Uma reflexão para os donos da razão e donos de Abril também


Vivemos uma fase da nossa sociedade em que só há “branco ou preto”. Não há mais caminhos. Para o populismo deambulante das redes sociais que, em virtude do confinamento, substituíram definitivamente as ruas, as mesas de debate e os púlpitos só há o “sim” ou o “não”.


A ausência de credibilidade de debate, por impossibilidade de contra-argumentos ou resposta, torna notório que vivemos na fase do “é assim porque é assim” e do “ou estás comigo ou estás contra mim”. Que retrocesso quando se assinala a democracia. 

Por estes dias, o post ou tweet que mais “rende socialmente” é quando qualquer «Dono da Razão» puxa do teclado para criticar a realização da Sessão solene do 25 de abril no Parlamento.

É fácil e é o caminho mais favorável neste mundo virtual de quem se esconde atrás de monitores. E, sempre que o “vento sopra” com significância num determinado caminho de opinião, por norma, as vozes contestatárias curiosamente vão sempre nesse sentido. Ora, se fácil é criticar a realização de um momento solene que aglomera – independentemente de cumprir os critérios estipulados pela Direção Geral de Saúde – cerca de uma centena de pessoas num espaço fechado, é normal que sem qualquer debate surja a crítica.

Raros são os que, pensando pela sua cabeça, mantêm dúvidas e questionam o que pensam independentemente dos ventos de opinião pública, das redes sociais ou há conhecedores de declarações de uma dúzia de individualidades e conseguem contrabalançar os prós e contras.

Sobre as comemorações solenes do 25 de Abril há vários pontos a debater ou questionar que, em virtude de se ter criado um perigoso caminho entre simplesmente “Sim ou Não”, por ser mais fácil, passam ao lado de quem escreve na ânsia de agradar a seguidistas.

Primeiro ponto: “Perigosos” Fascistas versus “liberais” de esquerda pró-Abril.

Foi fácil rotular. É sempre fácil quando é assente na crítica e no descrédito. Alguns que apelidam a todo o custo quem emite opinião nem saberão, mesmo após o próximo sábado, o que é ou qual o significado de fascismo. Mas, deixá-los estar. Deixá-los, senhores «donos da razão» a apelidar de fascista quem pensa diferente. Neste caso, quem entende que não há condições de se reunir um aglomerado de pessoas num espaço fechado, por virtude da pandemia que vivemos… é fascista. Usando apenas esse argumento frágil, o conhecido socialista João Soares só não lidera a lista “Mais Fascista 2020” neste momento porque, para além de si, ainda há o Capitão de Abril, Coronel Vasco Lourenço, que ousou, num claro ato fascista, de sugerir que a Assembleia da República exagerou no número de convidados.

E à esquerda, temos os “perigosos liberais de esquerda pró-abril” que, tal como o exemplo de Mota Amaral que, hoje com 77 anos, antigo presidente do Governo Regional dos Açores e conhecido militante do PSD, anunciou também que não se deslocará a Lisboa para participar nas comemorações mas enviou uma carta a Ferro Rodrigues desejando-lhe “força para aguentar a crítica dos que não gostam do espírito de Abril”. Um claro “perigoso liberal de esquerda pró-abril” por manter a opinião de que a cerimónia solene se deve realizar. Sem querer falar de Rui Rio, atual Presidente do PSD, que, tal como 27 outros deputados social-democratas, irão demonstrar o seu esquerdismo ideológico apenas por marcarem presença institucional nas cerimónias deste fim-de-semana.

No mundo das redes sociais, obviamente que só quem não for ou manifestar ser contra a realização desta cerimónia é fascista e, por outro lado, todos os que estiverem nas celebrações do 25 de Abril são de esquerda. Aliás, é esta a balança populista que tem feito a espuma dos dias de muitos portugueses sedentos de debate e discórdia.

Naturalmente, permitam, é evidente e reitero toda a ironia de análise dos últimos parágrafos. No entanto, demonstram bem a inconsequência e demagogia de quem critica por se achar «dono da razão» e, de certo modo, «dono de Abril».

Tal como a pandemia provocada pela doença Covid-19, os valores e princípios que vêm desde o 25 de Abril de 1974 não têm donos ideológicos, não se orientam com bússolas geográficas e muito menos escolhem estratos sociais. O vírus SARS-CoV-2 e a liberdade assente no 25 de Abril tocam, num caso de infeliz infortúnio e noutro de feliz respeito democrático, a todos os portugueses. É essa a única coincidência do estado de emergência social em que vivemos e as comemorações solenes que assinalam os 46 anos de liberdade de expressão, da democracia e do Portugal que hoje temos.

É natural pensarmos alguns prós e contras antes de tudo.

As cerimónias solenes já tiveram anos em que não se realizaram, não é verdade o que muitos apregoam que “sempre se fez”. Foram quatro as vezes de ausência de cerimónias: em 1983, 1992, 1993 e 2011.

Não sei, não sou dono de razão nenhuma, sobre se o que hoje vivemos é motivo para a completa ausência de celebração dos princípios e valores que emanam do 25 de Abril de 1974. Sei, isso sim, que em virtude dos tempos que vivemos de pandemia global e distanciamento social, poderia haver inovações, mudanças e novas possibilidades.

Pensemos: Tendo as três maiores figuras do protocolo de Estado da República Portuguesa (Presidente da República, Presidente da Assembleia da República e Primeiro-Ministro) no mesmo espaço fechado, neste período de contenção, não é desnecessário? Não digo que se ausentassem. Mas, será que, a título de exemplo, o Presidente da República não poderia – logo numa época tão digital como esta – ter um vídeo a ser projetado ao longo da sessão, na televisão pública e mesmo nas diversas redes sociais com alguma interação que demonstrasse a adaptação que iremos viver? Era uma possibilidade. Aliás, hoje é recorrente lermos e vermos que “Presidente e Vice-Presidente de Câmara não se cruzam por precaução à Covid-19”.

Se calhar, só se calhar, sem ter ou não razão, era pelo menos uma medida diferente das cerimónias que, há 46 anos, realizamos sem grande inovação ou dinâmica quando o país e os portugueses evoluíram.

Sobre os porquês de se manter a sessão.

Tenho e temos lido um argumento que, desta vez de forma correta, até o Presidente da Assembleia da República referiu: “Celebrar o 25 de Abril é dizer que não sairá desta crise qualquer alternativa antidemocrática”. Sim, é um bom argumento. Como aceito, sem dar razão a ninguém, que manter a democracia a funcionar dá alento, dá exemplo e dá confiança na recuperação ao nível da saúde pública do país. Sabemos que dá. É também assim que se vence e vencerá a batalha de saúde pública que estamos a travar.

Em contra-ponto, discordando agora da segunda figura do protocolo de Estado da República Portuguesa, é impossível concordar com Ferro Rodrigues quando se torna num «dono da razão» entre a “boa” e “má” política. Não é sequer qualificável que se diga “Petições na internet não me diz nada”. É, precisamente graças ao 25 de Abril também, que é mais uma belíssima forma de se sentir a democracia a funcionar e a evoluir. Como deve evoluir, de futuro, qualquer cerimónia solene para assinalar esta importante data.

Permito-me, por respeito às instituições de saúde e aos portugueses, nem qualificar igualmente a infeliz expressão de “Então nós íamos mascarados para o 25 de Abril?” de Ferro Rodrigues que, devemos, seguramente, achar que era humor apenas. Porém, com a saúde não se brinca e muito menos nesta fase. Foi infeliz.

Há ainda quem compare à Páscoa à cerimónia solene do próximo sábado. Talvez seja um pouco descabido visto que, para os que falam da deslocação para visitas e celebrações religiosas e familiares, comparar uma sessão de 130 pessoas num só local aos milhões de portugueses que se teriam deslocado por todos os distritos de sul ao norte e norte a sul. Não é comparável, são dois formatos e exemplos diferentes.

Sobre os velórios tenho mais dúvidas e, porventura, é mais complexo do que a simplicidade com que os órgãos competentes têm tratado. Não comparo, novamente, uma cerimónia fúnebre a sessões solenes ou à Páscoa. Há limites na demagogia e todo deveríamos ver que cada caso é diferente e específico.

Se há possibilidade de, com distanciamento social, realizar eventos de 50, 75 ou 130 pessoas, não é humanamente possível de aceitar que na perda de um familiar não possam, pelo menos isso, os seus familiares todos diretos presentes num ato mais pessoal que cultural ou religioso. Acredito que, com distância entre os presentes, com máscara e proteção adequada, não se deve limitar ao extremo o extremismo que é o final da vida de quem amamos.

Reitero, não se compara um velório a uma sessão solene ou à Páscoa. Isso é demagogia e conversa para “likes” de rede social. Cada caso é um caso e, neste último caso, entendo (sem ser dono de razão alguma) que é possível mitigar a dor com a presença num momento que infelizmente é único: a perda.

Para finalizar este ato de reflexão conjunto, outro dado e último.

O Parlamento, desde que foi decretado o estado de emergência, não está suspenso e não parou. Tem reunido em sessão plenária uma vez por semana, em média, mas com regras estipuladas: apenas um quinto dos deputados pode estar presente no hemiciclo. Quando há votações, precisam de que metade dos deputados estejam registados no computador para efeitos de verificação de quórum, ou seja, 116.

Foi este o número que não levantou dúvidas às entidades de saúde e à globalidade dos portugueses nestes perto de 40 dias. Daí, sendo agora 130 o número de presentes na cerimónia, não é um escândalo que se realize a sessão solene do 25 de Abril.

Da mesma forma que, se Câmaras Municipais e Assembleias Municipais não reúnem sem ser por videoconferência, é inquestionável que a coerência faz ver que os 308 municípios portugueses devem todos manter o registo e não manter as celebrações populares habituais desta data. Inovem.

Parece lógico. Como lógico é pensar que o mundo já mudou e as celebrações irão ter que forçosamente mudar. Espero que mudemos, não pelo Covid-19 mas porque os portugueses aceitaram a adaptação, evoluíram e aceitaram um conjunto de opiniões sem se julgarem «Donos da Razão» durante todo o ano e «Donos de Abril» nesta época que é de todos nós, dos 10 milhões de portugueses.

Aliás, é essa liberdade de expressão e de opinião que a democracia também alcançada em Abril de 74 nos deu e hoje, ironicamente, os seus mais acérrimos defensores se esquecem de cumprir ao respeitar quem pensa… diferente.

 

 


Uma reflexão para os donos da razão e donos de Abril também


Vivemos uma fase da nossa sociedade em que só há “branco ou preto”. Não há mais caminhos. Para o populismo deambulante das redes sociais que, em virtude do confinamento, substituíram definitivamente as ruas, as mesas de debate e os púlpitos só há o “sim” ou o “não”.


A ausência de credibilidade de debate, por impossibilidade de contra-argumentos ou resposta, torna notório que vivemos na fase do “é assim porque é assim” e do “ou estás comigo ou estás contra mim”. Que retrocesso quando se assinala a democracia. 

Por estes dias, o post ou tweet que mais “rende socialmente” é quando qualquer «Dono da Razão» puxa do teclado para criticar a realização da Sessão solene do 25 de abril no Parlamento.

É fácil e é o caminho mais favorável neste mundo virtual de quem se esconde atrás de monitores. E, sempre que o “vento sopra” com significância num determinado caminho de opinião, por norma, as vozes contestatárias curiosamente vão sempre nesse sentido. Ora, se fácil é criticar a realização de um momento solene que aglomera – independentemente de cumprir os critérios estipulados pela Direção Geral de Saúde – cerca de uma centena de pessoas num espaço fechado, é normal que sem qualquer debate surja a crítica.

Raros são os que, pensando pela sua cabeça, mantêm dúvidas e questionam o que pensam independentemente dos ventos de opinião pública, das redes sociais ou há conhecedores de declarações de uma dúzia de individualidades e conseguem contrabalançar os prós e contras.

Sobre as comemorações solenes do 25 de Abril há vários pontos a debater ou questionar que, em virtude de se ter criado um perigoso caminho entre simplesmente “Sim ou Não”, por ser mais fácil, passam ao lado de quem escreve na ânsia de agradar a seguidistas.

Primeiro ponto: “Perigosos” Fascistas versus “liberais” de esquerda pró-Abril.

Foi fácil rotular. É sempre fácil quando é assente na crítica e no descrédito. Alguns que apelidam a todo o custo quem emite opinião nem saberão, mesmo após o próximo sábado, o que é ou qual o significado de fascismo. Mas, deixá-los estar. Deixá-los, senhores «donos da razão» a apelidar de fascista quem pensa diferente. Neste caso, quem entende que não há condições de se reunir um aglomerado de pessoas num espaço fechado, por virtude da pandemia que vivemos… é fascista. Usando apenas esse argumento frágil, o conhecido socialista João Soares só não lidera a lista “Mais Fascista 2020” neste momento porque, para além de si, ainda há o Capitão de Abril, Coronel Vasco Lourenço, que ousou, num claro ato fascista, de sugerir que a Assembleia da República exagerou no número de convidados.

E à esquerda, temos os “perigosos liberais de esquerda pró-abril” que, tal como o exemplo de Mota Amaral que, hoje com 77 anos, antigo presidente do Governo Regional dos Açores e conhecido militante do PSD, anunciou também que não se deslocará a Lisboa para participar nas comemorações mas enviou uma carta a Ferro Rodrigues desejando-lhe “força para aguentar a crítica dos que não gostam do espírito de Abril”. Um claro “perigoso liberal de esquerda pró-abril” por manter a opinião de que a cerimónia solene se deve realizar. Sem querer falar de Rui Rio, atual Presidente do PSD, que, tal como 27 outros deputados social-democratas, irão demonstrar o seu esquerdismo ideológico apenas por marcarem presença institucional nas cerimónias deste fim-de-semana.

No mundo das redes sociais, obviamente que só quem não for ou manifestar ser contra a realização desta cerimónia é fascista e, por outro lado, todos os que estiverem nas celebrações do 25 de Abril são de esquerda. Aliás, é esta a balança populista que tem feito a espuma dos dias de muitos portugueses sedentos de debate e discórdia.

Naturalmente, permitam, é evidente e reitero toda a ironia de análise dos últimos parágrafos. No entanto, demonstram bem a inconsequência e demagogia de quem critica por se achar «dono da razão» e, de certo modo, «dono de Abril».

Tal como a pandemia provocada pela doença Covid-19, os valores e princípios que vêm desde o 25 de Abril de 1974 não têm donos ideológicos, não se orientam com bússolas geográficas e muito menos escolhem estratos sociais. O vírus SARS-CoV-2 e a liberdade assente no 25 de Abril tocam, num caso de infeliz infortúnio e noutro de feliz respeito democrático, a todos os portugueses. É essa a única coincidência do estado de emergência social em que vivemos e as comemorações solenes que assinalam os 46 anos de liberdade de expressão, da democracia e do Portugal que hoje temos.

É natural pensarmos alguns prós e contras antes de tudo.

As cerimónias solenes já tiveram anos em que não se realizaram, não é verdade o que muitos apregoam que “sempre se fez”. Foram quatro as vezes de ausência de cerimónias: em 1983, 1992, 1993 e 2011.

Não sei, não sou dono de razão nenhuma, sobre se o que hoje vivemos é motivo para a completa ausência de celebração dos princípios e valores que emanam do 25 de Abril de 1974. Sei, isso sim, que em virtude dos tempos que vivemos de pandemia global e distanciamento social, poderia haver inovações, mudanças e novas possibilidades.

Pensemos: Tendo as três maiores figuras do protocolo de Estado da República Portuguesa (Presidente da República, Presidente da Assembleia da República e Primeiro-Ministro) no mesmo espaço fechado, neste período de contenção, não é desnecessário? Não digo que se ausentassem. Mas, será que, a título de exemplo, o Presidente da República não poderia – logo numa época tão digital como esta – ter um vídeo a ser projetado ao longo da sessão, na televisão pública e mesmo nas diversas redes sociais com alguma interação que demonstrasse a adaptação que iremos viver? Era uma possibilidade. Aliás, hoje é recorrente lermos e vermos que “Presidente e Vice-Presidente de Câmara não se cruzam por precaução à Covid-19”.

Se calhar, só se calhar, sem ter ou não razão, era pelo menos uma medida diferente das cerimónias que, há 46 anos, realizamos sem grande inovação ou dinâmica quando o país e os portugueses evoluíram.

Sobre os porquês de se manter a sessão.

Tenho e temos lido um argumento que, desta vez de forma correta, até o Presidente da Assembleia da República referiu: “Celebrar o 25 de Abril é dizer que não sairá desta crise qualquer alternativa antidemocrática”. Sim, é um bom argumento. Como aceito, sem dar razão a ninguém, que manter a democracia a funcionar dá alento, dá exemplo e dá confiança na recuperação ao nível da saúde pública do país. Sabemos que dá. É também assim que se vence e vencerá a batalha de saúde pública que estamos a travar.

Em contra-ponto, discordando agora da segunda figura do protocolo de Estado da República Portuguesa, é impossível concordar com Ferro Rodrigues quando se torna num «dono da razão» entre a “boa” e “má” política. Não é sequer qualificável que se diga “Petições na internet não me diz nada”. É, precisamente graças ao 25 de Abril também, que é mais uma belíssima forma de se sentir a democracia a funcionar e a evoluir. Como deve evoluir, de futuro, qualquer cerimónia solene para assinalar esta importante data.

Permito-me, por respeito às instituições de saúde e aos portugueses, nem qualificar igualmente a infeliz expressão de “Então nós íamos mascarados para o 25 de Abril?” de Ferro Rodrigues que, devemos, seguramente, achar que era humor apenas. Porém, com a saúde não se brinca e muito menos nesta fase. Foi infeliz.

Há ainda quem compare à Páscoa à cerimónia solene do próximo sábado. Talvez seja um pouco descabido visto que, para os que falam da deslocação para visitas e celebrações religiosas e familiares, comparar uma sessão de 130 pessoas num só local aos milhões de portugueses que se teriam deslocado por todos os distritos de sul ao norte e norte a sul. Não é comparável, são dois formatos e exemplos diferentes.

Sobre os velórios tenho mais dúvidas e, porventura, é mais complexo do que a simplicidade com que os órgãos competentes têm tratado. Não comparo, novamente, uma cerimónia fúnebre a sessões solenes ou à Páscoa. Há limites na demagogia e todo deveríamos ver que cada caso é diferente e específico.

Se há possibilidade de, com distanciamento social, realizar eventos de 50, 75 ou 130 pessoas, não é humanamente possível de aceitar que na perda de um familiar não possam, pelo menos isso, os seus familiares todos diretos presentes num ato mais pessoal que cultural ou religioso. Acredito que, com distância entre os presentes, com máscara e proteção adequada, não se deve limitar ao extremo o extremismo que é o final da vida de quem amamos.

Reitero, não se compara um velório a uma sessão solene ou à Páscoa. Isso é demagogia e conversa para “likes” de rede social. Cada caso é um caso e, neste último caso, entendo (sem ser dono de razão alguma) que é possível mitigar a dor com a presença num momento que infelizmente é único: a perda.

Para finalizar este ato de reflexão conjunto, outro dado e último.

O Parlamento, desde que foi decretado o estado de emergência, não está suspenso e não parou. Tem reunido em sessão plenária uma vez por semana, em média, mas com regras estipuladas: apenas um quinto dos deputados pode estar presente no hemiciclo. Quando há votações, precisam de que metade dos deputados estejam registados no computador para efeitos de verificação de quórum, ou seja, 116.

Foi este o número que não levantou dúvidas às entidades de saúde e à globalidade dos portugueses nestes perto de 40 dias. Daí, sendo agora 130 o número de presentes na cerimónia, não é um escândalo que se realize a sessão solene do 25 de Abril.

Da mesma forma que, se Câmaras Municipais e Assembleias Municipais não reúnem sem ser por videoconferência, é inquestionável que a coerência faz ver que os 308 municípios portugueses devem todos manter o registo e não manter as celebrações populares habituais desta data. Inovem.

Parece lógico. Como lógico é pensar que o mundo já mudou e as celebrações irão ter que forçosamente mudar. Espero que mudemos, não pelo Covid-19 mas porque os portugueses aceitaram a adaptação, evoluíram e aceitaram um conjunto de opiniões sem se julgarem «Donos da Razão» durante todo o ano e «Donos de Abril» nesta época que é de todos nós, dos 10 milhões de portugueses.

Aliás, é essa liberdade de expressão e de opinião que a democracia também alcançada em Abril de 74 nos deu e hoje, ironicamente, os seus mais acérrimos defensores se esquecem de cumprir ao respeitar quem pensa… diferente.