mas com tantos lugares-comuns, tantos clichés que se percebia facilmente que quem a escreveu não conhece muito sobre Portugal ou os portugueses. É um filme a cores, mas podia perfeitamente ser a preto e branco: de um lado, os carniceiros do regime; do outro, os heróis da “resistência”. Vem isto a propósito de “rótulos” e de clichés. Vejo muita gente a dizer que não gosta de colar rótulos às pessoas – mas vejo ainda gente mais a usá-los indiscriminadamente. Estranhamente, às vezes até para si próprios. Quantas pessoas não vemos a definirem-se como “feministas”, “antirracistas”, “antifa” ou “bissexuais” como se fossem medalhas de mérito? Em sentido inverso, disparam-se acusações – “racista”, “fascista”, “supremacista”, “machista” – com a maior leviandade. Qual o objetivo?
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