A pandemia que vai mudar o mundo


Desengane-se quem acha que quando tudo isto passar o mundo voltará a ser o que era. Quer queiramos quer não – e acreditem que eu não quero nada – esta pandemia voltará a colocar em cima da mesa muitos temas que eram praticamente unânimes na sociedade: o controlo fronteiriço, a política de emissão de vistos turísticos,…


Nunca nos passou pela cabeça que a Europa viesse a viver uma tragédia como a que hoje enfrenta. Agravada ainda mais em países que nos são próximos e que nos dizem muito, como Espanha e Itália, com os quais partilhamos não só a proximidade geográfica, mas também muitos costumes, hábitos e até idiomas com algumas parecenças. Até há umas semanas, pandemias ou eram coisas que tinham acontecido há muitos anos, ou então eram coisas estranhas que só se passavam em países lá longe.

Desengane-se quem acha que quando tudo isto passar o mundo voltará a ser o que era. Quer queiramos quer não – e acreditem que eu não quero nada – esta pandemia voltará a colocar em cima da mesa muitos temas que eram praticamente unânimes na sociedade: o controlo fronteiriço, a política de emissão de vistos turísticos, uma maior robustez do uso da força policial e por aí em diante. Não faltarão membros da direita iliberal a tentar sacar todos esses fantasmas do armário. 

Alguma esquerda, como já ensaiou João Galamba, também aproveitará o momento para anunciar a morte do liberalismo e a necessidade de um Estado pesado e ultra-interventivo na economia. Esquecendo que se ao dia de hoje não existisse na saúde o terceiro sector (dos betinhos católicos) e o privado (dos betinhos empreendedores), o serviço nacional de saúde estaria absolutamente colapsado e sem capacidade de fazer face a esta emergência de saúde pública. Esquecendo que é verdade que o Estado está a ajudar as empresas, mas que é igualmente verdade que estas empresas que são agora ajudadas vivem no dia-a-dia permanentemente sufocadas por uma carga fiscal hedionda que reduz a meritocracia e desacelera o elevador social.  

Mas não será só a discussão política que irá mudar. Sabemos hoje que teremos uma crise financeira internacional pela frente – a boa notícia é que os principais bancos europeus preveem que venha a ser curta. Em Portugal, existirão obviamente também consequências económicas graves e inevitavelmente um orçamento rectificativo. Veremos como recuperará o sector do Turismo, que tanto peso tem na nossa economia. 

No entanto, de todas as alterações que esta pandemia nos vai trazer, as mais interessantes serão certamente as comportamentais. A quarentena muda-nos muito, certamente que em muitas coisas para melhor e noutras para pior. Nunca mais iremos viajar tão descontraídos e tão certos de que é algo completamente seguro. Nunca mais teremos os mesmo hábitos de higiene. Nunca mais iremos olhar para a nossa casa da mesma forma. Nunca mais teremos tantas certezas sobre a segurança da nossa economia e das nossas finanças pessoais.

Mas sairemos da quarentena também mais próximos dos nossos filhos, da nossa mulher, ou marido. Perceberemos que afinal havia tantas reuniões inúteis, que podiam ter sido uma video-call ou um simples e-mail. Perceberemos que há tantas coisas pequeninas que são um luxo inacreditável – como um café numa esplanada, um abraço a um amigo, umas flores fresquinhas compradas na banca do mercado ou um cerveja num bar com os amigos.

As calamidades são sempre calamidades e por isso nunca têm nada de bom. No entanto, dentro do mal que a nossa humanidade enfrenta, que existam no mínimo pequenas coisas que nos façam acreditar que é possível voltarmos a ter um futuro feliz. 

A pandemia que vai mudar o mundo


Desengane-se quem acha que quando tudo isto passar o mundo voltará a ser o que era. Quer queiramos quer não - e acreditem que eu não quero nada - esta pandemia voltará a colocar em cima da mesa muitos temas que eram praticamente unânimes na sociedade: o controlo fronteiriço, a política de emissão de vistos turísticos,…


Nunca nos passou pela cabeça que a Europa viesse a viver uma tragédia como a que hoje enfrenta. Agravada ainda mais em países que nos são próximos e que nos dizem muito, como Espanha e Itália, com os quais partilhamos não só a proximidade geográfica, mas também muitos costumes, hábitos e até idiomas com algumas parecenças. Até há umas semanas, pandemias ou eram coisas que tinham acontecido há muitos anos, ou então eram coisas estranhas que só se passavam em países lá longe.

Desengane-se quem acha que quando tudo isto passar o mundo voltará a ser o que era. Quer queiramos quer não – e acreditem que eu não quero nada – esta pandemia voltará a colocar em cima da mesa muitos temas que eram praticamente unânimes na sociedade: o controlo fronteiriço, a política de emissão de vistos turísticos, uma maior robustez do uso da força policial e por aí em diante. Não faltarão membros da direita iliberal a tentar sacar todos esses fantasmas do armário. 

Alguma esquerda, como já ensaiou João Galamba, também aproveitará o momento para anunciar a morte do liberalismo e a necessidade de um Estado pesado e ultra-interventivo na economia. Esquecendo que se ao dia de hoje não existisse na saúde o terceiro sector (dos betinhos católicos) e o privado (dos betinhos empreendedores), o serviço nacional de saúde estaria absolutamente colapsado e sem capacidade de fazer face a esta emergência de saúde pública. Esquecendo que é verdade que o Estado está a ajudar as empresas, mas que é igualmente verdade que estas empresas que são agora ajudadas vivem no dia-a-dia permanentemente sufocadas por uma carga fiscal hedionda que reduz a meritocracia e desacelera o elevador social.  

Mas não será só a discussão política que irá mudar. Sabemos hoje que teremos uma crise financeira internacional pela frente – a boa notícia é que os principais bancos europeus preveem que venha a ser curta. Em Portugal, existirão obviamente também consequências económicas graves e inevitavelmente um orçamento rectificativo. Veremos como recuperará o sector do Turismo, que tanto peso tem na nossa economia. 

No entanto, de todas as alterações que esta pandemia nos vai trazer, as mais interessantes serão certamente as comportamentais. A quarentena muda-nos muito, certamente que em muitas coisas para melhor e noutras para pior. Nunca mais iremos viajar tão descontraídos e tão certos de que é algo completamente seguro. Nunca mais teremos os mesmo hábitos de higiene. Nunca mais iremos olhar para a nossa casa da mesma forma. Nunca mais teremos tantas certezas sobre a segurança da nossa economia e das nossas finanças pessoais.

Mas sairemos da quarentena também mais próximos dos nossos filhos, da nossa mulher, ou marido. Perceberemos que afinal havia tantas reuniões inúteis, que podiam ter sido uma video-call ou um simples e-mail. Perceberemos que há tantas coisas pequeninas que são um luxo inacreditável – como um café numa esplanada, um abraço a um amigo, umas flores fresquinhas compradas na banca do mercado ou um cerveja num bar com os amigos.

As calamidades são sempre calamidades e por isso nunca têm nada de bom. No entanto, dentro do mal que a nossa humanidade enfrenta, que existam no mínimo pequenas coisas que nos façam acreditar que é possível voltarmos a ter um futuro feliz.