Um longo caminho até um cenário de imunidade de grupo

Um longo caminho até um cenário de imunidade de grupo


Inquérito serológico nacional apurou que 2,9% dos portugueses já terão estado infetados. Extrapolando, dá 300 mil infeções, seis vezes mais do que as diagnosticadas.


Por cada caso diagnosticado de covid-19 em Portugal, outros cinco podem ter passado despercebidos. Os resultados do inquérito serológico nacional já foram concluídos e apuraram uma prevalência de anticorpos em 2,9% da amostra de 2300 participantes, representativa da população. Extrapolando, significaria que cerca de 300 mil portugueses estiveram infetados com o vírus até à primeira semana de julho, quando terminaram as colheitas.

São seis vezes mais do que os casos confirmados no país, em linha com o que já tinham apontado outros estudos parcelares feitos em Portugal e lá fora, que confirmaram um número elevado de infeções assintomáticas ou sintomatologia ligeira, que não chegaram a procurar serviços de saúde ou a ser testados.

Os resultados do inquérito conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que o i apurou, foram já alvo de uma primeira apresentação junto da comissão de acompanhamento do inquérito e deverão ser apresentados integralmente na próxima semana, discriminando por exemplo a prevalência de anticorpos por faixa etária ou ocupação. Colocam no entanto Portugal ainda longe do patamar que os investigadores têm apontado como necessário para haver um efeito de proteção de grupo a partir da infeção natural, o que antes de existir uma vacina poderia promover o regresso à normalidade sem as atuais intervenções que visam diminuir os contactos próximos. O patamar tem sido colocado nos 60% da população infetada, mas já houve grupos a sugerir um patamar inferior. Ainda esta semana investigadores do departamento de zoologia da Universidade de Oxford sugeriram, uma vez mais num artigo publicado online, e não revisto ainda por pares, que poderá bastar um patamar de 20% se parte da população for resistente ao vírus ou tiver algum tipo de imunidade relacionada com a infeção cruzada com os outros coronavírus que circulam habitualmente na população, uma ideia que também já tinha sido defendida pela investigadora portuguesa Gabriela Gomes. De uma forma ou outra, o caminho até esse patamar parece estar ainda nos primeiros passos.

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