Passamos boa parte deste ano a travar a luta de uma geração. Lentamente, começamos a reconquistar as vidas que deixámos suspensas algures em meados de março. O mundo já não é o mesmo. Mas depende só de cada um de nós que não seja radicalmente diferente daquilo que conhecíamos. Com confiança e responsabilidade, podemos ir somando pequenas vitórias de liberdade e civilidade.
O desconfinamento é o tempo certo para avaliarmos as nossas respostas à crise e assim melhorarmos a capacidade de aplacar novas vagas. Cascais é por muitos considerada como uma das organizações que melhor resposta deu à crise da covid-19. Eu não sou muito de falar em sucessos quando se trata de pandemias – afinal, cada vida é uma vida e há certamente algumas para lamentar. Mas a verdade é que se conseguimos aproximar-nos de um cenário mais otimista, isso deveu-se a uma estratégia bem planeada que tentou colocar-nos sempre um passo à frente. Isso ainda hoje é notório: com o plano massivo de distribuição de máscaras a baixíssimo custo ou mesmo de forma gratuita, apoiado em produção própria que nos garante 5 milhões de máscaras por mês e um nível de autossuficiência sem paralelo em Portugal, ou com o programa de testes universais e gratuitos a cada um dos 214 mil habitantes do concelho.
Com as curvas de infeção achatadas e a pandemia em modo mais ou menos controlado, entramos num novo tempo. O tempo que não é de relaxamento nem de braços caídos. Estamos agora no tempo de iniciar os combates às pandemias económicas e sociais. Se, antes, o dever de todos era ficar em casa, agora, de cada um espera-se que, sem medos nem hesitações mas com precaução e cuidado, deite mãos à obra para recuperar o tempo perdido. Com uma energia e uma motivação redobradas, é dever de cada cidadão contribuir para promover a recuperação da economia, a reconstrução do tecido social e a regeneração da confiança cidadã. Só dessa forma os efeitos da cura não serão piores do que a doença.
Alguns primeiros-ministros e presidentes de câmara viveram situações de crise. Mas nunca nenhum passou por coisa assim. A curva de aprendizagem é íngreme e tem necessariamente de servir para bloquear as ondas de choque que se seguem: a pandemia económica e a pandemia social.
É neste contexto único na sua história recente que Cascais celebra os seus 656 anos no próximo dia 7 de junho – por mera coincidência, o dia do meu aniversário. Quando o Rei D. Pedro i outorgou, em 1364, a Carta da Vila a Cascais, separando o nosso território de Sintra, fê-lo porque nesse momento fundacional estavam os “homens bons de Cascaes”. Como há mais de seis séculos, esses homens e mulheres bons continuam a ser o corpo e a alma da nossa comunidade.
Cascais tem uma identidade de humanismo e de universalismo que é evidente na tolerância, na abertura ao mundo e na solidariedade para com o próximo que cada cidadão de Cascais mostra a todo o tempo e que fez de nós um destino e uma aspiração para os homens e mulheres do mundo.
Como líder desta comunidade, num momento que pelo simples facto de o vivermos já nos guardou um lugar na História, acredito que o nosso papel nesta hora é o de honrar os valores que há 656 anos nos acompanham.
Há nas comemorações desta efeméride uma pergunta incontornável a que todos, coletivamente, somos chamados a dar resposta: que Cascais vamos deixar aos nossos concidadãos depois da crise de uma geração?
Coletivamente, ambicionamos uma Cascais que se orgulhe do passado e que no presente encontre a força para conquistar o futuro.
Este objetivo não se alcança com proclamações. Exige ação política. E será de ação que será feita a semana do município, de 7 a 14 de junho, em que se assinalam os 656 anos de Cascais.
Não há coesão social sem uma economia forte e próspera. Conter a pandemia social passa por dar prioridade à frente económica. Nos próximos dias avançaremos com um programa fortíssimo na área da captação do investimento. Cascais Invest é o nome da agência de investimento municipal criada em Cascais e liderada por António Saraiva. O presidente da CIP é, no nosso país, um dos homens que melhor conhecem todos os processos e oportunidades de investimento. Com o objetivo claro de captar para Cascais investimento nacional e estrangeiro, replicador de emprego qualificado, de clusters tecnológicos de ponta e de prosperidade para o maior número, a Cascais Invest será lançada a 8 de junho com a presença do ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira.
Não há coesão social sem emprego. E se não há emprego sem empresas, neste tempo, os estímulos públicos à contratação tornaram-se ainda mais relevantes. Lançaremos, no dia 9 de junho, uma ambiciosa agenda local de promoção de empregabilidade destinada a estancar o desemprego, cuja curva está no ciclo ascendente, a reconverter talento através da formação à distância e pelo estabelecimento de linhas de financiamento desbloqueadoras de iniciativas individuais que são microcontributos para a recuperação da economia assente nas ideias e nos talentos individuais.
E também não há coesão social sem solidariedade e espírito de missão. Já a partir de hoje começamos a colocar por todo o concelho “Caixas Solidárias”, dando mais lastro a uma iniciativa de um cidadão de Cascais, o Nuno Botelho, que abasteceremos numa primeira fase com o dinheiro angariado em duas campanhas de donativos em que os cascalenses foram generosos, uma vez mais.
Também a cultura e as artes são um traço da nossa identidade. É a cultura que faz de nós, cascalenses, aquilo que somos. Celebraremos a música com o primeiro concerto de uma orquestra no pós-confinamento. Dirigidos pelo maestro Nikolai Lalov, os músicos da Orquestra Sinfónica de Cascais, reunidos na versão de orquestra de câmara, sobem ao palco para nos tocar Mozart, Schubert, Strauss e Tchaikovski. Este concerto do Dia do Município será transmitido nas plataformas digitais da câmara e permitirá que todos façam verdadeiramente parte da festa. Celebraremos a arte e o património com a passagem para o mundo digital do nosso Museu Condes de Castro Guimarães e Museu da Vila – visitáveis em 3D. Celebraremos a História com um documentário que conta a história de Portugal a partir de Cascais e com o lançamento de um maravilhoso arquivo online, o “Nós, Cascalenses”, que permite consultar registos históricos de nascimentos no concelho nos últimos séculos. Celebraremos as nossas tradições, nós os que produzimos o licoroso vinho de Carcavelos há quase 300 anos, com uma prova da colheita do ano passado num lugar espantoso: o Mosteiro de Santa Maria do Mar, uma zona de vinha em pleno coração urbano, a centenas de metros da praia.
Estas e muitas outras iniciativas mobilizarão os cascalenses – os que aqui nasceram, vivem ou que pensam o mundo como nós – durante uma semana, já a partir de dia 7.
Nós, os cascalenses, com orgulho no presente conquistamos o futuro. A Semana do Município, que arranca já no dia 7 de junho, é a celebração desses valores intemporais que nos unem de geração em geração.
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira