Que a luz não se apague

Que a luz não se apague


Num mundo perturbado a palavra ordem pode assustar. Associa-se frequentemente a palavra ordem a ditaduras e a tiranos, mas a ordem é muito mais.


Desde os primórdios da humanidade as diferentes civilizações têm olhado o sol tecendo considerações religiosas, filosóficas e científicas. Se é graças à sua luz e calor que há vida na terra é também por sua causa que a vida um dia se extinguirá.

Este astro começa por ser uma bola de hidrogénio que se vai apertando e aquecendo até atingir cerca de dez milhões de graus. Depois, entra numa reação com a fusão do hidrogénio e vive cerca de vinte milhões de anos neste estado. Até ao presente estima-se que tenha atingido aproximadamente metade da sua vida e por isso terá em média mais dez milhões de anos pela frente até que se venham a consumir os elementos químicos que o compõem. Mais tarde vai dilatar-se, depois de ter arrefecido e contraído, fase essa em que se transformará num gigante vermelho. É algures neste momento que se espera o fim da Terra.

Não deixa de ser curioso que os textos sagrados do Antigo Testamento tenham escolhido a luz como primeiro ato da criação e expressão da vontade de ordenar o mundo. Este princípio criador que vai do caos à ordem, arrola a necessidade de conferir lógica à Vida.

Num mundo perturbado a palavra ordem pode assustar. Associa-se frequentemente a palavra ordem a ditaduras e a tiranos, mas a ordem é muito mais. Por ordem entenda-se dispor as “coisas” no seu devido lugar. Não simplesmente porque uma vontade isolada o queira, mas porque a natureza e a vida se encarregam de dar um lugar para todo o existencial. Graças à ordem, o que se encontra em potência pode tornar-se Ato. Imagine-se uma árvore que se encontra em potência numa semente. Dir-se-á que está em potência porque ainda não é uma árvore. Se a semente for deitada à terra no tempo próprio, se for regada e se não for destruída, poderá chegar ao ato – ser uma árvore.

Toda a criação guarda um ritmo próprio e segredos de funcionamento, compete-nos descodificar e descobrir. A isto podemos chamar conhecimento. Este conhecimento é e deve ser libertador. Somente o ignorante pode ter medos e preconceitos; somente aquele que ainda não recebeu a luz continua a viver às escuras.

Educar significa precisamente transmitir conhecimento às gerações futuras de tal forma que estas possam, depois de o enriquecer, dar continuidade à transmissão. É assim que se evolui no tempo e na história. “Hoje melhores que ontem e amanhã melhores que hoje.”

Porque somos dotados de inteligência percebemos que ainda há, em potência, muito para dar à vida. A sociedade é o solo fértil onde nos podemos enraizar e crescer de tal modo que um dia possamos dar fruto. E porque “pelos frutos conhecereis as árvores”, seria bom que cada um de nós tentasse dar o melhor de si e perguntasse se já recebeu a Luz e qual o fruto que quer dar ao mundo.

Assim como sol, os homens e as mulheres têm o seu tempo de vida e por isso, dado que tudo tem uma Ordem, nenhum ser humano tem o direito de tirar a vida a outro ser humano. A vida não é uma luz que se apaga por vontade de alguém. É um Ato pleno em torno do qual todos giramos.

Professor e investigador