“Numa parte significativa dos doentes não se sabe onde contraíram a infeção”

“Numa parte significativa dos doentes não se sabe onde contraíram a infeção”


Diretor do serviço de infeciologia do Hospital Curry Cabral explica por que considera que situação em Lisboa está descontrolada. Desaconselha manifestações e pede mensagem forte à população.


O alerta do diretor do serviço de infecciologia do Hospital Curry Cabral de que a situação epidemiológica em Lisboa está descontrolada motivou ontem perguntas ao Governo e ao Presidente da República, que recusaram um cenário de descontrolo na região. A primeira resposta foi dada pela secretária de Estado da Saúde, Jamila Madeira, no briefing da Direção Geral da Saúde, onde assegurou que a situação não se encontra fora de controlo. Seguiu-se a mesma garantia de Marcelo Rebelo de Sousa no final da reunião técnica no Infarmed. Ao i, Fernando Maltez sublinha que não quis gerar alarme social mas mantém o alerta e admite que há sinais de que a infeção está neste momento enraizada na comunidade, o que pode explicar o aumento de surtos. O médico alerta que o risco de fazer concentrações neste momento é muito elevado e defende uma mensagem mais persuasiva à população.

Disse à Renascença que a situação em Lisboa está descontrolada, não sendo no entanto dramática e podendo ser revertida com medidas de restrição. Houve depois a garantia de que a situação está sob controlo. O que o levou a fazer o alerta?

Em primeiro lugar nunca pretendi com essas declarações ser sensacionalista ou causar alarme na opinião pública. De qualquer forma, os números em Lisboa, de há umas semanas a esta parte, estão bastante elevados, ao contrário do que acontece no resto do país, em que a situação está calma e esse número teima em não descer. Esse número total de novos casos tem sido parcialmente explicado por surtos que têm surgido em determinados bairros ditos problemáticos, no setor da construção civil, em lares de idosos, mas se somarmos esses casos não justificam o número final que se atribui para Lisboa e Vale do Tejo, o que significa que há mais casos para além desses. No meu serviço verifico que uma parte significativa dos doentes não têm ligação epidemiológica. Não têm contacto com nenhum doente que se soubesse que estava infetado e não se sabe portanto onde contraíram a infeção. Isso faz pensar que a infeção está enraizada e estabelecida na comunidade. Quando encontramos doentes sem ligação epidemiológica é um sinal de que a situação não está controlada.

Qual é a percentagem de casos desses no seu serviço?

Diria que pelo menos 50% dos doentes que tenho no meu serviço não têm ligação epidemiológica conhecida a nenhum doente infetado.

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