Fátima e a Igreja confinadas


Parece que até a Igreja tergiversa, restando rezar pela sua salvação, na saudade de uma Igreja com rumo e com bispo, de voz firme e sem cedências ao medo.  


Algumas vozes da Igreja e outros intérpretes dos universos da fé vêm-se afadigando na demonstração de que Fátima nunca existiu, talvez em nome de uma qualquer “teologia da verdade” a que temos direito.

A última prédica mortífera vem de um padre membro da Sociedade Missionária Portuguesa ao afirmar, em entrevista ao Expresso:  “É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima. Uma aparição é algo objetivo”.

Lemos e concluímos que esta Igreja ou está em autoflagelação e desligou a luz da clarividência que a caracterizava, ou deixou-se infiltrar por materialismos que ajudarão inapelavelmente a esvaziar as igrejas.

Alguém alguma vez visitou Fátima para rever Nossa Senhora em pessoa?

Os caminheiros de Fátima alguma vez percorreram os seus caminhos esperando que em qualquer vale se revelasse de novo o milagre das aparições?

A subida final para a Capela das Aparições, em penoso passo a passo de resistência física, supõe alcançar o perdão ou a prece realizada?

Não…

Então, o que é Fátima?

O espírito de Fátima é o oposto destes pronunciamentos que relevam de uma certa lateralidade sobre o encontro do ser humano consigo próprio.

É a grandeza insuperável dos homens e mulheres, face à finitude do seu ser e o confronto desta finitude com a paz interior e o mistério da vida, que se alcança no território de Fátima.

Seja o que for que aconteceu na Cova da Iria em 1917, mesmo que a mitologia homérica seja o domínio…

E quando os padres da Igreja usam a palavra para desmontar aquilo a que, afinal, chamam a mentira de Fátima, não fica o sacrilégio declarativo em Fátima, mas na conceção do que é a Igreja dos nossos dias.

A mesma Igreja que se move por este caminho e tergiversa perante o poder fáctico temporal.

Num tempo em que é possível, e bem, deixar à decisão dos homens ir celebrar o 1.o de Maio ou a Festa do Avante! (com que se concorda, como “santuários” onde mora um certo simbolismo).

Que depois se recusa e se ameaça com a polícia  (ministro Cabrita: “polícias tomarão as medidas necessárias”) sobre quem for a Fátima a 13 de maio (de que se discorda em repúdio total).

É certo que se sente no país um certo ar de novo PREC, que quem manda no Governo é a arbitrariedade, a desorientação e o atrabiliário. 

Uma espécie de novo gonçalvismo deste século, com muitos jornais, rádios e televisões ajoelhados, Presidente da República com medo e partidos situacionistas em rendição ao poder e renúncia ao povo que, vigilantes, deviam representar no seu todo…

Alastra a fome, a falência, o medo do futuro, num lugar onde apenas o Estado vive à larga, nas TAP’s e nos bancos trituradores dos impostos vindos do trabalho.

Agora parece que até a Igreja tergiversa, restando rezar pela sua salvação, na saudade de uma Igreja com rumo e com bispo, de voz firme e sem cedências ao medo.

Como se sente a falta de uma Igreja identificada e feita de rostos e almas comuns, não subjugada a Governos dogmáticos anti-Igreja, agora submersa em mistérios e oportunismos não deslindáveis para o comum dos crentes.

Não…

Ir ou não ir este ano a Fátima, rezar ou não rezar este ano em Fátima não é apenas uma questão sanitária: é também uma questão de superação do modo e do tempo que a questão sanitária impõe, face ao espírito e interpretação de cada qual da sua liberdade religiosa, tal como da liberdade política…

Nunca pela rejeição ou pela humilhação de Fátima, tal como o Governo vem fazendo, tal como a elite canónica vem permitindo…

Nunca por uma Igreja do medo.

Então, a 13 de maio lá estaremos, em Fátima.

 

Jurista

Fátima e a Igreja confinadas


Parece que até a Igreja tergiversa, restando rezar pela sua salvação, na saudade de uma Igreja com rumo e com bispo, de voz firme e sem cedências ao medo.  


Algumas vozes da Igreja e outros intérpretes dos universos da fé vêm-se afadigando na demonstração de que Fátima nunca existiu, talvez em nome de uma qualquer “teologia da verdade” a que temos direito.

A última prédica mortífera vem de um padre membro da Sociedade Missionária Portuguesa ao afirmar, em entrevista ao Expresso:  “É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima. Uma aparição é algo objetivo”.

Lemos e concluímos que esta Igreja ou está em autoflagelação e desligou a luz da clarividência que a caracterizava, ou deixou-se infiltrar por materialismos que ajudarão inapelavelmente a esvaziar as igrejas.

Alguém alguma vez visitou Fátima para rever Nossa Senhora em pessoa?

Os caminheiros de Fátima alguma vez percorreram os seus caminhos esperando que em qualquer vale se revelasse de novo o milagre das aparições?

A subida final para a Capela das Aparições, em penoso passo a passo de resistência física, supõe alcançar o perdão ou a prece realizada?

Não…

Então, o que é Fátima?

O espírito de Fátima é o oposto destes pronunciamentos que relevam de uma certa lateralidade sobre o encontro do ser humano consigo próprio.

É a grandeza insuperável dos homens e mulheres, face à finitude do seu ser e o confronto desta finitude com a paz interior e o mistério da vida, que se alcança no território de Fátima.

Seja o que for que aconteceu na Cova da Iria em 1917, mesmo que a mitologia homérica seja o domínio…

E quando os padres da Igreja usam a palavra para desmontar aquilo a que, afinal, chamam a mentira de Fátima, não fica o sacrilégio declarativo em Fátima, mas na conceção do que é a Igreja dos nossos dias.

A mesma Igreja que se move por este caminho e tergiversa perante o poder fáctico temporal.

Num tempo em que é possível, e bem, deixar à decisão dos homens ir celebrar o 1.o de Maio ou a Festa do Avante! (com que se concorda, como “santuários” onde mora um certo simbolismo).

Que depois se recusa e se ameaça com a polícia  (ministro Cabrita: “polícias tomarão as medidas necessárias”) sobre quem for a Fátima a 13 de maio (de que se discorda em repúdio total).

É certo que se sente no país um certo ar de novo PREC, que quem manda no Governo é a arbitrariedade, a desorientação e o atrabiliário. 

Uma espécie de novo gonçalvismo deste século, com muitos jornais, rádios e televisões ajoelhados, Presidente da República com medo e partidos situacionistas em rendição ao poder e renúncia ao povo que, vigilantes, deviam representar no seu todo…

Alastra a fome, a falência, o medo do futuro, num lugar onde apenas o Estado vive à larga, nas TAP’s e nos bancos trituradores dos impostos vindos do trabalho.

Agora parece que até a Igreja tergiversa, restando rezar pela sua salvação, na saudade de uma Igreja com rumo e com bispo, de voz firme e sem cedências ao medo.

Como se sente a falta de uma Igreja identificada e feita de rostos e almas comuns, não subjugada a Governos dogmáticos anti-Igreja, agora submersa em mistérios e oportunismos não deslindáveis para o comum dos crentes.

Não…

Ir ou não ir este ano a Fátima, rezar ou não rezar este ano em Fátima não é apenas uma questão sanitária: é também uma questão de superação do modo e do tempo que a questão sanitária impõe, face ao espírito e interpretação de cada qual da sua liberdade religiosa, tal como da liberdade política…

Nunca pela rejeição ou pela humilhação de Fátima, tal como o Governo vem fazendo, tal como a elite canónica vem permitindo…

Nunca por uma Igreja do medo.

Então, a 13 de maio lá estaremos, em Fátima.

 

Jurista