Mário Cordeiro. “Os meus filhos irão às aulas. Temos de confiar na maturidade dos jovens”

Mário Cordeiro. “Os meus filhos irão às aulas. Temos de confiar na maturidade dos jovens”


Em semana de regresso às creches e escolas, o pediatra defende que devem ser os pais a avaliar as condições das suas famílias e dos estabelecimentos escolares. “Tem de haver bom senso e respeito, de utentes e legisladores”, diz.


Como vê a reabertura das creches e as regras agora apresentadas pela DGS?

Temos aqui um bom exemplo do que são conflitos de interesses: os da economia e situação laboral dos pais, que exige uma rápida abertura dos atendimentos diurnos; os dos próprios pais, que, muitos, já têm a cabeça em água, sobretudo porque estão a trabalhar, mesmo que em teletrabalho; finalmente, os das crianças deste grupo etário (a partir dos dois anos e meio), que precisam do contacto com os colegas para brincarem, jogarem, aprenderem e cimentarem regras de socialização, não apenas vindas dos adultos, mas também dos seus pares. O último grupo de interesses diz respeito à questão sanitária, dado que, é sabido, as crianças são dos maiores transmissores das doenças virais, mesmo que não sejam as que ostentem sintomas ou casos de maior gravidade. Assim, entende-se que é difícil conseguir responder a coisas tão diversas e que passam pela parte logística, quase tão complicada como a regulamentação das idas à praia.

Tem recebido muitas mensagens dos pais? Quais são as maiores preocupações?

Muitas. As dúvidas resumem-se ao mesmo “guião”: devo deixar o meu filho na creche? Pois, para lá do risco real e da situação conjuntural da criança na sua família (cada família será diferente, designadamente se pensarmos em famílias alargadas e nos diversos contextos do quotidiano, vizinhança, etc.), há o feeling dos pais e a noção de gestão do risco (como para tudo, como é exemplo o trânsito) e dos receios vários, uns reais, outros mediatizados e amplificados (ou por vezes banalizados) pelas redes sociais e por alguns órgãos de comunicação social ou colunistas.

Pelos dados que temos, as crianças parecem ser um grupo menos suscetível a esta infeção e os casos têm sido maioritariamente ligeiros, mas noutros países, como Itália e EUA, houve um aumento de casos com características de síndrome de Kawasaki. Como é que as famílias podem avaliar o risco para tomar decisões informadas?

A covid na criança está ainda em análise. Por muito que precisássemos de respostas “para ontem”, a ciência não pode acelerar o que, por si, é feito de forma porventura lenta se considerarmos a urgência da resposta. Sabemos que há muitos casos assintomáticos: há quem fale em duas vezes mais, há quem chegue a seis vezes mais, mas só estudos serológicos em grupos populacionais com critérios epidemiológicos bem definidos podem dar resposta. Sabemos que, nas crianças, estas doenças virais (como a gripe) tendem a ser muito mais suaves e que, embora possa haver casos graves, eles são raros. Todavia, pela natureza do relacionamento social (qual distanciamento…) podem transmitir facilmente a infeção entre elas, passando depois para os pais, que, como são adultos jovens, até podem não ter sintomas muito intensos, mas que irão levar o vírus para os empregos e para casa de familiares mais velhos – e, aí, a mancha alastra. Apareceram vários casos com os mesmos sintomas da síndrome de Kawasaki, uma situação descrita por um médico com esse nome, há algumas décadas, no Japão, e que, como o nome indica, é uma síndrome, ou seja um conjunto de sintomas, e não uma doença definida. Ainda não se sabe a causa da síndrome de Kawasaki, e até é provável que sejam múltiplas causas. A infeção por coronavírus-SARS-2 parece estar a produzir alguns casos em crianças, mas o número ainda é escasso para podermos extrair conclusões sem precipitações.

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