Neste momento, será possível que algo se torne mais viral do que a covid-19? O comediante e apresentador sul-africano Trevor Noah tem a resposta: Tiger King.
A série documental da Netflix criada por Eric Goode e Rebecca Chaiklin já conquistou o coração de milhões de pessoas por todo o mundo que seguem o excêntrico Joe Exotic, que se autodescreve como “um homossexual redneck amante de grandes felinos”, e outros colecionadores de felinos de grande porte.
Para os que estiveram a dormir debaixo de uma pedra e ainda não ouviram falar na série, eis alguns dados para aguçar o seu apetite. Batizado Joseph Allen Schreibvogel, Joe Exotic alterou entretanto o nome para Joseph Allen Maldonado-Passage, depois de um casamento a três com outros dois homens (algo que é legalmente questionável), fundou um jardim zoológico privado para exibir os seus grandes felinos e criou uma carreira como músico country. Depois da estreia da série, a música Here Kitty Kitty, dedicada a uma das suas rivais (já lá iremos), já foi ouvida no YouTube por mais de 6 milhões de pessoas. Joe Exotic chegou também a concorrer a Presidente dos Estados Unidos da América em 2016 e foi preso por encomendar o homicídio de Carole Baskin (proprietária de um santuário de tigres e, sim, a rival de que falávamos).
Mas não nos fiquemos por aqui no que diz respeito a essa personagem. Carole, que pode ou não ter estado envolvida no assassínio do seu ex-marido (a dúvida levantada ao longo da série), tenta ao longo dos episódios mostrar como o seu santuário de animais é mais legítimo e seguro que os dos restantes tratadores – por exemplo, o de Doc Antle, tratador de tigres que, ao mesmo tempo, é líder de um culto em que participam as diversas mulheres que trabalham no seu zoo, com quem partilha uma relação polígama.
Se o leitor sente a cabeça a girar com tanta informação, acredite:esta é apenas a ponta do icebergue. Tiger King, que segundo os Nielsen Ratings, sistema para medir as audiências, foi vista por 34,3 milhões de pessoas nos primeiros dez dias em que esteve disponível online (as audiências foram amplificadas devido ao isolamento obrigatório face à pandemia), e, atualmente, é a segunda série mais vista em Portugal, apenas superado pelo Stranger Things, é já um dos maiores sucessos de sempre da Netflix e a sua influência está já a fazer-se sentir na cultura pop deste ano 2020.
Do perdão de Trump aos novos conteúdos Na semana passada, durante uma entrevista, um jornalista perguntou ao Presidente dos EUA, Donald Trump, se ele consideraria conceder perdão presidencial a Joe Exotic, condenado a 22 anos de prisão. O Presidente respondeu: “Vou estudar o caso”.
Apesar do tom de brincadeira, este é o melhor exemplo para observar a influência que Tiger King está a alcançar. Entretanto, no site de petições Change.org existe uma chamada “Donald Trump: Free The Tiger King”, que já conta com mais de 50 mil assinaturas.
O êxito da série, considerado pelo site Adweek como o primeiro grande sucesso do período de quarentena, obviamente não passou ao lado da Netflix, que inclusive já lançou um episódio extra. Chegou terça-feira à plataforma de streaming e, apesar dos (curtíssimos) 40 minutos de duração e de se basear apenas em entrevistas feitas através de videochamada (maldita covid-19) pelo humorista Joel McHale a diversos ex-colaboradores de Joe Exotic, ficámos a saber como é que as pessoas que trabalhavam com Joe estão a viver após o encarceramento do ex-proprietário do Greater Wynnewood Exotic Animal Park e o lançamento da série. Pelo meio, somos ainda presenteados com diversas novas histórias.
Rick Kirkham, produtor televisivo responsável pelas gravações do programa de televisão de Joe Exotic (que acabaram destruídas num misterioso fogo), revelou uma história que pretendia colocar mais um prego na possível inocência de Joe. “Uma senhora foi ao parque do Joe com lágrimas no rosto. Ele pediu-me para gravar tudo com a minha câmara. A mulher pediu-lhe para tomar conta do seu cavalo, que estava doente e velho. Ele aceitou”, recordou Rick, que atualmente se encontra a viver na Noruega, o “local mais longe possível que encontrou para viver longe do jardim zoológico”.
“Assim que a mulher virou costas, ele sacou do revólver e deu um tiro no cavalo. ‘Não estou aqui para tomar conta dos animais de ninguém. Agora, este cavalo vai servir de comida aos tigres’”.
Apesar dos crimes e da crueldade infligida por Joe aos animais, a sede de descobrir e beber mais da sua magnética personalidade fez com que fossem anunciados ainda mais projetos dedicados ao seu estranho mas cativante mundo.
Os estúdios televisivos Universal Content Productions estão a desenvolver uma segunda temporada baseada no podcast Over My Dead Body, que se estreou em agosto do ano passado e se focava de uma forma mais íntima nas personagens. A atriz e comediante Kate McKinnon está confirmada para desempenhar o papel de Carole Baskin.
O canal televisivo Investigation Discovery estreou, no dia 6 de abril, a série Investigating The Strange World of Joe Exotic, que procura aprofundar os crimes cometidos por Joe. O site Deadline anunciou na semana passada que Ryan Murphy, produtor responsável por séries como American Horror Story, Glee ou American Crime Story, está em conversações para produzir uma série ou um filme para a Netflix. O ator Rob Lowe irá calçar as botas (ou o cadeado que utiliza no pénis, para simbolizar a morte do marido) de Joe Exotic.
A bizarria da série foi ainda parodiada por inúmeros comediantes que encontraram nesta história mais estranha que a ficção material mais do que suficiente para inúmeros sketches – desde Saturday Night Live a talk shows como o supramencionado The Daily Show with Trevor Noah, Lights Out With David Spade, que, tal como o episódio extra, se desenrolou com diversas entrevistas com material amador aos ex-membros da equipa de Joe Exotic, ou The Ellen DeGeneres Show. Mas o sucesso não fica por aqui: a série foi dos tópicos mais virais do Twitter ou do TikTok, onde as cenas mais icónicas foram parodiadas em diversos vídeos e alvo de inúmeros memes.
Apesar de estar na prisão e de não conseguir usufruir da fama que sempre desejou ter, o mundo está a ressacar por mais de Joe Exotic. Como o próprio diria: “As pessoas não vêm [ao meu zoo] por causa dos tigres, vêm para me ver”.