Manter os bares e discotecas fechados não impede os ajuntamentos. Na verdade, só os desvia para sítios não controlados, como se tem visto nos últimos tempos pela quantidade de festas ilegais, de aglomerações em postos de combustíveis ou de convívios em casas particulares que juntam mais de 20 pessoas.
“Há situações flagrantes espalhadas por Lisboa, e mais nos bairros históricos, que são as mercearias que, neste momento, estão a vender bebidas alcoólicas com esplanadas assim um bocadinho arranjadas à toa, sem licença de esplanada. Um bar é um sítio onde as pessoas bebem bebidas alcoólicas; então, uma mercearia que está a vender bebidas alcoólicas está a ser um bar, no fundo”, denunciou ao i Andreia Meireles, uma das proprietárias do bar Bairrus Bodega, no Bairro Alto, e representante do Grupo de Bares e Comerciantes da Misericórdia.
Além da venda de bebidas nas mercearias, “os quiosques e os restaurantes, que antes só eram restaurantes, agora também preparam cocktails e mojitos”, explicou Andreia Meireles, acrescentando que “nós não queremos que os outros não façam, nós queremos é poder fazer também”.
Quando a conversa é sobre desconfinamento, os bares e discotecas são vistos como o parente pobre da equação e o Governo continua em silêncio relativamente a esta questão. O assunto está a levar os proprietários à exaustão e as acusações são disparadas em todos os sentidos. Andreia Meireles explicou que já foram enviados pedidos e até sugestões para reabrir os espaços ao Presidente da República, ao primeiro-ministro, à Direção-Geral da Saúde e à Junta de Freguesia da Misericórdia. E nunca receberam qualquer resposta. “Andamos em modo de bola de pingue-pongue”.
Relativamente aos bares do Bairro Alto, por exemplo, os proprietários sugerem que sejam feitas esplanadas para garantir o distanciamento. “Os bares do Bairro Alto são quase todos arejados, com mais do que uma porta para a rua, com possibilidade de esplanada”, disse a representante do Grupo de Bares e Comerciantes da Misericórdia. O problema é que “a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia fechou-se em copas, não facilita, não dá esplanadas”, acrescentou a proprietária do bar que fechou há 90 dias.
Ao i, Carla Madeira, presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, garantiu que, além de a junta de freguesia não ter qualquer papel na decisão da abertura dos bares, não é possível dar licença de esplanadas a todos os estabelecimentos: “A nossa freguesia tem uma grande concentração de estabelecimentos, algumas ruas têm estabelecimentos porta sim, porta sim, e, portanto, não é possível responder positivamente a todos os pedidos de colocação de esplanadas”. Nas últimas semanas, foram feitos mais de cem pedidos e “o espaço público não permite responder positivamente a todos os pedidos que são feitos”, sendo preciso, por exemplo, eliminar todos os lugares de estacionamento, explicou Carla Madeira, acrescentando “que tem havido resposta, embora não seja a que todos gostariam de ouvir”.
Também Marques Mendes considerou este domingo que “o Governo devia ponderar” a reabertura de bares e discotecas, até porque estes espaços “fecharam as suas portas quando começou a pandemia, antes da decisão oficial”. “A proibição nunca é o grande caminho, a definição de regras é que é boa direção”, disse Marques Mendes no comentário semanal na SIC, acrescentando que as regras deveriam passar por “definir uma autorização condicionada, porventura com uma lotação mais reduzida, mais limitada, com regras e com fiscalização”.
Esta segunda-feira, cerca de 200 pessoas estiveram junto à Assembleia da República em protesto pela reabertura dos bares e discotecas. A Lisboa foram inclusive proprietários de bares situados noutros ponto do país, como Alcobaça, Mafra e Leiria.
Segundo a representante do Grupo de Bares e Comerciantes da Misericórdia, a manifestação correu bem e, depois desta, a próxima será, possivelmente, em protesto contra o silêncio da Junta de Freguesia da Misericórdia.
Há bares a alterar a atividade
Há empresários que denunciaram nos últimos dias as estratégias adotadas por alguns estabelecimentos. O que está a acontecer, dizem os donos da discotecas e bares, é que há proprietários que têm a licença de restauração e bebidas a alterar o CAE – identificação do tipo de atividade do espaço – para café, podendo assim ter as portas abertas. “O que eles estão a fazer é legal desde que o estabelecimento tenha condições para laborar enquanto restaurante. Mesmo que tenha sido um bar no passado, pode ser um restaurante agora”, explicou Andreia Meireles, que acrescentou que o que “interessa é ter uma licença de restauração e bebida e, a partir daí, pode-se fazer a tal manobra de acrescentar o CAE para abrir como petiscaria quando no passado era um bar, por exemplo”.
O que estão a fazer lá fora
Pela Europa, há países que decidiram abrir já as portas dos espaços de diversão noturna, ainda que com limitações. Em Espanha, as cidades que entraram já na fase 3 do desconfinamento começaram a abrir os bares e discotecas esta segunda-feira. Além do número limitado de pessoas que podem estar no interior dos espaços, os espanhóis estão a ocupar as pistas de dança com mesas e cadeiras. O objetivo é que seja cumprido o distanciamento social e, sentados, é mais fácil garantir o cumprimento dessa regra.
Já em Nijmegen, na Holanda, uma discoteca decidiu adaptar o convívio aos novos tempos. Sem autorização para abrir durante a noite, a discoteca Doornroosje decidiu, no sábado passado, fazer um evento em que 30 pessoas estiveram a dançar, sentadas, à frente do DJ. O objetivo é aumentar o número de pessoas já no próximo mês. Em França, o Governo decidiu manter encerradas as discotecas, pelo menos, até ao dia 21 de junho.