As trovoadas da madrugada de segunda-feira para terça-feira fizeram-se ouvir sobretudo nas regiões Centro e Lisboa e Vale do Tejo mas, apesar da curiosidade, são normais para esta época. Quem o garante é Paula Leitão, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. “As trovoadas são normais nesta altura. Aliás, uma das situações características para a trovada é precisamente o tempo quente. É perfeitamente normal”, disse ao i.
Ainda assim, o fenómeno não passou despercebido e as redes sociais encheram-se de fotografias e de comentários. Quase todos no mesmo sentido: “Nunca tinha visto uma trovoada assim”. Mas será bem assim? Paula Leitão diz que não. “Houve realmente zonas onde a trovoada foi muito forte durante a noite. As situações de trovoada têm uma distribuição geográfica muito irregular. Às vezes as pessoas perdem rapidamente a memória e é preciso não esquecer que a maioria das trovoadas acontece durante a noite”. Este fator leva a que as pessoas possam lembrar-se menos mas a verdade é que trovoadas com esta intensidade não são assim tão anormais.
“O facto de alguém, por exemplo, do distrito de Castelo Branco, dizer que nunca se lembra de uma trovoada assim, não quer dizer que não tenha havido uma trovoada equivalente há um ou dois anos porque por acaso até houve. Aqui há dois ou três anos houve uma trovoada brutal em Castelo Branco. Penso que bastante mais intensa que esta”, lembra. E não é caso único: “Faz por exemplo duas ou três semanas que houve um trovoada muitíssimo forte na região de Viseu e Guarda que possivelmente a pessoa que hoje disse que nunca tinha visto uma coisa assim nem tinha reparado”.
Focos de incêndio
Portugal esteve sob aviso amarelo devido ao tempo quente e à trovoada. Na madrugada de segunda-feira para terça-feira, foram registadas mais de sete dezenas de ocorrências, principalmente em Lisboa, Santarém, Setúbal e Castelo Branco. E alguns estabelecimentos registaram prejuízos, por exemplo nas coberturas. Alguns estores também não resistiram à chuva. Foram ainda registados mais de uma dezena de incêndios. O anúncio foi feito pelo comandante da Proteção Civil, Belo Costa que avança que “tudo leva a querer que terá a ver com queda de raios”. Castelo Branco, Santarém e Beja foram os distritos mais afetados.
A meteorologista do IPMA explica o risco: “Quando há descargas eléctricas, é possível que uma árvore, folhas ou ervas fiquem a arder. Normalmente as trovoadas estão associadas a precipitação, chuva, aguaceiros e por isso, mesmo que haja início de um foco de incêndio com uma descarga elétrica, a seguir chove e a chuva apaga esse foco de incêndio”, diz Paula Leitão. No entanto há situações excecionais. “O que aconteceu a noite passada foi que à superfície, junto ao solo, a massa de ar, o ar que nós respiramos, é tão quente e seco que qualquer precipitação que se tenha formado, ao descer da nuvem em direção ao solo, acaba por evaporar e a água não chega ao solo”. Nesse caso, o incêndio tem condições para se desenvolver uma vez que o chão “está mesmo muito seco”. Estas situações não costumam ser normais em Portugal mas podem acontecer. “Isso foi uma situação que no nosso clima é menos frequente mas que às vezes acontece e pode realmente ter havido incêndios iniciados por descargas elétricas”, justifica Paula Leitão. Depois de esta terça-feira ter tornado a registar-se forte instabilidade, o tempo deverá melhorar, sobretudo a partir de sexta-feira.
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— Rui Pina (@camandro) June 21, 2018