As mortes diminuem, mas é preciso esperar pelos próximos dias, uma vez que os óbitos registados não são o reflexo das infeções recentes. A explicação foi dada este domingo pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, durante a conferência diária de análise ao boletim epidémico. “Há um abrandamento, mas que reflete infeções ocorridas já em dias passados”, sendo por isso “deixar passar mais alguns dias” para perceber a evolução do surto sobretudo na região de Lisboa. É, aliás, a região de Lisboa e Vale do Tejo que voltou a registar o maior número de casos positivos de covid-19.
Este domingo, o boletim mostrava mais 227 casos em Portugal e 91% desse total diz respeito à região de Lisboa e Vale do Tejo. “Vamos ver como é que esta questão de Lisboa e Vale do Tejo se reflete na mortalidade. Apesar de sabermos que muitos destes doentes são jovens e saudáveis, também ainda temos alguns lares com casos”, explicou Graça Freitas. António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde, avançou que existem casos positivos em 246 estruturas residenciais para idosos, “o que representa menos de 10% do universo de lares do país”.António Lacerda Lopes referiu ainda durante a conferência que a linha de apoio psicológico continua a funcionar, tendo até agora atendido cerca de 16 mil chamadas – 1500 de profissionais de saúde.
Restrições e imunidade
O médico português Nelson Olim, consultor da WHO Academy, da Organização Mundial de Saúde (OMS), explicou este fim de semana que Portugal pode ter de enfrentar uma segunda vaga da epidemia nas mesmas condições em que se viveu a primeira. “Neste momento, há um certo exagero nas medidas tomadas do ponto de vista do distanciamento, das máscaras, das luvas e da circulação dentro de espaços. A questão – e é preciso ter noção do preço a pagar – é que estamos a atrasar em muito o adquirir da imunidade de grupo que nos iria proteger a todos”, disse à Lusa o médico cirurgião.
Nelson Olim referiu que as restrições estão a atrasar a imunidade de grupo e, por isso, caso se confirme uma nova vaga, vai existir uma parte da população que ainda não tem imunidade, “portanto, uma população que se vai comportar mais ou menos como foi atingida há dois ou três meses”. “A imunidade ganha-se pela exposição a pequenas quantidades do vírus e esta é a forma como a espécie humana evoluiu nos últimos milhares de anos”, acrescentou o consultor da OMS.
Máscaras descartáveis no lixo doméstico
O assunto não é novo e João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, já tinha alertado há duas semanas, a propósito de uma audição na Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, para a necessidade de usar máscaras reutilizáveis em substituição das máscaras descartáveis. Este material descartável não pode ser reciclado, sobretudo pelo risco de contaminação, sendo depositado em aterros.
Este fim de semana, o ministro responsável pela pasta do Ambiente voltou a apelar ao uso das máscaras reutilizáveis e à não reciclagem das descartáveis. “Independentemente de se usarem descartáveis ou não, há regras que se devem cumprir, e uma delas é a proteção do ambiente e, portanto, uma máscara descartável deve ir para o chamado lixo doméstico, não deve ir para o ecoponto, e nunca deve ser abandonada na via pública”, frisou este domingo Graça Freitas.