São a geração nascida no ano da pandemia e, quando forem mais crescidos, terão ainda mais histórias do que o habitual para ouvir: como os pais ficaram em casa semanas antes para evitar o vírus, como só estiveram com os avós, família e amigos, ao vivo e a cores, semanas ou até meses depois de verem a luz do dia. Como só conheceram o colo do pai alguns dias após o nascimento, nos casos em que não houve permissão para acompanhante na sala de partos ou visitas durante o recobro. Como a primeira imagem que tiveram da cara da mãe foram dois olhos e uma máscara. Nos primeiros seis meses do ano nasceram em Portugal 42 149 crianças, mais 11 do que em igual período do ano passado, uma primeira quantificação dos bebés 2020 fornecida ao i pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa). Trata-se dos bebés estudados no programa de rastreio neonatal, o teste do pezinho, pelo que não são ainda números fechados sobre a natalidade. Ainda assim, mostram uma tendência de estabilização, depois de, no ano passado, o número de nascimentos também não ter descolado. Se há quem já tenha apontado para a hipótese de um baby boom mais para o final do ano, fruto dos meses de confinamento, não há uma ideia geral sobre se há mais ou menos gravidezes do que no ano passado. E o futuro demográfico do país, que já não era muito auspicioso, parece agora ainda mais incerto.
Segundo os dados disponibilizados ao i pelo Insa, janeiro (8043) e março (7182) foram os meses com mais recém-nascidos estudados pelo programa de rastreio neonatal. Todos os anos há variações mas, habitualmente, é no mês de setembro que nascem mais bebés. Em termos de distribuição geográfica também não há grandes alterações: os distritos de Lisboa (12 478) e Porto (7707) totalizam o maior número de nascimentos, com quase metade dos nascimentos registados no país. Em Lisboa há, no entanto, uma quebra em relação aos primeiros seis meses do ano passado, enquanto no Porto houve um ligeiro aumento. Em terceiro lugar no total de recém-nascidos nos primeiros seis meses do ano surgem Braga (3283) e, depois, Setúbal (3191), distritos que costumam disputar o terceiro lugar no pódio dos nascimentos. Em Braga, os nascimentos aumentaram e em Setúbal diminuíram. Bragança foi o distrito onde nasceram menos bebés no primeiro semestre (296). É também o distrito onde se regista a maior quebra face aos primeiros seis meses do ano passado (-9,2%). Os nascimentos diminuíram também em Portalegre, que ocupa o penúltimo lugar da tabela, com 298 recém-nascidos nos primeiros seis meses do ano. Na Guarda, que se mantém o terceiro distrito com menos nascimentos, houve, no entanto, melhorias: nasceram 350 bebés, mais 37 do que no primeiro semestre de 2019.
Bebés do confinamento? Esperar para ver
No balanço geral, nos primeiros seis meses do ano houve um aumento de 0,3% nos nascimentos. Sem dados definitivos, a informação sobre o teste do pezinho, que é feito por quase 100% dos bebés nos primeiros seis meses de vida, aponta para uma estabilização, isto numa altura em que Portugal ainda tenta recuperar da quebra de natalidade associada à última crise económica. Em 2014 atingiu-se um mínimo histórico de 82 613 nascimentos em Portugal, dos quais 82 367 filhos de mães residentes em Portugal e 246 de mães portuguesas residentes no estrangeiro. A quebra na natalidade, que já se vinha notando nos anos anteriores, acelerou logo em 2012, um ano depois da intervenção da troika, com os nascimentos a cair de 96 mil para 90 mil. Desde então, os nascimentos aumentaram, mas gradualmente e com alguns retrocessos. A natalidade subiu em 2015 e 2016, tornou a baixar em 2017, subiu em 2018 e tornou a baixar ligeiramente no ano passado, ainda aquém dos nascimentos pré-crise.
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