Mil médicos com sintomas ou contactos de risco  não fizeram teste

Mil médicos com sintomas ou contactos de risco não fizeram teste


Secretário de Estado da Saúde admitiu futura revisão de regras. Norma da DGS prevê testes a profissionais que manifestem sintomas e isolamento em caso de exposição de alto risco.


O Governo admitiu esta segunda-feira vir a rever as regras para testes a profissionais de saúde. A indicação foi dada pelo secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales depois de um inquérito promovido pela Ordem dos Médicos ter revelado que num universo de mais de 6000 médicos inquiridos, 47% dos clínicos que tiveram sintomas ou contacto com casos suspeitos nunca foram testados. As normas em vigor da Direção Geral da Saúde determinam que todos os profissionais que tenham contactos de risco e manifestem sintomas devem ser testados, sendo que apenas os que têm contactos de alto risco ficam em isolamento profilático, um enquadramento contestado pelas ordens, que defendem, além do isolamento de profissionais com contactos de risco (sem o devido equipamento), testes regulares para despistar eventuais casos assintomáticos. “As instituições de saúde devem e têm de respeitar a orientação n.13 da DGS que se refere à testagem dos profissionais de saúde”, disse António Lacerda Sales. “Este é um surto dinâmico e temos de nos ir ajustando ao dinamismo. Temos testado cada vez mais na generalidade, temos acumulados mais de 650 mil testes e há um reforço cada vez maior mas em função do dinamismo do surto temos de ter a humildade democrática de fazer uma revisão sobre a estratégia de testagem e agradecemos à ordem e profissionais todos os contributos que possam dar”, concluiu o governante, questionado sobre o tema no briefing diário.

Ao i, a Ordem dos Médicos adiantou que dos 6613 médicos que responderam ao inquérito feito entre 8 e 14 de abril, 4260 não tiveram sintomas nem contactos de risco (sem equipamento devido). 1110 tiveram sintomas ou contactos suspeitos e não fizeram o teste e 1243 foram submetidos ao teste, sendo que o inquérito não permite discriminar entre os médicos que não foram testados quantos estiveram numa situação de exposição e quantos chegaram a desenvolver sintomas – a situação em que de acordo com a norma da DGS deveria ter sido feita a análise. O inquérito revelou também demora nos procedimentos: cerca de 19% tiveram de esperar sete ou mais dias pela realização do teste e 21% esperaram entre três e seis dias. Só 59% tiveram resultados em três dias. “Numa altura em que estamos progressivamente a alargar a atividade assistencial, tanto ao nível de consultas, como de cirurgias e de exames, é essencial que se testem todos os casos suspeitos de forma célere, mas também regularmente os profissionais de saúde”, defendeu o bastonário da Ordem dos Médicos. Também a bastonária dos Enfermeiros já tinha defendido ao i a necessidade de testes regulares, depois de um estudo serológico ter revelado que o número de enfermeiros e assistentes operacionais que estiveram infetados nos últimos meses foi dez vezes superior ao detetado por testes de diagnóstico.

Nova fase Questionado sobre as concentrações nas praias no último fim de semana, Lacerda Sales disse que o Governo continua a confiar na consciência social e civismo dos portugueses.

No balanço da epidemia, os últimos dias registam um crescimento médio dos novos casos na casa dos 0,7%, sendo que a região de Lisboa e Vale do Tejo continua a registar um crescimento no número de diagnósticos superior ao do restante país. Este domingo foram diagnosticados 173 novos casos de covid-19 no país, 126 dos quais na região de Lisboa e 44 na região Norte. O número de doentes recuperados registou o maior aumento de sempre, o que a diretora-geral da Saúde explicou tratar-se do resultado de maior reporte dos serviços e não de altas nas 24 horas anteriores.

Sabe-se agora que mais de 6400 doentes já recuperaram da infeção, 22% dos casos confirmados no país desde 2 de março. Desde 2 de março morreram 1231 pessoas com covid-19 e a letalidade acima dos 70 anos tem vindo a registar um agravamento progressivo, situando-se esta segunda-feira nos 15,7%.

Portugal está mais perto de receber o carregamento de ventiladores que tinha encomendado a fornecedores chineses e que acabaram por não chegar ao país em abril – mês em que se viveu o pico de pressão no SNS, mas ainda assim aquém da capacidade instalada. O máximo de doentes internados em cuidados intensivos foi registado a 16 de abril, com 271 doentes com covid-19 em UCI, quando o país tem uma capacidade de 713 camas. Os 500 ventiladores estão agora prontos para expedição na Embaixada de Portugal na China. O secretário de Estado explicou que a ocupação de camas dos cuidados intensivos do país ronda atualmente os 54%, sendo que apenas um terço estão com doentes com covid-19. Mesmo que os ventiladores não sejam necessários no imediato, Lacerda Sales recordou que o país tinha uma capacidade de ventiladores abaixo da média europeia e sublinhou que se está a trabalhar para o futuro, aproximando-se da capacidade dos outros países.