Quando me perco nos labirintos da memória, tenho dificuldade em regressar. Talvez devesse gritar, como o Mário-Henrique Leiria: “Hei! Encontraram alguém que fosse eu? Se encontraram, tragam-no para casa que já são horas!” As águas castanhas do Sado, agitadas pelas marés vivas e pelo vento que sopra da costa, chamam por mim. Não vou. Olho a corrente, que está forte, e é um desafio. Como nos finais de tarde, o mar na Barra, nós ignorando os apitos do cabo-de-mar, ignorando a bandeira vermelha no alto do cesto da gávea da bola de Nívea, entretidos na luta contra a água ou, se calhar, numa luta por nós mesmos e pela liberdade da nossa rebeldia. Os altifalantes berravam: “Propagandas Quimper! Há 20 anos ao seu serviço nesta praia!” E o Zé Augusto tinha uma rulote de farturas: “Até consolam o coração!” Não gosto que tenham posto fim aos cabos-de-mar. Fazem-me falta. Aquele garbo pelágico de quem era capaz de impedir vinte e tal fedelhos de aproveitarem a areia dura da baixa-mar para fazerem dela um campo de futebol, a farda, os bonés brancos, polícias sinaleiros dos areais, investigadores das dunas e do que lá poderia acontecer, ansiosos por mostrar serviço, porventura desejosos de serem promovidos a sargentos-de-mar.
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