Quase três meses depois, acaba  o estado de calamidade mas Lisboa não baixa a guarda

Quase três meses depois, acaba o estado de calamidade mas Lisboa não baixa a guarda


Freguesias com mais casos saem do vermelho, mas grande Lisboa vai manter-se com regras mais apertadas do que o resto do país. Ajuntamentos estarão limitados a 10 pessoas e equipas de intervenção social vão ser ativadas em concelhos como Oeiras e Cascais.


As 19 freguesias da grande Lisboa que nas últimas semanas se mantiveram em estado de calamidade passam no final desta semana para uma nova etapa, mas deverão manter-se com regras mais apertadas para conter a covid-19 do que o resto do país. O panorama foi traçado ontem pelo ministro da Administração Interna no final da reunião entre Governo e autarcas. Eduardo Cabrita remeteu decisões para o conselho de ministros da próxima quinta-feira, mas deixou desde já o caminho traçado: ouvidos os técnicos e os autarcas, a situação epidemiológica nestas freguesias evoluiu pela positiva nas últimas semanas e, no entender dos especialistas, já não há razões para manter medidas especiais nas 19 freguesias que no início do mês estavam no vermelho.

Eduardo Cabrita adiantou que no início do mês, quando o Governo decidiu três estados de alerta distintos no país, os concelhos de Amadora, Loures, Odivelas, Sintra e Lisboa, onde foram sinalizadas as freguesias com mais casos, registavam uma média de 350 a 400 novos casos por semana, números que baixaram para quase metade na última semana, em que se registaram 170 novos casos.

Apesar da evolução claramente positiva, Eduardo Cabrita defendeu que não se pode "baixar a guarda" e que o objetivo é garantir um agosto seguro e que ao mesmo tempo permita planear o recomeço do ano letivo. Assim, as equipas multidisciplinares vão manter-se no terreno e a proposta de autarcas e peritos ao Governo é que se mantenha o estado de contingência na área metropolitana, mantendo-se os horários mais limitados de fecho do comércioàs 20h e supermercados às 22h, proibição de consumo de álcool na via pública e ajuntamentos limitados a 10 pessoas – nas 19 freguesias, estavam até aqui limitados a cinco pessoas. Por outro lado, vai manter-se a intervenção das equipas multidisciplinares que vão a casa de pessoas infetadas com elementos da saúde pública mas também Segurança Social e Proteção Civil, para assegurar que as famílias têm condições para cumprir a determinação de isolamento profilático.

Equipas alargadas a Cascais e Oeiras

Em entrevista ao SOL no último fim de semana, o coordenador do gabinete de crise da covid-19 em Lisboa, Rui Portugal, já tinha adiantando que havia condições técnicas para alívio das medidas em Lisboa, onde a situação requer ainda monitorização uma vez que, apesar do abrandamento de casos, continua acima do patamar dos 20 novos casos por 100 mil habitantes quer a sete dias, quer a 14 dias.

O responsável adiantou ao SOL que Sintra se mantém o concelho com mais novos casos, tendo havido uma migração para as freguesias mais orientais como Algueirão-Mem Martins de um primeiro foco mais na zona de Queluz, mas no cômputo geral a situação melhorou em todos os concelhos. O resultado é em muito atribuído à intervenção das equipas multidisciplinares, criadas no final de junho e que desde então contactaram com mais de 6000 pessoas. Além de sinalizarem necessidades alimentares, têm reportado às autarquias situações em que as famílias precisam de ajuda financeira para pagar contas e rendas. O número de pessoas infetadas incontactáveis baixou de mais de 100 diariamente para cerca de 40, indicou ainda Rui Portugal, dando nota de que nas próximas semanas os concelhos de Cascais e Oeiras deverão também passar a ter intervenção de equipas multidisciplinares.

Ontem, na conferência de imprensa da DGS, a ministra da Saúde indicou que a incidência de covid-19 nos últimos sete dias se situou nos 14,9 novos casos por 100 mil habitantes, sendo de 33,8 casos por 100 mil habitantes numa janela temporal de 14 dias – o critério que tem sido usado nas comparações internacionais. Portugal continua acima da média europeia, mas agora com melhor cenário do que há um mês, ao passo que a epidemia se agravou em Espanha, França e Reino Unido. No último relatório semanal do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças, publicado este fim de semana, é sinalizado o aumento de casos na Bélgica, Bulgária, República Checa, França, Luxemburgo, Roménia, Espanha e Reino Unido. Portugal não está na lista, mas é assinalado que o país tem o quinto registo mais elevado de testes por habitante, só atrás de Dinamarca, Reino Unido, Irlanda e Luxemburgo. Por outro lado, o ECDC assinala também uma tendência de diminuição da mortalidade relacionada com a covid-19.

Ontem o boletim da Direção Geral da Saúde atualizou os dados relativos a casos confirmados por concelho, o que há algumas semanas acontece apenas à segunda-feira. Nos últimos sete dias, o concelho de Sintra foi o que registou mais novos casos (209), o que compara com 257 na semana anterior. Segue-se o concelho de Lisboa, com 168 novos casos, ligeiramente acima dos 156 da semana anterior. Os restantes concelhos da AML estão agora abaixo dos 100 novos casos semanais, sendo que é preciso ter em conta que nestes dados da DGS entram apenas confirmações feitas pelos médicos na plataforma SINAVE e não a totalidade dos casos notificados pelos laboratórios. Dos municípios que não estavam em situação de calamidade e agora passarão a ter mais intervenção, Cascais é o que regista mais novos casos: 80 na última semana, ainda assim também menos 10 que na semana anterior.