Haja esperança

Haja esperança


Ainda não saímos da pandemia, mas a nossa cabeça já está voltada para a grande crise que se adivinha.


Há situações nas quais nos vimos envolvidos sem culpa aparente ou previsão. Umas, justas e boas; outras, pelo contrário, de uma tremenda injustiça e maldade. Nessas alturas procuramos uma saída que por vezes nos parece difícil ou impossível de alcançar.

Ainda não saímos da pandemia, mas a nossa cabeça já está voltada para a grande crise que se adivinha. Não sabendo ao certo o que nos espera, uma coisa sabemos: o momento vai exigir de todos uma grande capacidade inventiva e corajosa de encontrar soluções. O futuro da Europa está em perigo, as empresas e a economia correm o risco de colapsar. As famílias terão de repensar todos os seus projetos, sonhos e ambições. Fomos apanhados de surpresa. Foi como se nos tivessem assaltado a casa enquanto estávamos de férias. E o pior de tudo é que não tínhamos seguro e o alarme não tocou.

Através dos meios de comunicação social vamos ouvir e ler várias opiniões ao longo dos próximos dias, semanas e meses. No entanto, dificilmente algum de nós tirará da cartola a solução. Não o faremos porque, simplesmente, ainda não a temos. Mas para os que já estão preocupados, se sentem injustiçados e não conseguem vislumbrar saída alguma, aqui fica uma história que gosto de partilhar nas minhas aulas. Bem sei que já lá vai o tempo em que se contavam histórias, mas também já lá vai o tempo em que as famílias se reuniam ao serão.

Conta uma lenda, que na Idade Média, um homem foi injustamente acusado de ter cometido um crime. Na verdade, o autor desse crime era uma pessoa muito influente no reino e, por isso, desde o primeiro momento que pediu para que alguém fosse acusado e condenado no seu lugar. Um inocente foi levado a julgamento, sabendo que daí resultaria uma condenação certa: a forca! O juiz, que também estava combinado, simulou um julgamento justo, propondo uma sentença o mais justa possível, dizendo: “Sou profundamente religioso e por isso vou deixar a tua sorte nas mãos do Senhor: vou escrever num papel a palavra inocente e no outro a palavra culpado. Desta forma, escolherás um dos papéis e aquele que escolheres será a sentença final”. Sem que o alguém percebesse, o juiz preparou os dois papéis com a palavra culpado, fazendo assim com que não houvesse alternativa para o homem. Em seguida apresentou os dois papéis sobre a mesa e mandou o acusado escolher um. O homem, pressentindo o embuste, fingiu concentrar-se por alguns segundos a fim de fazer a escolha certa. Aproximou-se confiante da mesa, pegou num dos papéis e, rapidamente, colocou-o na boca e engoliu-o. Os presentes reagiram surpresos e indignados com tal atitude. E o homem, demonstrando esperança, disse: “Agora bastará olhar o papel que se encontra sobre a mesa e saber-se-á qual foi o que eu escolhi!”

Professor e investigador