A consagração do projeto socialista


A eleição para Presidente da República está política e irreversivelmente tutelada pelo PS.


Este o cenário que talvez nem mesmo Marcelo Rebelo de Sousa teria imaginado, mas que foi deixando tecer à sua volta por quem cedo percebeu que em Belém residia a cobertura institucional à direita que faltava em São Bento, acabando por o Presidente da República ficar mais esteio deste Governo que o tripé partidário/parlamentar em que começou por assentar esta solução minoritária de Governo.

Estamos assim em 2020 como estivemos em 1992, na consensualidade partidária de apoios a uma recandidatura de espetro largo, reunindo, naquela época como hoje, o PS e o PSD e, tal como ontem, beneficiando quem está no poder executivo. 

O PS, com este gesto de renúncia a candidato próprio, aparece aos olhos dos portugueses como elemento de estabilidade, alargando a sua base de apoio, e as consequências políticas repetem-se…

O PSD, em 1992, recolheu muito eleitorado à esquerda para chegar à segunda maioria absoluta, por via do seu protagonismo nas presidenciais apoiando um candidato de esquerda; o PS, muitos dividendos está a colher de simpatia à direita, como mostram as sondagens, e, quando ainda em 2021 ou em 2022 interromper a legislatura para acertar contas com o eleitorado, pretende que se faça sentir em concreto a consequência positiva da proximidade ao candidato reeleito no primeiro trimestre do próximo ano.

E aqui termina a similitude de quadro antecipatório.

Porque o próximo mandato presidencial não servirá, com toda a certeza, para celebrar Marcelo Rebelo de Sousa como homem capaz de estender ao PSD o tapete que Soares estendeu a Guterres para tomar alternativa em 1995.

As coisas são o que são, e a verdade é que também em Belém, na Casa Civil, residia, ao tempo de Soares, um naipe de talentos políticos e não burocratas que pensavam politicamente a Presidência e não se continham, como hoje, na quase indiferença entre termos um Presidente da República eleito diretamente pelos portugueses com forte conteúdo político ou eleito pelo Parlamento, apenas como representante do Estado, em mero simbolismo pouco ou nada constitucionalmente substantivo.

Repare-se então no que nos espera.

Um líder partidário (A. Costa) que preenche o palco da política e, a cada dia que passa, destrona qualquer ditador sul-americano ou asiático quanto à presença no quotidiano das televisões.

Alguém que teve o talento de fazer do segundo maior partido do Parlamento (PSD) uma espécie de gabinete de estudos do PS, que soube colocar o Presidente da República tão próximo politicamente que, por vezes, um ministro de Estado não teria ação pedagógica tão intensa na explicitação das decisões do Governo e de quem incomoda o Governo (veja-se, p.e., a resposta ao Conselho das Finanças Públicas).

Alguém que estabeleceu condicionalidades à informação com os apoios sem regra nem norte, designadamente no privilégio a sociedades comerciais televisivas.

Alguém que passeia a impunidade política como práxis democrática, que afeta recursos preciosos a entidades falidas, bancos e TAPs, num país que continua a produzir e formar nas universidades cidadãos para emigrarem, deixando o território sem investimentos, empobrecido e imutável.

Alguém que mentiu aos portugueses quanto à realidade profunda da situação económica e financeira do país, anunciando durante cinco anos o contrário do que agora se sabe: contas públicas com maior dívida de sempre, desemprego no máximo, portugueses aos milhares nas novas “cantinas dos pobres”.

Portugal chegou a isto, e a eleição presidencial é a cereja no topo para o PS se eternizar no poder executivo.

Trata-se, então, de Portugal e a democracia necessitarem de mais que um candidato alternativo: alguém que recuse o domínio do Estado e da sociedade por um único partido, não permitindo o reforço da matriz destes quatro anos.

O objetivo é simples e patriota: unir Portugal contra o socialismo e esta cultura de obsoletismo do nosso tempo, em que as reformas parecem ser sempre adiáveis.

E daqui partir para construir uma nova realidade governativa, uma frente não socialista que ainda possa salvar a próxima década.

 

Covilhã, junho de 2020

A consagração do projeto socialista


A eleição para Presidente da República está política e irreversivelmente tutelada pelo PS.


Este o cenário que talvez nem mesmo Marcelo Rebelo de Sousa teria imaginado, mas que foi deixando tecer à sua volta por quem cedo percebeu que em Belém residia a cobertura institucional à direita que faltava em São Bento, acabando por o Presidente da República ficar mais esteio deste Governo que o tripé partidário/parlamentar em que começou por assentar esta solução minoritária de Governo.

Estamos assim em 2020 como estivemos em 1992, na consensualidade partidária de apoios a uma recandidatura de espetro largo, reunindo, naquela época como hoje, o PS e o PSD e, tal como ontem, beneficiando quem está no poder executivo. 

O PS, com este gesto de renúncia a candidato próprio, aparece aos olhos dos portugueses como elemento de estabilidade, alargando a sua base de apoio, e as consequências políticas repetem-se…

O PSD, em 1992, recolheu muito eleitorado à esquerda para chegar à segunda maioria absoluta, por via do seu protagonismo nas presidenciais apoiando um candidato de esquerda; o PS, muitos dividendos está a colher de simpatia à direita, como mostram as sondagens, e, quando ainda em 2021 ou em 2022 interromper a legislatura para acertar contas com o eleitorado, pretende que se faça sentir em concreto a consequência positiva da proximidade ao candidato reeleito no primeiro trimestre do próximo ano.

E aqui termina a similitude de quadro antecipatório.

Porque o próximo mandato presidencial não servirá, com toda a certeza, para celebrar Marcelo Rebelo de Sousa como homem capaz de estender ao PSD o tapete que Soares estendeu a Guterres para tomar alternativa em 1995.

As coisas são o que são, e a verdade é que também em Belém, na Casa Civil, residia, ao tempo de Soares, um naipe de talentos políticos e não burocratas que pensavam politicamente a Presidência e não se continham, como hoje, na quase indiferença entre termos um Presidente da República eleito diretamente pelos portugueses com forte conteúdo político ou eleito pelo Parlamento, apenas como representante do Estado, em mero simbolismo pouco ou nada constitucionalmente substantivo.

Repare-se então no que nos espera.

Um líder partidário (A. Costa) que preenche o palco da política e, a cada dia que passa, destrona qualquer ditador sul-americano ou asiático quanto à presença no quotidiano das televisões.

Alguém que teve o talento de fazer do segundo maior partido do Parlamento (PSD) uma espécie de gabinete de estudos do PS, que soube colocar o Presidente da República tão próximo politicamente que, por vezes, um ministro de Estado não teria ação pedagógica tão intensa na explicitação das decisões do Governo e de quem incomoda o Governo (veja-se, p.e., a resposta ao Conselho das Finanças Públicas).

Alguém que estabeleceu condicionalidades à informação com os apoios sem regra nem norte, designadamente no privilégio a sociedades comerciais televisivas.

Alguém que passeia a impunidade política como práxis democrática, que afeta recursos preciosos a entidades falidas, bancos e TAPs, num país que continua a produzir e formar nas universidades cidadãos para emigrarem, deixando o território sem investimentos, empobrecido e imutável.

Alguém que mentiu aos portugueses quanto à realidade profunda da situação económica e financeira do país, anunciando durante cinco anos o contrário do que agora se sabe: contas públicas com maior dívida de sempre, desemprego no máximo, portugueses aos milhares nas novas “cantinas dos pobres”.

Portugal chegou a isto, e a eleição presidencial é a cereja no topo para o PS se eternizar no poder executivo.

Trata-se, então, de Portugal e a democracia necessitarem de mais que um candidato alternativo: alguém que recuse o domínio do Estado e da sociedade por um único partido, não permitindo o reforço da matriz destes quatro anos.

O objetivo é simples e patriota: unir Portugal contra o socialismo e esta cultura de obsoletismo do nosso tempo, em que as reformas parecem ser sempre adiáveis.

E daqui partir para construir uma nova realidade governativa, uma frente não socialista que ainda possa salvar a próxima década.

 

Covilhã, junho de 2020