O problema não está no festejo mas no momento e forma de festejar


Todos os anos chegamos a abril e com ele chega a parafernália da Revolução dos Cravos, parafernália essa que, nem que seja por mero acaso, chega sempre até todos e cada um de nós através das televisões, das rádios, dos jornais, por aí fora.


Tirando a parte de que, como se costuma dizer, tudo o que é demais enjoa, compreendo perfeitamente que seja importante para o país e o regime festejar a data. Sobretudo porque, sendo-se mais ou menos crítico face a ela, é pacífica a importância histórica que se celebra. Eu, que noutras circunstâncias defendo sempre que a História deve ser assumida na sua totalidade, e nunca alterada, desvirtuada ou esquecida, não vou agora virar o bico ao prego.

Coisa distinta é, ainda assim, entender que o 25 de Abril é aquilo que se conta mais o que se continua a querer esconder. Outra, que o 25 de Abril só serviu maioritariamente a geração que o fez, geração essa que se encheu de benefícios e mordomias que terão de ser pagas pela minha. Ou ainda que se fala demasiado do 25 de Abril e pouco do 25 de Novembro.

Se esse não tem existido, podíamos viver agora sob o jugo comunista e de extrema-esquerda. Ou ainda outra, porque não posso passar sem dizê-lo, para considerar que muitos dos que contribuíram para o 25 de Abril são hoje muito mais fascistas do que aqueles que, em tempos, por si eram considerados como tal. Estão tão acomodados ao estatuto e regalias que têm que já nem admitem, por exemplo, que alguém seja contra uma festa, não pelo que se festeja, mas pela forma e momento de festejar.

Se em tempo pode ter havido fascistas em Portugal, hoje também há. Há e não são aqueles que como tal são apelidados. Como reza a canção, “tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é (o nosso) fado”. Mas voltando ao tema, pese embora tudo isto, a data é importante e deve ser devidamente lembrada. O que acontece é que, este ano, pela pandemia que nos assola, os governantes viram-se obrigados a forçar os cidadãos a ficar em casa, sob pena de uma vida normal poder colocar em causa a saúde de todos. Ora, se assim é, os mesmos governantes têm de cumprir aquilo que exigem aos outros que cumpram, sob pena de perderem toda a legitimidade moral para o fazer. Ponto final, parágrafo.

É que, quanto a isto, não há aqui qualquer dúvida. Acho agora imensa piada a todas as almas penadas que, já de fora, continuam ainda assim a ensombrar o regime e que se multiplicam pelos canais televisivos afirmando que, se a Assembleia da República está aberta para trabalhar, também deverá estar para festejar. Quanto a mim, este raciocínio é completamente patético. E digo patético para não dizer de vão de escada. Pela simples razão de que a Assembleia da República trabalha, mas ao abrigo de cuidados redobrados e na dimensão do necessário. Ora, quanto a mim, trabalhar é necessário; festas, não. E olhem que eu adoro festas, mas só quando posso dá-las ou a elas ir.

O 25 de Abril em nada sairia beliscado se não fosse festejado como habitual. Sai sobretudo beliscado por ser comemorado quando mais ninguém no país se pode juntar para comemorar o que quer que seja. E se há pouco cataloguei de vão de escada certas coisas que vou ouvindo, outras, tenho de catalogar como sendo apenas burrice. Adoro quando ouço alguém dizer “ah, vão ser cumpridas as recomendações da DGS. Só vão estar na Assembleia 150 pessoas”. Lamento. Lamento muito. Mas quem achar que juntar 150 pessoas em São Bento cumpre as recomendações sanitárias é burro.

Aqui chegado, termino com um elogio que, desde logo, é demonstrativo de que um homem de direita também sabe elogiar quem esteja noutro quadrante político, quando merecido. Quero elogiar as declarações desassombradas de João Soares. Numa data como esta que, estou certo, pelas mais variadas e óbvias razões lhe deverá ser tão sentida, elogio-lhe o criticismo ativo que apresentou e a capacidade de tentar meter juízo na cabeça de muitos que já totalmente o perderam.

 

Escreve à sexta-feira


O problema não está no festejo mas no momento e forma de festejar


Todos os anos chegamos a abril e com ele chega a parafernália da Revolução dos Cravos, parafernália essa que, nem que seja por mero acaso, chega sempre até todos e cada um de nós através das televisões, das rádios, dos jornais, por aí fora.


Tirando a parte de que, como se costuma dizer, tudo o que é demais enjoa, compreendo perfeitamente que seja importante para o país e o regime festejar a data. Sobretudo porque, sendo-se mais ou menos crítico face a ela, é pacífica a importância histórica que se celebra. Eu, que noutras circunstâncias defendo sempre que a História deve ser assumida na sua totalidade, e nunca alterada, desvirtuada ou esquecida, não vou agora virar o bico ao prego.

Coisa distinta é, ainda assim, entender que o 25 de Abril é aquilo que se conta mais o que se continua a querer esconder. Outra, que o 25 de Abril só serviu maioritariamente a geração que o fez, geração essa que se encheu de benefícios e mordomias que terão de ser pagas pela minha. Ou ainda que se fala demasiado do 25 de Abril e pouco do 25 de Novembro.

Se esse não tem existido, podíamos viver agora sob o jugo comunista e de extrema-esquerda. Ou ainda outra, porque não posso passar sem dizê-lo, para considerar que muitos dos que contribuíram para o 25 de Abril são hoje muito mais fascistas do que aqueles que, em tempos, por si eram considerados como tal. Estão tão acomodados ao estatuto e regalias que têm que já nem admitem, por exemplo, que alguém seja contra uma festa, não pelo que se festeja, mas pela forma e momento de festejar.

Se em tempo pode ter havido fascistas em Portugal, hoje também há. Há e não são aqueles que como tal são apelidados. Como reza a canção, “tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é (o nosso) fado”. Mas voltando ao tema, pese embora tudo isto, a data é importante e deve ser devidamente lembrada. O que acontece é que, este ano, pela pandemia que nos assola, os governantes viram-se obrigados a forçar os cidadãos a ficar em casa, sob pena de uma vida normal poder colocar em causa a saúde de todos. Ora, se assim é, os mesmos governantes têm de cumprir aquilo que exigem aos outros que cumpram, sob pena de perderem toda a legitimidade moral para o fazer. Ponto final, parágrafo.

É que, quanto a isto, não há aqui qualquer dúvida. Acho agora imensa piada a todas as almas penadas que, já de fora, continuam ainda assim a ensombrar o regime e que se multiplicam pelos canais televisivos afirmando que, se a Assembleia da República está aberta para trabalhar, também deverá estar para festejar. Quanto a mim, este raciocínio é completamente patético. E digo patético para não dizer de vão de escada. Pela simples razão de que a Assembleia da República trabalha, mas ao abrigo de cuidados redobrados e na dimensão do necessário. Ora, quanto a mim, trabalhar é necessário; festas, não. E olhem que eu adoro festas, mas só quando posso dá-las ou a elas ir.

O 25 de Abril em nada sairia beliscado se não fosse festejado como habitual. Sai sobretudo beliscado por ser comemorado quando mais ninguém no país se pode juntar para comemorar o que quer que seja. E se há pouco cataloguei de vão de escada certas coisas que vou ouvindo, outras, tenho de catalogar como sendo apenas burrice. Adoro quando ouço alguém dizer “ah, vão ser cumpridas as recomendações da DGS. Só vão estar na Assembleia 150 pessoas”. Lamento. Lamento muito. Mas quem achar que juntar 150 pessoas em São Bento cumpre as recomendações sanitárias é burro.

Aqui chegado, termino com um elogio que, desde logo, é demonstrativo de que um homem de direita também sabe elogiar quem esteja noutro quadrante político, quando merecido. Quero elogiar as declarações desassombradas de João Soares. Numa data como esta que, estou certo, pelas mais variadas e óbvias razões lhe deverá ser tão sentida, elogio-lhe o criticismo ativo que apresentou e a capacidade de tentar meter juízo na cabeça de muitos que já totalmente o perderam.

 

Escreve à sexta-feira