O anjo e o morcego


De repente, Alcácer pegou fogo e tudo em meu redor começou a arder. Até ao horizonte, o calor é tão bruto que uma fita transparente embaciou a vista sobre os arrozais, que este ano não medram em frente à minha varanda, do lado de lá do Sado.


Os mosquitos caem mortos, sem energia para nos chuparem o sangue. À noite é igual. Uma brisa que ferve estala-nos a pele, ouço um som de pedra que se parte, e deve ser a fachada da Igreja da Misericórdia que acabou de rachar. Há vozes que entram no rio e ficam suspensas sobre as águas: no Local da Parvoíce, alguns teimam em combater a canícula à custa de conversas e de cerveja.

Os pássaros mantêm-se em voo baixo, as gaivotas baloiçam na corrente como barquinhos de papel que refletem a luz turva da lua, a Terra parece que respira devagar, com custo, dilatando-se e dilatando-nos da forma mais simples que a dilatação térmica nuclear ordena. Sinto os pulmões do universo abrirem os alvéolos na urgência de mais ar fresco.

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O anjo e o morcego


De repente, Alcácer pegou fogo e tudo em meu redor começou a arder. Até ao horizonte, o calor é tão bruto que uma fita transparente embaciou a vista sobre os arrozais, que este ano não medram em frente à minha varanda, do lado de lá do Sado.


Os mosquitos caem mortos, sem energia para nos chuparem o sangue. À noite é igual. Uma brisa que ferve estala-nos a pele, ouço um som de pedra que se parte, e deve ser a fachada da Igreja da Misericórdia que acabou de rachar. Há vozes que entram no rio e ficam suspensas sobre as águas: no Local da Parvoíce, alguns teimam em combater a canícula à custa de conversas e de cerveja.

Os pássaros mantêm-se em voo baixo, as gaivotas baloiçam na corrente como barquinhos de papel que refletem a luz turva da lua, a Terra parece que respira devagar, com custo, dilatando-se e dilatando-nos da forma mais simples que a dilatação térmica nuclear ordena. Sinto os pulmões do universo abrirem os alvéolos na urgência de mais ar fresco.

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