Depois de em março, face à pandemia, ter anunciado o adiamento da 17.ª edição, esta terça-feira a direção do IndieLisboa revelou que o festival de cinema vai decorrer entre 25 de agosto e 5 de setembro.
“A possibilidade de o fazer num formato digital não corresponderia às nossas expectativas, nem às do público. Organizar um festival é exibir filmes e ter um contacto direto com o nosso público, os cineastas e os restantes profissionais”, afirma em comunicado.
A programação completa será revelada, simbolicamente, a 30 de abril, dia em que estava inicialmente previsto começar a edição deste ano.
A organização já tinha anunciado algumas novidades da programação, nomeadamente uma retrospetiva de toda a obra do realizador senegalês Ousmane Sembène, uma homenagem aos 50 anos da secção Fórum da Berlinale e um ciclo dedicado à realizadora franco-senegalesa Mati Diop.
Falecido a 9 de junho de 2007, aos 84 anos, o realizador senegalês Ousmane Sembène é frequentemente citado como o “pai do cinema africano”.
“Um cineasta e um escritor revolucionário, Ousmane Sembéne utilizou tanto a cena como a câmara de vídeo para oferecer histórias africanas às pessoas de África”, escreveu Beetle Holloway no site Culture Trip. “Lutou contra o racismo, a censura e as barreiras linguísticas e transformou o Senegal e a África numa produção cultural”.
Um dos filmes mais aclamados do realizador senegalês é Moolaadé (2004), que venceu o prémio Un Certain Regard no festival de cinema de Cannes, uma seleção que recompensa e dá visibilidade a cineastas menos conhecidos.
“É a primeira vez que fazemos uma retrospetiva de fundo sobre um realizador africano”, disse Mafalda Melo, da direcção do IndieLisboa, ao jornal Público. “Sempre quisemos apresentar a maior diversidade de cinematografias possível, mas, por constrangimentos externos ao festival, nunca tivemos muita oportunidade de exibir cinema africano”.
Outros dos grandes destaques do IndieLisboa é Mati Diop. A cineasta franco-senegalesa tornou-se no ano passado a primeira realizadora negra a concorrer para a Palma de Ouro no festival de Cannes. O seu filme, Atlantique, selecionado para representar o Senegal nos Óscares 2020 (apesar de não ter chegado aos nomeados) e distribuído pela Netflix, retrata a história de Ada, uma menina de 17 anos apaixonada por Souleimane, um jovem pedreiro que trabalha na construção de um prédio futurista à beira mar no subúrbio de Dakar, no Senegal. No entanto, este é um amor proibido, uma vez que Ade está prometida para outro homem. Quando, certa noite, os trabalhadores desaparecem no mar, os seus espíritos retornam para possuir o corpo das namoradas. Apesar de não ter ganho a Palma de Ouro, o filme venceu o Grande Prémio do Júri.
A secção Fórum do Festival de cinema alemão Berlinale procura expandir os limites daquilo que é um filme e tem curadoria independente, uma vez que é organizada pelo Arsenal – Institute for Film and Video Art, de Berlim.
Nas últimas semanas outros festivais de cinema anunciaram alterações nas edições previstas para este ano, por causa das medidas restritivas para conter a pandemia.
Foram os casos do Curtas de Vila do Conde, adiado de julho para outubro, do Festival de Animação de Lisboa – Monstra e do Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão, que estavam agendados para março.
O Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin) e a Festa do Cinema Italiano, que deveriam acontecer neste mês de abril, também foram adiados.