4 de agosto de 1961. De repente, Portugal cheirava a podre

4 de agosto de 1961. De repente, Portugal cheirava a podre


Tudo ao mesmo tempo: peixes podres no mercado, ovos podres a obrigarem dezenas de pessoas a irem de cambulhada para as urgências dos hospitais, carne podre servida em restaurantes! As autoridades de saúde não tinham mãos a medir nesse verão em que o país fedia. Nunca se vira um tal desrespeito pela sanidade pública. Nem…


Lembram-se daquele episódio de ACidade e as Serras? OJacinto, vindo lá de Paris, de comboio, farto da massacrante jornada, vê-se de repente, ao acordar, em terras lusitanas, que já não visitava desde a infância.Abre a janela da carruagem e solta, alegremente, para o seu companheiro Zé Fernandes: “Então isto é que é Portugal? Cheira bem!”

Pois naquele maldito verão de 1961, Portugal cheirava mal. Mesmo muito mal! Logo a começar por Trás-os-Montes e por Bragança, onde milhares de peixes podres foram postos à venda no mercado, horrorizando os compradores. O veterinário dr. José Miguel Vaz não se deixou ficar quieto. Profundamente preocupado com a saúde dos seus concidadãos, deitou mãos à obra e foi investigar. Fazia parte de uma comissão de serviço da Intendência Pecuária de Bragança e iniciou de imediato uma inspeção rigorosa sobre o que estava a acontecer. Examinou exaustivamente mais de duas mil espécies de pescado e a sua conclusão foi assustadora. Corvina, sardinhas, carapaus, pescada, todo o peixe trazido do Centro Piscatório de Matosinhos foi considerado impróprio para consumo. Peixe podre! Ordenou que todo o material fosse imediatamente regado com creolina e enterrado debaixo de sete palmos de terra, tal como se procede com os cadáveres. A praça de Bragança estava à pinha. Era dia de fazer compras para a semana. O dr. José Miguel Vaz acabava de salvar algumas centenas de vidas, certamente. Agradecidos, os clientes prestaram-lhe, logo ali, uma tão merecida como espontânea declaração de amizade. Viu-se rodeado de gente que queria cumprimentá-lo. Ah! Mas o país parecia amaldiçoado. As coisas não se ficavam por aqui.

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