Benfica-FCPorto. A besta negra do dragão azul

Benfica-FCPorto. A besta negra do dragão azul


Em dez finais da Taça de Portugal (uma ainda Campeonato de Portugal), o Benfica ganhou nove. Uma superioridade avassaladora que será este sábado posta em causa por um FCPorto que parece mais forte.


Encerra-se este sábado, no Estádio Cidade de Coimbra, pelas 20h45, mais uma época do futebol português, talvez a pior dos últimos trinta anos, não apenas por causa dos efeitos de uma maldita pandemia que parece não querer deixar-nos viver em paz, sem desconfiarmos uns dos outros, mas também pela fraca qualidade do jogo jogado, com espetáculos que, por vezes, roçaram a indigência, interpretados pela quase totalidade dos clubes em causa, com a exceção mais ou menos universalmente aceite do Famalicão e do Rio Ave, expoentes de um association que deveria envergonhar os primeiros classificados de um campeonato para esquecer.

Benfica e FC Porto disputam pela 11.ª vez o troféu referente à Taça de Portugal (e é de acrescentar que a taça atribuída ao vencedor do Campeonato de Portugal era exatamente igual à que será entregue sábado) numa altura em que dificilmente os portistas não se apresentam com o estatuto de favoritos. Afinal já ganharam esta época por duas vezes, na Luz e nasAntas, ao seu rival de Lisboa, foram campeões com um muito razoável à vontade, com o brilho de terem recuperado de um atraso de sete pontos, e têm apresentado um futebol bem mais consistente embora longe de ser entusiasmante. É o que temos…
Curioso o facto de o primeiro confronto entre águias e dragões numa final como a deste sábado ter sido precisamente em Coimbra, no velho Campo do Arnado. Já lá vão 89 anos, vejam bem, o Benfica ganhou confortavelmente por 3-0, e iniciou uma prática muito desagradável para o seu opositor ao tornar-se na verdadeira besta negra das finais de Taça. Os factos estão aí expostos e são indesmentíveis: em dez dos encontros decisivos, os encarnados venceram nada menos do que nove, perdendo apenas o de 1958 por 0-1, golo de Hernâni, oFuracão de Águeda. De resto, um percurso quase limpo que levou até, num tempo de guerra bruta que se esperava ter sido expelido definitivamente do futebol português, à vitória de uma final em pleno Estádio dasAntas (1-0, golo de Carlos Manuel), em 1983, quando o presidente portista bateu o pé, exigindo não jogar no Jamor, e os solícitos dirigentes federativos cumpriram as suas ordens transferindo convenientemente o jogo para o recinto do manda-chuva. Como o FCPorto já tinha perdido em casa uma final da Taça, em 1960, frente aoLeixões (0-2), a teimosia parece ter sido enfiada no saco como a viola do seresteiro. 

 

Notícias boas

O Jamor continuou a ser o palco natural de uma festa de Verão até que, desta vez, por via de um mal ao qual não conseguimos ver a cor nem resistir aos efeitos, as autoridades sanitárias consideraram o recinto impróprio em tempos de confinamento. Coimbra foi escolhida; em Coimbra se dirá adeus a um ano bisonho e mazombo que só recebeu verdadeiras boas notícias vindas da arbitragem com o final da carreira de um árbitro inenarrável chamado Carlos Xistra e outro que para lá caminha, Jorge de Sousa. Falta que desapareça mais um da trupe, Artur Soares Dias, tão tratado nas palminhas sem qualquer mérito que o sustente que até será, inevitavelmente, o apitador de sábado, benza-nos Deus, se é que Ele existe.
Sérgio Conceição veio a público aceitar o favoritismo que, neste momento, todos os analistas darão ao FCPorto, apesar de a história jogar contra ele. Não vejo como não lhe dar razão. Sem brilhantismo, sem um futebol que nos faça ficar agradavelmente sentado no sofá para gozar os seus predicados – agora que não nos podemos sentar nas bancadas dos estádios – os portistas formam o conjunto mais competitivo e mais compacto do futebol em Portugal. Nada que valha um foguetório, e esteve aí a iniquidade de uma presença nas provas europeias para o comprovar. Mas é do futebolzinho português que se trata e, nisso, mérito para quem, com o que tinha, fez o que os outros não conseguiram.
Não será uma vitória na Taça de Portugal (mesmo contra o inimigo favorito) a apagar a insatisfação dos benfiquistas que chegaram a ter o título de campeão nas mãos e, de um momento, se viram a correr atrás dele entontecidos como quem procura agarrar uma galinha pelo rabo. Ainda assim, é a forma de conquistar mais um troféu para uma sala apinhada deles – soma 26 Taças de Portugal às quais devem acrescentar-se três Campeonato de Portugal, o que faz das águias as maiores açambarcadoras desta competição, deixando os azuis e brancos à distância de 16+4. Ou seja, em caso de vitória, o Benfica atinge o número redondo de 30 Taças/Campeonatos de Portugal, uma superioridade significativa em relação a todos os outros clubes nacionais. Resta saber se a tradição, matéria na qual Coimbra dá lições, entrará em campo para jogar lado a lado com a equipa de Veríssimo. Se assim for, a besta negra do dragão azul voltará a fazer estragos significativos. Mas não vale a pena deitarmo-nos a adivinhar. Sábado logo se vê…