Parabéns ao Governo, parabéns a Portugal e parabéns à Europa


E Portugal, o que ganha com o acordo? Qualquer coisa como 18 milhões de euros por dia até 2029. Repito: ao nosso país chegarão, diariamente, 18 milhões de euros. Com os cumprimentos de Bruxelas.


Quando as gerações vindouras olharem para trás, vão ter orgulho do que os líderes europeus conseguiram esta semana. Estes são dias para a história. Pelo menos para todos os que, como o autor destas linhas, são acérrimos defensores da Europa e do que ela representa em termos de direitos, liberdades e uma ideia comum de prosperidade solidária.

Chegou ontem ao fim a maratona negocial de cinco dias no Conselho e os nossos líderes estiveram à altura das responsabilidades. Demoraram, mas estiveram. A cura económica para a pandemia vale 1.82 biliões de euros. É com esta bazuca que os povos da Europa vão refazer as nossas sociedades e reconquistar o nosso modo de vida no pós-pandemia.

O comboio de zeros é importante para voltarmos a recuperar a normalidade. Mas, tão ou mais importante do que isso, foi a Europa ter-se superado e dado uma inequívoca prova de vida e resiliência. Este Conselho marca uma viragem no sentido do reforço da união política, económica e social da Europa. Não chamar “obrigações europeias” ou “eurobonds” ao mecanismo de financiamento europeu junto dos mercados é um preciosismo sem o qual podemos bem viver.

Tantos foram os obituários escritos à UE, tantos foram os ataques que lhe foram disferidos – por inimigos declarados daquilo que este nosso espaço comum representa – e, porém, 27 estados nação, 27 identidades e interesses legítimos (alguns dos mais antigos da humanidade) puseram-se de acordo para combater a pandemia económica e social que vêm na pegada da pandemia de saúde pública.

Um acordo que serve portugueses e holandeses, alemães e gregos, polacos e italianos. Centenas de milhões de cidadãos europeus, no mesmo barco. Não vale a pena cantar a vitória de uns à custa de outros. Ganhámos todos porque ganhou o projeto de solidariedade europeia – ainda que sejam preocupantes os cortes significativos na Defesa (que visão estratégica há, afinal para a Europa?) e na Investigação e Desenvolvimento (queremos ou não que a Europa seja líder no século XXI?)

Ontem ninguém ficou para trás. E, como tal, hoje já ninguém tem dúvidas sobre quem serve e para que serve a Europa. Ela serve para isto: para manter vivo este espaço de tolerância, democracia e humanidade.

As contas estão mais ou menos feitas e, de forma simples, a resposta europeia à crise tem dois instrumentos: o Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros, com uma parcela de 390 mil milhões de euros em subvenções e outra de 360 mil milhões em empréstimos; e o Quadro Financeiro Plurianual com uma dotação global de 1.074 biliões de euros até 2029. O poder de fogo combinado destes dois instrumentos são os tais 1.82 biliões de euros.

E Portugal, o que ganha com o acordo? Qualquer coisa como 18 milhões de euros por dia até 2029. Repito: ao nosso país chegarão, diariamente, 18 milhões de euros. Com os cumprimentos de Bruxelas. Dito de outro modo, um bolo total de 56 mil milhões (15.3 mil milhões em subvenções + 10.8 mil milhões em empréstimos, oriundos do Fundo de Recuperação, 29.8 mil milhões do Quadro Financeiro Plurianual) que servirá para relançar e reformar a economia portuguesa.

António Costa conseguiu o que pode ser um bom acordo para o nosso país – independentemente das comparações que possam ser feitas com outros países, e que até nem nos são favoráveis. O primeiro-ministro esteve, desde a primeira hora, do lado certo da história nesta negociação.

Mas o que ficará para a história não é isso. O que importa, o que é politicamente decisivo é saber como é que António Costa vai usar esta milionária mesada europeia para do bom acordo fazer boa política pública.

Ao contrário do que aconteceu na durante a intervenção da troika, somos donos do nosso destino com o dinheiro dos outros. Pese embora sejam impostas regras que vão muito para lá das que foram impostas pela troika na crise anterior. Ninguém nos exigirá austeridade a troco de empréstimos – quanto mais de subvenções. Logo, estamos por nossa conta. Todas as opções políticas são da total e exclusiva responsabilidade do Governo português. E porque a responsabilidade é grande, e com a extrema-esquerda não se pode contar em matérias europeias (ainda que aqui se trate do desporto preferido de bloquistas e comunistas, gastar dinheiro), era desejável e recomendável que o PS abrisse portas a um pacto de regime com o PSD para criar uma agenda transformadora para a década. Do lado do PSD, a cooperação e o sentido de Estado tem sido total. O maior partido da oposição não pode ficar de fora do projeto de reprogramação da economia nacional para as próximas décadas, sob pena de, a cada eleição, se voltar a discutir a estratégia para o país. Também não pode o PS apresentar o documento de António Costa Silva como uma panaceia. Esse documento é um ponto de partida para a discussão de uma determinada visão para o país. Visão que tem de ser contrabalançada com o espírito e princípio das políticas públicas do PSD.

Estão assim criadas, felizmente, todas as condições para que a economia se erga rapidamente. Para que se voltem a criar empregos. Para que se alivie a carga fiscal às famílias e empresas. Para que, por fim, se criem condições para o país crescer sustentadamente durante uma década – ou para além disso.

Este é o tempo em que, como comunidade, faremos escolhas decisivas. Deveríamos todos ser incluídos nelas. Assim queira o Governo mobilizar o país para uma estratégia nacional e bipartidária.

 

Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira