Não arrisco alvitrar que mundo será esse, mas não tenho dúvidas em vaticinar que será em tudo diferente do que até aqui conhecíamos. No entanto, se é uma verdade que resolver a parte económica é, neste momento, quanto a mim, secundário, porque de nada vale a pena haver economia se as pessoas até lá morrerem, há ainda assim esforços que têm de ser feitos imediatamente para que se consiga, dentro do possível, minorar os danos futuros. Neste sentido, debruço-me hoje sobre a abordagem de auxílio económico que está a ser colocada em marcha no nosso país, na medida em que considero que a mesma não é a mais correta.
Todo o procedimento que até ao momento foi anunciado pelo Executivo parece assentar, em grande medida, na disponibilização de linhas de crédito às empresas para que possam assim assegurar a sua viabilidade e os postos de trabalho que representam. Acontece que aquilo de que as nossas empresas neste momento realmente necessitam como de pão para a boca não é de créditos, por muito favoráveis que sejam, mas sim de liquidez imediata. Só assim conseguirão fazer face às suas imediatas e prementes necessidades de tesouraria e estancar o fantasma do desemprego em massa que todos começamos a ver pairar assustadoramente sobre a nossa sociedade.
Não faz sentido abrir linhas de crédito quando estas, por muito bonificadas que sejam, representam na verdade mais endividamento. Ora, neste momento não acredito que haja muitos empresários que estejam na disponibilidade de se endividarem perante um cenário imediato e futuro que em tudo se afigura trágico. Não faz sentido. Isto para não falar que estas linhas de crédito continuam, à boa moda portuguesa, a sofrer de enormes e lentas burocracias que em nada se compadecem com a urgência do momento que atravessamos.
Ouço muito falar agora em simplificação das medidas apresentadas, sobretudo no que ao layoff diz respeito. Mas o problema é exatamente esse. É que continuo e continuamos todos a ouvir falar nessa simplificação, mas continuamos sem vê-la. Por cada dia que passa sem que a mesma ocorra, é menos um dia de viabilidade que a maior parte das empresas portuguesas têm. Não podemos manter este paradigma. Devemos agir.
Claro que ninguém tem soluções perfeitas para este problema. Claro que todos os esforços económicos que agora se ponham em prática vão colocar em causa a sustentabilidade das finanças públicas, já tão sobrecarregadas por uma dívida externa que alguns incompetentes nos deixaram. Mas estamos num momento que não é de fazer contas. Esse chegará mais tarde e necessitará de toda uma coordenação que terá de ser feita a nível comunitário, e não apenas nacional. Neste momento há que abrir os cordões à bolsa como nunca se fez. E se, no imediato, esse grande esforço significar mais endividamento público, nunca pensei dizê-lo, mas é o momento de nos endividarmos ainda mais.
Se estavam a querer endividar-nos para construir novos aeroportos e mil e uma outras coisas sem as quais, eventualmente, viveríamos bem, não concebo que agora andemos a fazer contas para nos endividarmos fortemente, para garantir ao Serviço Nacional de Saúde tudo o que necessita para garantir a vida das pessoas e ao setor empresarial toda a liquidez necessária para que consigamos aguentar o mais possível o nosso tecido empresarial. Não há aqui espaço e, sobretudo, tempo para meias-tintas. Até porque convicto estou de que os custos de que estamos a falar, por muito elevados que sejam, e serão, continuarão ainda assim a ser muito inferiores aos que teremos de pagar pela incapacidade de decidir efetuá-los. Chegará o momento de fazer contas. Agora é o momento de abrir os cordões à bolsa sem constrangimentos e/ou preocupações económico-ideológicas.