O vírus que trouxe os fundamentalistas


Vivemos em regime de responsabilidade pessoal maior e convivência plural menor. De todos e por toda a parte. O coronavírus é “o” e o único assunto diário. Seja sobre economia e finanças ou até ao futebol, é a Covid que mais ordena.


Este tempo, psicologicamente maior que as normais 24 horas que temos diariamente, faz-nos ler mais. Ver mais notícias. Estar mais atento ao que se diz e escreve. E, para esses que utilizam o falso excesso de tempo como utilidade de recolher informação, seguramente têm lido o que se partilha de opinião nos jornais, se difunde em voz na rádio e ainda se vai seguindo nas redes sociais.

Nesse campo, há algo que não escapa à vista crítica de cada um de nós. Com pretexto do Coronavírus, a demagogia fácil trouxe à superfície do debate muitos fundamentalistas.

Os fundamentalismos que, geralmente, estão associados a ideias sectárias, inflexíveis e intransigentes sobre determinados temas. São os tipicamente apelidados de “donos da razão”.

Historicamente, os fundamentalistas estão sobretudo relacionados com a religião. Esta conotação primordial vem desde os primórdios do século XX, após a Primeira Guerra Mundial, quando surge nos livros as intransigências “Em nome de Deus” e nas discussões doutrinais o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo.

Mas há outro momento, apelidado de verdadeiro 1º dia do século XXI, em que se voltou a recuperar esse debate sobre os dogmas da verdade absoluta. Foi após o 11 de Setembro de 2001. É impossível ofuscar a força do debate mundial em torno dos pró ou anti-fundamentalistas religiosos após essa data. É o pináculo da discussão contemporânea sobre os fundamentalistas, extremistas e fanáticos religiosos. Os mesmos dogmas da verdade absoluta sobre a religião de hoje, em 2020, e também o mesmo enfoque que se teve quando se criou o conceito que lhe deu origem em meados de 1920. Um século de preto e branco.

Mas, sobre estes que se dividem o mundo apenas entre branco e preto, a Covid-19 abriu-lhes um brilhante espaço de antena para exporem ideias de forma optimista. Nunca se aplicou tão bem a expressão dos optimistas que diz a “cada dificuldade veem uma oportunidade”. E esta, a pandemia, foi a oportunidade de doutrinar em torno de fundamentalismos setoriais.

Assim, temos três grandes grupos de fundamentalistas cuja paternalidade tem o apelido de Coronavírus: Os nacionalistas, os anti-capitalistas e os (super) ambientalistas.

Os nacionalistas andam cheios de certeza de que o mundo não necessita de cadeias globais de comércio. Seguros em como apenas devíamos produzir tudo internamente e que se fosse tudo produzido na Europa não estaríamos dependentes da China. Sem a China, segundo este primeiro grupo, estávamos todos bem. Mas… Como é que não deduzem rapidamente que nos próximos tempos iremos precisamente precisar de cadeias globais e que serão estes os mecanismos essenciais ao reerguer de qualquer economia independentemente do País?

Sim, para ser claro, é verdade que parou a produção de alguns produtos produzidos em exclusividade na China e que esse bloqueio comercial reduziu a nossa primeira capacidade de produção. Mas, é igualmente verdade, será esta cadeia global que irá atenuar o decréscimo económico que prevemos após esta grave crise que todos já identificámos e que ainda ontem o Ministro das Finanças Mário Centeno assumiu pela primeira vez publicamente como certa.

Vamos ao segundo grupo de fundamentalistas:

Os do anti-Capitalismo. Aqueles que veem nesta fase de convulsão económica global a prova cabal de que é o Estado que tem de tratar de tudo e os mercados devem sempre ser intervencionados. Que este modelo de organização social e económica, descentralizado e assente na iniciativa privada, não resolve nada e precisa do Estado para subsistir. Nem Karl Marx foi capaz de tanto. Claro que têm razão… como se a “Economia de Guerra” fosse uma dita economia normal de funcionamento de mercado. Óbvio que não é normal. Óbvio que não têm razão nem espaço para estas afirmações com base na pandemia que vivemos.

Há ainda os fundamentalistas (super) ambientais. Estes que veem nesta crise a prova irrefutável de bons resultados para o meio ambiente e que, quando “queremos”, parar o mundo traz benefícios a todos. É o maior contra-argumento entre todos estes três grupos!

Quase que o fundamentalismo ambiental tenta demonstrar que a única maneira de produzir os resultados que pretendem é parando o mundo, mesmo com o enorme prejuízo económico que todos têm, vivem e viverão. O radicalismo e extremismo ambientalista de alguns está mesmo distraído na verdade do planeta.

Estes caminhos de extremismo demonstram a porta de oportunidade que se abre, como sempre a história o fez, aos moderados.

Primeiro: Se há benefícios do reforço das medidas de cooperação nas cadeias globais, na cooperação e no comércio livre como o século XXI o concebe, é para dar resposta a situações de risco e crise como esta.

Segundo: Se o capitalismo é o foco de desespero social para estes fundamentalistas de outro cariz, ainda bem que há o reverso da medalha e que temos iniciativa privada a produzir por sua conta material de segurança e proteção médica ou a imprimir 3D o que tantos ventiladores precisavam para conferir o oxigénio de esperança a quem a Covid limitou o sistema respiratório. Esses “perigosos” capitalistas que investiram milhões pelo mundo para financiar ventiladores, salas de isolamento ou materiais de suporte aos profissionais de saúde.

Terceiro: Sobre o ambiente, mais moderação também. É verdade que o abrandamento da produção, das deslocações e do consumo provocado pelas medidas para combater a pandemia do novo coronavírus trouxe boas notícias para a crise ambiental que já vivíamos antes da Covid. Há uma diminuição da poluição e das emissões de gases com efeito de estuda assinalável. Mas, se ao retomar a vida que levávamos até ao surgimento deste surto viral (que todos queremos, até os ambientalistas!) tudo voltar à «estaca zero», pouco ficará destas melhorias que hoje se assinalam. É preciso reformar o ambiente com memória. Memória do que hoje se passa e do que se melhora. Memória de que é preciso adaptar sem pausas e mudar com certezas, seja através de políticas de mobilidade suave ou mesmo substituição massiva por energias renováveis e amigas do ambiente.

Esta pandemia trouxe este vírus fundamentalista também. Mas, infelizmente, este resolve-se com maior facilidade do que a Covid que ainda percorre 177 países. Se os factos e a verdade erradicassem o Coronavirus como a história erradica os fundamentalistas, estaríamos todos longe de quarentenas.


O vírus que trouxe os fundamentalistas


Vivemos em regime de responsabilidade pessoal maior e convivência plural menor. De todos e por toda a parte. O coronavírus é “o” e o único assunto diário. Seja sobre economia e finanças ou até ao futebol, é a Covid que mais ordena.


Este tempo, psicologicamente maior que as normais 24 horas que temos diariamente, faz-nos ler mais. Ver mais notícias. Estar mais atento ao que se diz e escreve. E, para esses que utilizam o falso excesso de tempo como utilidade de recolher informação, seguramente têm lido o que se partilha de opinião nos jornais, se difunde em voz na rádio e ainda se vai seguindo nas redes sociais.

Nesse campo, há algo que não escapa à vista crítica de cada um de nós. Com pretexto do Coronavírus, a demagogia fácil trouxe à superfície do debate muitos fundamentalistas.

Os fundamentalismos que, geralmente, estão associados a ideias sectárias, inflexíveis e intransigentes sobre determinados temas. São os tipicamente apelidados de “donos da razão”.

Historicamente, os fundamentalistas estão sobretudo relacionados com a religião. Esta conotação primordial vem desde os primórdios do século XX, após a Primeira Guerra Mundial, quando surge nos livros as intransigências “Em nome de Deus” e nas discussões doutrinais o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo.

Mas há outro momento, apelidado de verdadeiro 1º dia do século XXI, em que se voltou a recuperar esse debate sobre os dogmas da verdade absoluta. Foi após o 11 de Setembro de 2001. É impossível ofuscar a força do debate mundial em torno dos pró ou anti-fundamentalistas religiosos após essa data. É o pináculo da discussão contemporânea sobre os fundamentalistas, extremistas e fanáticos religiosos. Os mesmos dogmas da verdade absoluta sobre a religião de hoje, em 2020, e também o mesmo enfoque que se teve quando se criou o conceito que lhe deu origem em meados de 1920. Um século de preto e branco.

Mas, sobre estes que se dividem o mundo apenas entre branco e preto, a Covid-19 abriu-lhes um brilhante espaço de antena para exporem ideias de forma optimista. Nunca se aplicou tão bem a expressão dos optimistas que diz a “cada dificuldade veem uma oportunidade”. E esta, a pandemia, foi a oportunidade de doutrinar em torno de fundamentalismos setoriais.

Assim, temos três grandes grupos de fundamentalistas cuja paternalidade tem o apelido de Coronavírus: Os nacionalistas, os anti-capitalistas e os (super) ambientalistas.

Os nacionalistas andam cheios de certeza de que o mundo não necessita de cadeias globais de comércio. Seguros em como apenas devíamos produzir tudo internamente e que se fosse tudo produzido na Europa não estaríamos dependentes da China. Sem a China, segundo este primeiro grupo, estávamos todos bem. Mas… Como é que não deduzem rapidamente que nos próximos tempos iremos precisamente precisar de cadeias globais e que serão estes os mecanismos essenciais ao reerguer de qualquer economia independentemente do País?

Sim, para ser claro, é verdade que parou a produção de alguns produtos produzidos em exclusividade na China e que esse bloqueio comercial reduziu a nossa primeira capacidade de produção. Mas, é igualmente verdade, será esta cadeia global que irá atenuar o decréscimo económico que prevemos após esta grave crise que todos já identificámos e que ainda ontem o Ministro das Finanças Mário Centeno assumiu pela primeira vez publicamente como certa.

Vamos ao segundo grupo de fundamentalistas:

Os do anti-Capitalismo. Aqueles que veem nesta fase de convulsão económica global a prova cabal de que é o Estado que tem de tratar de tudo e os mercados devem sempre ser intervencionados. Que este modelo de organização social e económica, descentralizado e assente na iniciativa privada, não resolve nada e precisa do Estado para subsistir. Nem Karl Marx foi capaz de tanto. Claro que têm razão… como se a “Economia de Guerra” fosse uma dita economia normal de funcionamento de mercado. Óbvio que não é normal. Óbvio que não têm razão nem espaço para estas afirmações com base na pandemia que vivemos.

Há ainda os fundamentalistas (super) ambientais. Estes que veem nesta crise a prova irrefutável de bons resultados para o meio ambiente e que, quando “queremos”, parar o mundo traz benefícios a todos. É o maior contra-argumento entre todos estes três grupos!

Quase que o fundamentalismo ambiental tenta demonstrar que a única maneira de produzir os resultados que pretendem é parando o mundo, mesmo com o enorme prejuízo económico que todos têm, vivem e viverão. O radicalismo e extremismo ambientalista de alguns está mesmo distraído na verdade do planeta.

Estes caminhos de extremismo demonstram a porta de oportunidade que se abre, como sempre a história o fez, aos moderados.

Primeiro: Se há benefícios do reforço das medidas de cooperação nas cadeias globais, na cooperação e no comércio livre como o século XXI o concebe, é para dar resposta a situações de risco e crise como esta.

Segundo: Se o capitalismo é o foco de desespero social para estes fundamentalistas de outro cariz, ainda bem que há o reverso da medalha e que temos iniciativa privada a produzir por sua conta material de segurança e proteção médica ou a imprimir 3D o que tantos ventiladores precisavam para conferir o oxigénio de esperança a quem a Covid limitou o sistema respiratório. Esses “perigosos” capitalistas que investiram milhões pelo mundo para financiar ventiladores, salas de isolamento ou materiais de suporte aos profissionais de saúde.

Terceiro: Sobre o ambiente, mais moderação também. É verdade que o abrandamento da produção, das deslocações e do consumo provocado pelas medidas para combater a pandemia do novo coronavírus trouxe boas notícias para a crise ambiental que já vivíamos antes da Covid. Há uma diminuição da poluição e das emissões de gases com efeito de estuda assinalável. Mas, se ao retomar a vida que levávamos até ao surgimento deste surto viral (que todos queremos, até os ambientalistas!) tudo voltar à «estaca zero», pouco ficará destas melhorias que hoje se assinalam. É preciso reformar o ambiente com memória. Memória do que hoje se passa e do que se melhora. Memória de que é preciso adaptar sem pausas e mudar com certezas, seja através de políticas de mobilidade suave ou mesmo substituição massiva por energias renováveis e amigas do ambiente.

Esta pandemia trouxe este vírus fundamentalista também. Mas, infelizmente, este resolve-se com maior facilidade do que a Covid que ainda percorre 177 países. Se os factos e a verdade erradicassem o Coronavirus como a história erradica os fundamentalistas, estaríamos todos longe de quarentenas.