Para lá do rio, os arrozais não medram. Vai fazer-me falta todo aquele verde-esmeralda que me enchia os olhos e só encontrei nos planaltos do Laos, do Vietname e do Camboja. Dizem os sábios destas coisas que haverá menos mosquitos. É bom para a Dália e para o Fernando, que podem acrescentar uma esplanada ao Porto Santana e deixar-nos comer cá fora, ao sabor do sereno. É bom para mim que posso ficar cá fora, sentado, a ouvir, por entre o cantar dos pássaros da noite, as vozes dos mortos que todas as madrugadas me visitam.
Há duas espécies de mortos: os mortos autênticos, fechados nas suas prisões de madeira com terra por cima, e os mortos ainda vivos mas que morreram da minha vida. Estes últimos, não os ouço. Só os esqueço. Digo-lhes, como Álvaro de Campos: “Ergo-me ante o sol que desce e a sombra do meu desprezo anoitece em vós!” Com os primeiros, converso horas a fio. Amigos, irmãos, companheiros de momentos infinitos. O Paulo Pimenta, Gelateiro; o Zé Cura Mariano; o Luís Miranda, o Peran, o Guirish… Gente que não para de morrer e me deixa a vida juncada de mortos.
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