O mundo novo das aulas à distância ainda  não é perfeito mas merece “balanço positivo”

O mundo novo das aulas à distância ainda não é perfeito mas merece “balanço positivo”


Escolas privadas admitiam aulas à distância durante duas semanas. Processos de avaliação preocupam.


São muitas as escolas privadas que não esperaram pelo anúncio oficial do Governo para suspender as suas atividades letivas devido à pandemia e que já puseram em prática um plano de ensino à distância no arranque desta semana.

O Colégio S. João de Brito, em Lisboa, é um desses casos, reiniciando as suas aulas com recurso a plataformas digitais para todos os ciclos letivos. Pedro Valente, diretor  geral e pedagógico da instituição, explica ao i que os atuais “mecanismos ativos” passam pela utilização da Escola Virtual da Porto Editora [gratuita para todos os alunos nesta fase] no 1.º ciclo e da plataforma própria de interação com os alunos (denominada Neo) a funcionar no colégio desde 2015, para os 2.º e 3.º ciclos e secundário. “Usamos a nossa plataforma para partilhar materiais e para realizar exercícios”, realça. Para os alunos do ensino secundário também “é utilizado um sistema [chamado Zoom] que permite visionar aulas em tempo real”. Neste caso, as aulas decorrem à mesma hora, tal como acontecia até aqui, dada pelo mesmo professor, mas agora através dos ecrãs dos telemóveis, tablets ou computadores de cada aluno. E nas suas próprias casas.

Este sistema tem sido, aliás, adotado por diversas instituições de ensino privado em Portugal. Embora ainda tudo decorra de forma experimental e se admita a necessidade de acertos ao longo do tempo.

O Salesianos de Lisboa, por exemplo, apenas ontem começou a lecionar as suas aulas através de uma plataforma online, acessível através do site da instituição. Cada aluno já tinha uma password, mas, segundo apurou o i,  nem todos conseguiram de início ligação com o professor à distância. A Academia de Música de Santa Cecília, também na capital, pediu mais tempo aos pais para se adequar aos novos tempos, deixando apenas conselhos através de fichas e outro material em papel. E há ainda quem opte por ferramentas mais comuns, como o whatsapp, onde os professores colocam vídeos a conversar e a explicar aos alunos que tarefas devem cumprir – é o que acontece no 1.º ciclo do Colégio de S. Tomás, em Lisboa.

Mas nem só de escolas se faz um percurso académico, e também os centros de estudo têm procurado manter o contacto e uma atividade diária com os alunos que normalmente apoiam.  A opção passa pelo envio de fichas de exercícios ou planos de tarefas, que chegam por email. Mas há ainda espaços que reúnem toda a equipa –  explicadores, monitores e crianças – em videoconferências para partilha de ideias e para trazer normalidade ao quotidiano dos mais novos.

 Apesar da novidade, e das condições extraordinárias em que tudo decorre, o balanço feito por Pedro Valente “é muito positivo”. O diretor do Colégio S. João de Brito constata, porém, nesta fase, um problema difícil de contornar: “Temos tido conhecimento de dificuldades no uso de dispositivos informáticos”. A razão é simples: “Temos o pai, a mãe e dois, três ou quatro filhos em casa, todos a trabalhar. Dificilmente teremos famílias com seis dispositivos informáticos disponíveis”, explica, acrescentando que exatamente por isso tem sido “pedido aos professores que optem por trabalhos que possam ser feitos sem recurso ao computador ou então que alarguem o prazo de entrega desses trabalhos”.

Num momento de futuro incerto, Pedro Valente diz ao i aguardar “orientações do Ministério da Educação” em relação ao que se segue. “Tínhamos em mente uma semana e meia de atividade letivas não presenciais, mas que não requeriam processos de avaliação”. Porém, diz, quando está em aberto o cenário de todo o 3.º período decorrer à distância, “os processos de avaliação vão ser o grande desafio” para as escolas. “Só percebendo os tipos de materiais que conseguimos construir nestas primeiras semanas, é que vamos conseguir perceber como será possível a avaliação”, conclui Pedro Valente.