Não sei se às hortas ou se às urtigas!


É triste! É realmente muito triste observar o quão rudimentar é o funcionamento do Governo português, em que nem as mais altas patentes de determinado setor conseguem estar em consonância entre si. O Covid-19, além de ser um vírus, revelou uma vez mais, quiçá de forma bem mais gritante, outro vírus de que padecem os…


Como é possível que num espaço temporal pouco superior a dois meses, as declarações prestadas pela ministra da Saúde, pela diretora-geral da Saúde e pelo próprio primeiro-ministro sejam tão amadoras e ridículas, estando em causa um problema tão sério como a pandemia que hoje se verifica um pouco por todo o mundo? Já noutra sede tive oportunidade de elencar algumas das passagens mais caricatas sobre o caos que se vive no setor da saúde, mas nunca é demais relembrar.

Durante o mês de janeiro, considerou-se que face a esta situação, o país apenas deveria estar “muito atento” e que o SNS deveria aguardar “serenamente”. Em fevereiro, Marta Temido, em manifesta dissonância com Graça Freitas, disse depois que, afinal, seria “bem possível” que o país vivesse uma situação parecida com a de Itália. Depois veio António Costa que, liderando um Executivo falido, garantiu inchadamente que não “faltaria dinheiro para lidar com a epidemia do novo coronavírus”.

Curiosamente, continua o país inteiro sem compreender a profundidade dessas palavras e em que está a ser aplicado esse suposto fartote financeiro. No momento em que escrevo este artigo, Portugal e o Executivo estão literalmente perdidos. Ou se não estão, parece. Tanto é que uma vez mais a diretora-geral da Saúde nos brindou a todos com novas declarações verdadeiramente inaceitáveis, relacionadas com a crescente e legítima preocupação dos portugueses face a questões básicas do dia-a-dia. “Devo pôr comida em casa?” “Não devemos chegar a este ponto. Que cada um de nós recorra à horta de um amigo. Não açambarquem”, aconselhou. A minha pergunta é: está tudo doido? Peço imensa desculpa, mas não andamos nós, de facto, a ser governados por uma cambada de incompetentes? Mas isto são declarações que alguém com responsabilidades possa proferir? Recorrer a hortas? Ai, andamos rodeados de incompetentes de certeza.

E mesmo nos supostos planos de contingência a aplicar perante casos positivos, o desnorte é total. Igualmente no momento em que escrevo este artigo, o Governo ainda não definiu uma linha de orientação unitária para todo o país. E se hoje, quando sai o artigo, o cenário tiver mudado, em nada altera o que para trás ficou. Tanto temos escolas, e bem, a interromper o seu calendário escolar pela presença do vírus nas suas instalações – como aconteceu, por exemplo, na Amadora, em Portimão ou mesmo nalguns polos universitários – como, em Coruche, distrito de Santarém, a imprensa noticiou que mesmo perante um caso positivo de Covid-19, a escola (repito, no momento em que escrevo este artigo), mantém as portas abertas como se nada fosse.

Isto é negligenciar grosseiramente a vida dos demais alunos, professores, encarregados de educação e funcionários. Pior: também por notícias difundidas sobre este caso, o delegado regional de Saúde terá dito que os pais podiam estar descansados. Claro que podem. Mas não hão de poder estar porquê? Estejam. De facto, isto só num país de doidos! Alarmismos? Não. Histeria coletiva? Também não. Que para quem governa há de ser uma situação difícil? Com certeza que sim. Mas isso não é desculpa para manifestações, desculpem, de incompetência. Uma coisa é certa: não sei se podemos ir todos às hortas, mas há alguns que podiam ir às urtigas!

Escreve à sexta-feira


Não sei se às hortas ou se às urtigas!


É triste! É realmente muito triste observar o quão rudimentar é o funcionamento do Governo português, em que nem as mais altas patentes de determinado setor conseguem estar em consonância entre si. O Covid-19, além de ser um vírus, revelou uma vez mais, quiçá de forma bem mais gritante, outro vírus de que padecem os…


Como é possível que num espaço temporal pouco superior a dois meses, as declarações prestadas pela ministra da Saúde, pela diretora-geral da Saúde e pelo próprio primeiro-ministro sejam tão amadoras e ridículas, estando em causa um problema tão sério como a pandemia que hoje se verifica um pouco por todo o mundo? Já noutra sede tive oportunidade de elencar algumas das passagens mais caricatas sobre o caos que se vive no setor da saúde, mas nunca é demais relembrar.

Durante o mês de janeiro, considerou-se que face a esta situação, o país apenas deveria estar “muito atento” e que o SNS deveria aguardar “serenamente”. Em fevereiro, Marta Temido, em manifesta dissonância com Graça Freitas, disse depois que, afinal, seria “bem possível” que o país vivesse uma situação parecida com a de Itália. Depois veio António Costa que, liderando um Executivo falido, garantiu inchadamente que não “faltaria dinheiro para lidar com a epidemia do novo coronavírus”.

Curiosamente, continua o país inteiro sem compreender a profundidade dessas palavras e em que está a ser aplicado esse suposto fartote financeiro. No momento em que escrevo este artigo, Portugal e o Executivo estão literalmente perdidos. Ou se não estão, parece. Tanto é que uma vez mais a diretora-geral da Saúde nos brindou a todos com novas declarações verdadeiramente inaceitáveis, relacionadas com a crescente e legítima preocupação dos portugueses face a questões básicas do dia-a-dia. “Devo pôr comida em casa?” “Não devemos chegar a este ponto. Que cada um de nós recorra à horta de um amigo. Não açambarquem”, aconselhou. A minha pergunta é: está tudo doido? Peço imensa desculpa, mas não andamos nós, de facto, a ser governados por uma cambada de incompetentes? Mas isto são declarações que alguém com responsabilidades possa proferir? Recorrer a hortas? Ai, andamos rodeados de incompetentes de certeza.

E mesmo nos supostos planos de contingência a aplicar perante casos positivos, o desnorte é total. Igualmente no momento em que escrevo este artigo, o Governo ainda não definiu uma linha de orientação unitária para todo o país. E se hoje, quando sai o artigo, o cenário tiver mudado, em nada altera o que para trás ficou. Tanto temos escolas, e bem, a interromper o seu calendário escolar pela presença do vírus nas suas instalações – como aconteceu, por exemplo, na Amadora, em Portimão ou mesmo nalguns polos universitários – como, em Coruche, distrito de Santarém, a imprensa noticiou que mesmo perante um caso positivo de Covid-19, a escola (repito, no momento em que escrevo este artigo), mantém as portas abertas como se nada fosse.

Isto é negligenciar grosseiramente a vida dos demais alunos, professores, encarregados de educação e funcionários. Pior: também por notícias difundidas sobre este caso, o delegado regional de Saúde terá dito que os pais podiam estar descansados. Claro que podem. Mas não hão de poder estar porquê? Estejam. De facto, isto só num país de doidos! Alarmismos? Não. Histeria coletiva? Também não. Que para quem governa há de ser uma situação difícil? Com certeza que sim. Mas isso não é desculpa para manifestações, desculpem, de incompetência. Uma coisa é certa: não sei se podemos ir todos às hortas, mas há alguns que podiam ir às urtigas!

Escreve à sexta-feira