Com a expetativa de que os casos na Grande Lisboa comecem a diminuir, a ministra da Saúde afastou esta segunda-feira um cenário de um novo confinamento a nível nacional, defendendo daqui para a frente uma estratégia de precisão. Quase um mês e meio depois do início do desconfinamento, que esta segunda-feira ficou marcado pela reabertura dos centros comerciais na Grande Lisboa, mas também de alguns ATL, Marta Temido explicou os critérios que poderão levar a medidas mais assertivas, afirmando, no entanto, que para já não se antevê venha a ser necessário.
“Se, durante vários dias, o RT se mantiver acima de 1, se o número de óbitos voltar a situar-se em números como aqueles que tivemos no passado, em que chegámos a ter várias dezenas de óbitos por dia, se os serviços hospitalares e cuidados primários começarem a registar uma maior procura, o que neste momento não se está a verificar, poderemos pensar em medidas de maior confinamento ou de aperto em determinadas áreas, porque não vale a pena estar a aplicar medidas generalistas”, disse Marta Temido, acrescentando mesmo que esta é uma das lições dos últimos meses: “Se há algo que já aprendemos com esta pandemia é que não vale a pena estar a aplicar medidas generalistas quando os focos são muito específicos e concretos. Temos de encontrar soluções que atendam a esses casos”, disse.
É a estratégia que tem estado a ser seguida em escolas e em empresas onde são detetados casos de covid-19, exemplificou Marta Temido. “Temos tido casos de alunos que testam positivo em determinadas turmas – o que se opta é por testar a turma e pôr os meninos em casa. Temos encontrado casos positivos em determinadas áreas de atividade – rastreia-se a entidade e coloca-se em confinamento quem precisa de estar em confinamento, acompanhando-os no domicilio, com apoio alimentar, etc. Neste momento, todos os países caminham cada vez mais para medidas de saúde pública de precisão e não tanto de mais confinamento, até por uma razão muito simples: precisamos de lidar com uma pandemia que tem efeitos diversos, designadamente económicos, que no longo prazo também têm efeito na saúde na população, e não nos podemos esquecer disso”.
Com a estratégia traçada e o novo gabinete regional de supressão da covid-19 na região de Lisboa no terreno, Marta Temido adiantou que, nos últimos dias, os novos casos confirmados já incluem 93% de 731 casos positivos detetados nos rastreios no setor da construção civil e trabalho temporário que tiveram lugar entre 31 de maio e 6 de junho. Segundo o i apurou, uma parte significativa dos 300 novos casos confirmados esta segunda-feira – o pior registo a uma segunda-feira desde 20 de abril – dizem respeito a casos detetados nesses rastreios já há mais de uma semana. Ainda assim, geralmente, ao fim de semana existem menos diagnósticos, o que, combinado com o facto de na semana passada ter havido dois feriados, com laboratórios fechados, poderá levar a um aumento das notificações durante esta semana. Para já, os boletins da DGS revelam que Amadora, Loures, Sintra, Lisboa e Odivelas se mantêm como os concelhos que registam mais novos casos.
Desde o início do desconfinamento, a 4 de maio, foram detetados na região de Lisboa 8992 casos, ao passo que na região Norte foram detetados 1956. Os casos detetados na região de Lisboa desde o início do desconfinamento já superaram mesmo os que tinham sido diagnosticados até ao levantamento das restrições (6136), tendo-se esbatido a diferença para a região Norte, que nos primeiros dois meses da epidemia foi o epicentro da covid-19 no país – e onde houve também mais idosos afetados e mais mortes. Na região Centro registaram-se desde o início do desconfinamento 414 casos; no Alentejo, 69; e no Algarve, 66.
O Governo e a DGS têm considerado que a situação epidemiológica em Lisboa não está relacionada com o desconfinamento, apontando para um desfasamento regional da epidemia. Também ontem foi afastada a ligação com o uso de transportes públicos. O último cálculo para Portugal do RT, o indicador que mede o índice de transmissão do vírus, situou-se na segunda semana de junho em 0,97, indicou Marta Temido, sendo esse também o valor calculado para Lisboa, depois de várias semanas acima de 1.
A manter-se a evolução, a ministra da Saúde apontou a retoma de consultas, exames e cirurgias não urgentes, que foram de novo suspensos na Grande Lisboa, para o início da próxima semana. O número de doentes internados com covid-19 nos hospitais tornou ontem a aumentar: estavam internados nos hospitais 431 doentes, 70 em cuidados intensivos. A par do controlo dos surtos em Lisboa, a preocupação, também do gabinete de supressão da epidemia, é o próximo inverno. “Estamos a trabalhar não só com os ventiladores que chegaram, mas também com o reforço de camas nos cuidados intensivos”, garantiu Marta Temido.