João Cotrim Figueiredo. “Não tenho dúvidas  de que um dia seremos um grande partido”

João Cotrim Figueiredo. “Não tenho dúvidas de que um dia seremos um grande partido”


Líder da Iniciativa Liberal assume que vai empenhar-se no lançamento de uma candidatura contra Marcelo. 


João Cotrim Figueiredo foi eleito há seis meses para a liderança da Iniciativa Liberal e acredita que o partido tem condições para crescer. Distancia-se do PSD e do Chega e garante que só aceitaria apoiar um Governo com disponibilidade para implementar ideias liberais.

Foi eleito deputado há menos de um ano por um novo partido. O que foi decisivo para atingir essa meta nas últimas eleições legislativas?
Gostava de acreditar que foi a forma como as ideias foram recebidas pelas pessoas. Fazia falta em Portugal um partido liberal. Não faz sentido Portugal ser a única democracia liberal e consolidada na Europa que não tenha um partido assumidamente liberal.

Porque é que demorou tanto tempo a aparecer um projeto com estas características?
O nosso sistema partidário tem origem numa altura pós-revolucionária muito específica. A forma de constituição dos partidos obedeceu a uma lógica diferente e, portanto, os partidos acabaram por ser tornar uma espécie de frentes com muitas fações internas. Sempre houve liberais em Portugal, mas estão espalhados por vários partidos. Nunca houve espaço para haver um partido liberal.

O que é que mudou?
Foram as quartas ou quintas eleições legislativas em que Portugal se mantinha com um nível de desenvolvimento inferior ao que foi conseguido por países com a mesma dimensão do que nós. Ano após ano, desde o início do século, Portugal tem vindo a ser ultrapassado e há muita gente que se começa a interrogar sobre isto. Não há uma resposta lógica. Esses povos não são mais trabalhadores do que os portugueses. Gostaríamos que as pessoas acreditassem que é possível subir na vida a trabalhar. 

E não é?
Isso em Portugal não acontece. Quando se diz que em Portugal o elevador social não funciona é disto que estamos a falar. Não é fácil e nalguns momentos da nossa história recente tem sido impossível subir na vida a trabalhar. Isto é uma fonte de desesperança muito cruel para as novas gerações. As novas gerações não vão perdoar estes governos, incluindo este, pelo facto de não terem conseguido gerar oportunidades que outros países geraram partindo de bases muito parecidas e alguns mais pobres do que nós.

A que atribui o fraco crescimento económico nas últimas décadas?
A um conjunto de fatores, mas se tivesse que isolar um é o excessivo papel do Estado na economia. As pessoas não têm oportunidades porque o Estado já está a fazer coisas que podiam ser feitas pelo setor privado ou porque o nível de impostos é proibitivo. Dou-lhe um exemplo: nós tivemos na Assembleia da República, nas últimas semanas, uma discussão totalmente bizarra sobre se os sócios-gerentes mereciam o mesmo tipo de proteção de qualquer outro trabalhador que tivesse ficado sem qualquer rendimento. Durante sete semanas tivemos esta discussão. Quem lhe passar pela cabeça abrir o seu pequeno negócio e tornar-se sócio-gerente fica a saber que o país não valoriza essa função. Isto repete-se centenas de vezes ao longo do ano. São sinais de que não respeitamos o trabalho e a capacidade de empreender. Portugal tem perdido consecutivamente oportunidades e receio que esta crise possa ser mais um momento em que perdemos um comboio do desenvolvimento. Ou seja, as pessoas perceberam, nas últimas eleições legislativas, que algo está errado à sua volta. Nós não temos menos capacidade de trabalho nem menos qualificações que outros países. É o sistema que está à nossa volta que não nos deixa ser tão bons ou melhores do que aqueles com quem nos devíamos estar a comparar.