Para o júri, não seria preciso mais do que a primeira atuação da noite de sábado no Coliseu Comendador Rondão de Almeida, em Elvas, para fechar as contas. A pontuação máxima atribuída pelo júri foi, afinal, para Gerbera Amarela do Sul, do autor e intérprete Filipe Sambado. Mas, no Festival da Canção, o público também carrega a sua parte na tomada de decisão. E, para os telespetadores, a canção para a Eurovisão era a que vinha no final e era a de Bárbara Tinoco: Passe-Partout. No final, feitas as contas, estaria mesmo no meio a virtude e nem uma nem outra seriam a escolhida para representar Portugal em maio próximo, em Roterdão. Elisa (Silva, porque no concurso partilhava o nome com uma outra intérprete, Elisa Rodrigues) pode ter demorado a perceber (nunca foi boa de contas, confessaria na conferência de imprensa) mas, somadas as pontuações, era mesmo Medo de Sentir, o tema de autoria de Marta Carvalho que interpretara em penúltimo lugar, mesmo antes de Bárbara Tinoco, o vencedor do Festival da Canção de 2020.
Numa final marcada, como as semifinais disputadas nas últimas semanas de fevereiro, pela diversidade que sublinhara Conan Osíris mal lhe foi dada a palavra na primeira semifinal, apresentaram-se em Elvas Filipe Sambado (Gerbera Amarela do Sul), Jimmy P (Abensonhado), Tomás Luzia (Mais Real Que O Amor), Elisa Rodrigues (Não Voltes Mais), Throes + The Shine (Movimento), Kady (Diz Só), Elisa (Medo de Sentir) e Bárbara Tinoco (Passe-Partout) diante de um júri composto por Anabela, Capicua, Héber Marques, Isilda Sanches, Miguel Ângelo, Rui Miguel Abreu e Conan Osíris.
Ele que, mesmo apesar da classificação de fundo de tabela da Eurovisão de 2019, em Telavive, segue no Festival da Canção com honras até aqui indestronáveis. Como prova bastou a ânsia com que se aguardou pela versão acústica em que regressou, em Elvas, à Telemóveis vencedora da passada edição.
E se, em 2019, o seu primeiro lugar chegou sem grande surpresa – para o grande público, Conan Osíris poderia até ser desconhecido, mas desde o lançamento de Adoro Bolos, ainda no final de 2017, que um público mais especializado se havia já rendido a ele –, nesta 54.a edição não era certamente para Medo de Sentir que mais apontavam as divididas apostas – um tema que, nas palavras da autora, Marta Carvalho, só poderia ser interpretado por Elisa.
Numa conferência de imprensa a que chegou “sem voz”, falou num “sonho tornado realidade” e disse não acreditar em meias vitórias (não obteve pontuação máxima nem dos jurados nem do público, exceto na Madeira, de onde é natural, mas, à falta de consenso entre uns e outros, os dez pontos que recolheu em cada chegaram para lhe dar a vitória). “Para mim, e acho que para a Marta também, já é uma vitória enorme estarmos aqui e darem-nos uma oportunidade para mostrarmos o que gostamos de fazer”, disse, depois de terminada a final. “Não é de todo uma vitória pela metade, é uma vitória por inteiro”.
Mas quem é Elisa? Segundo a RTP, começou a participar em concursos musicais aos sete anos, na Madeira, e mais tarde, aos 13, chegou a aparecer em espetáculos transmitidos pela RTP Madeira. Participou nos Ídolos, sem contudo chegar à fase das galas televisivas, e passou ainda pelo curso de jazz do Conservatório da Madeira antes de se mudar para o Continente, onde estuda na Escola Superior de Música de Lisboa.
Foi aí que conheceu Marta Carvalho, convidada pela RTP para compor uma das músicas que seriam levadas às semifinais deste Festival da Canção. Conta a autora da música e letra de Medo de Sentir que a escreveu no dia exato em que conheceu Elisa, daí que acredite que só ela poderia cantá-lo.
Mas não só de vencedores (Bárbara Tinoco foi a segunda classificada, e Filipe Sambado o terceiro) ou do regresso de Conan Osíris se fez a noite deixada à condução de Filomena Cautela e Vasco Palmeirim, com Inês Lopes Gonçalves. Descrito como um dos momentos mais comoventes da noite tem sido aquele em que, da chamada Green Room, nos bastidores, enquanto aguardavam pelo encerramento da votação, os concorrentes cantaram em conjunto um medley com as oito músicas a concurso.