Com o aparecimentos dos primeiros casos de pacientes infetados com o novo coronavírus, a 2 de março, o dia-a-dia dos portugueses tem vindo a modificar-se. O teletrabalho foi uma das mudanças em que o Governo mais insistiu. No que a isto diz respeito, e apesar das funções excecionais que assumem, os deputados não foram exceção e muitos deles não se têm sentado nas respetivas bancadas.
Na bancada social-democrata, Duarte Marques diz ao i que “para quem foi pai há quatro meses, a quarentena não mudou assim tanto no que diz respeito às tarefas e a estar em casa”. O deputado, que durante o próximo mês está de licença de paternidade e, por isso, vê o seu mandato suspenso, revela que até agora tem “desfrutado da companhia da família”, sem deixar o trabalho de lado. “Mantemos contactos com as autoridades regionais para saber se está tudo a correr bem e para saber o que é preciso fazer”, explica, afirmando que têm sido também enviados alertas e sugestões ao Governo, nomeadamente, sobre coisas que o PSD recebe “por parte de pessoas que se queixam e pedem ajuda”.
“A necessidade aguça o engenho” Para Duarte Pacheco esta nova forma de passar os dias tem sido “mais desafiante”. “Temos que inventar”, explica o social-democrata, que, durante esta quarentena, tem conseguido praticar exercício físico, um dos seus hobbies favoritos. Os ginásios fechados não são desculpa para o deputado ficar parado e, na semana passada, começou por arranjar material com que pudesse trabalhar em casa. “Já fui arranjar mais peças para não ter só elásticos, mas também alguns pesos para podermos trabalhar durante estes dias”, revela ao i, explicando que é importante “manter a rotina”. Apesar de não ser “pelas melhores razões”, Duarte Pacheco confessa que estes dias têm servido para passar mais algum tempo em família. “Temos uma atividade política intensa. Infelizmente, paramos pouco tempo em casa”, diz, explicando que não é por agora estar em casa que o trabalho está parado. Apesar de as reuniões no PSD não estarem a decorrer “como habitualmente, quer ao mesmo ritmo, quer presencialmente”, a tecnologia tem sido a porta de entrada para algumas reuniões. “As minhas reuniões são, por norma, em Torres Vedras, para onde se deslocam pessoas dos vários concelhos. Hoje [sexta-feira] estamos a conseguir falar uns com os outros, cada um a partir da sua casa”, conta o deputado ao i, explicando que se esta nova forma de comunicar funcionar, pode tornar-se mais “presente” e com “consequências ambientais positivas”. “Em vez de nos metermos no carro e fazermos quilómetros, libertando dióxido de carbono para a atmosfera, podemos fazer de forma mais calma e menos dispendiosa para cada um de nós”, afirma, relembrando que “às vezes, a necessidade aguça o engenho”.
A questão ambiental é também referida por João Almeida, para quem esta nova forma de trabalhar “permite às entidades públicas perceberem algo que a nível privado já funciona muito”. “Mesmo a nível parlamentar. O Parlamento dos Açores tem as comissões a funcionarem assim. Não se deslocam de umas ilhas para as outras para reunir com comissões”, diz, defendendo que “o tipo de discussão se tem presencialmente não é o mesmo que se tem por videoconferência”.
O deputado eleito pelo círculo de Aveiro explica que há agora “uma organização de tempo e de espaço completamente diferente”. A partir de casa, o deputado centrista garante que “todas as dimensões do trabalho parlamentar continuam a existir”. Além de o teletrabalho permitir que o deputado acompanhe mais as atividades dos filhos e ajude nos trabalhos de casa e nos estudos, há ainda tempo para si. “Tenho lido mais do que conseguia ler”, garante, explicando que o facto de estar em casa têm-lhe permitido cumprir com algumas atividades agrícolas que estavam pendentes. “O tempo não passou a sobrar, continua a estar muito ocupado, mas de maneira diferente”, explica ao i.
Capacidade de adaptação Para Edite Estrela, esta nova forma de trabalhar “tem funcionado”. “Acho que o ser humano tem uma grande capacidade de adaptação a novas circunstâncias”, explica ao i, afirmando que as reuniões têm sido feitas por videoconferência e que “há sempre momentos hilariantes”, que servem para descomprimir. “Havendo quem esteja mais isolado, esses momentos a anteceder o trabalho também são de convívio e ajudam a passar o dia e a rir um bocado”, explica. A socialista confessa ao i que nunca fez tantas chamadas como agora e que este é um momento para pôr à prova a criatividade de cada um. “Também para nos mantermos saudáveis”, refere, dizendo que durante estes tempos não se pode ficar sentado no sofá. “Temos de ir fazendo exercício”, afirma, confessado que é assim que começa o dia. “Felizmente, tenho uma varanda que me permite fazer isso e apanhar um bocado de sol para que a vitamina D não fique a negativos”.