Tarrare. Bebeu leite de três amas/ Mas o pior foi depois/ Comeu só ao jantar/ Dez galinhas e dois bois

Tarrare. Bebeu leite de três amas/ Mas o pior foi depois/ Comeu só ao jantar/ Dez galinhas e dois bois


Desde criança que engolia tudo, de pedras a pequenos animais vivos. Lutava nos becos com cães por restos de comida. Conseguia enfiar dez ovos na boca. Internado, fugia para abocanhar cadáveres no necrotério do hospital.


De repente, mesmo antes de começar a escrever, lembrei-me de um poema extraordinário de cujo autor não me recordo. Pouco importa. Ele aqui vai: “Bebeu leite de três amas/ Mas o pior foi depois/ Comeu, só ao jantar/ Dez galinhas e dois bois”.

Pois, ao ler a biografia de Tarrare, o poemita não me largou as meninges. A história deste figurão vem de tempos tão antigos que, como todas as histórias de eras que lá vão, se sujeitou, pelo caminho, a misturar verdades com mentiras, e nem sempre de forma equilibrada. Adiante. Parece confirmar-se que nasceu em Lyon em 1772. Desde o berço que se transformou numa espécie de Pantagruel e Gargântua juntos, exibindo uma voracidade que deixou os pais na penúria e sem outra solução que pô-lo no olho da rua. Parece que o miúdo pouco se importou. O único interesse que revelava era em deglutir o mais que pudesse durante as horas em que se mantinha acordado. Juntou-se a um bando de ciganos e putas e calcorreou a França, comendo metade dela, até que um charlatão viu nele e na sua voracidade uma hipótese de negócio. Tornou-se um ponto de atração ambulante. O seu número inicial consistia em devorar cascas de árvore e pedras, passando em seguida para uma alimentação mais cuidada, engolindo pequenos animais vivos e terminando com a sobremesa: uma cesta de maçãs. Não tardou a ser famoso em Paris.

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