EUA. Biden varre o sul e isola-se no ringue com Sanders

EUA. Biden varre o sul e isola-se no ringue com Sanders


Primárias reduziram-se a uma luta um contra um depois da vitória surpreendente de Biden na “Super Terça-feira”.


De uma campanha moribunda a varrer os estados do sul na “Super Terça-feira”. As primárias do Partido Democrata deram uma nova reviravolta, com o ex-vice-presidente, Joe Biden, a destronar a liderança do senador Bernie Sanders. O leque de escolhas encurtou-se e agora os eleitores democratas terão, essencialmente, que escolher qual o melhor candidato e estratégia para derrotar Donald Trump em novembro: a moderação de Biden ou o socialismo democrático de Sanders?

A resposta pode ser dada apenas em julho, na convenção do partido, em Milwaukee, onde é oficializada a nomeação, caso nenhum candidato chegue ao número tão desejado de delegados para pôr um fim na corrida: 1991. Afinal, o multimilionário Michael Bloomberg, ex-mayor de Nova Iorque – que apostou tudo na “super terça-feira, gastando cerca de 500 milhões de dólares na campanha -, foi o único a desistir depois desta noite eleitoral (e apoiou Biden).

E há indicações de que, apesar de não ter ganho um único estado até ao momento, Elizabeth Warren continuará na corrida por mais algum tempo, segundo o Guardian – Warren ficou em terceiro no “seu” Massachussetts, o que é considerado uma pesada derrota.

A distribuição de delegados ainda não foi finalizada (a contagem de votos na Califórnia, por exemplo, pode durar mais de uma semana), mas com a vitória em dez dos 14 estados em disputa na passada terça-feira, Biden surpreendeu por vários fatores. 

Primeiro, ainda no fim de semana passado, esperava-se que Sanders saísse da “super terça-feira” com um avanço considerável de delegados e que marchasse sem obstáculos para a nomeação presidencial – o que amedrontou a cúpula do Partido Democrata. Outra surpresa foi que Biden tem menos recursos financeiros do que o senador e uma campanha muito menos sólida em termos organizacionais e apoio de base, logo era de esperar que tivesse menos hipóteses. 

Mas Biden aproveitou o impulso da grande vitória na Carolina do Sul e capitalizou o voto moderado com as desistências do ex-presidente da Câmara de South Bend, Peter Buttigieg, e da senadora do Minnesota, Amy Klobuchar, nas vésperas da maior noite eleitoral das primárias, onde são entregues um terço dos 3979 delegados.

Ambos os candidatos anunciaram o seu apoio ao vice de Barack Obama no final de segunda-feira, juntamente com a estrela democrata do Texas, Beto O’Rourke, numa demonstração de unidade partidária para evitar a nomeação de Sanders. Algo que pode ter tido uma influência decisiva nas eleições de terça-feira, pois em alguns estados onde venceu, cerca de metade dos eleitores decidiram o seu voto nos últimos dias, dizem as sondagens à boca das urnas da CNN.

O voto afro-americano – como no Alabama, onde ganhou por uma larga margem – e idoso foi, na sua grande maioria, para Biden. Mais surpreendente foram as suas vitórias no Texas, Virginia, Carolina do Sul e Massachussetts. 

Neste último, o ex-vice nem compareceu pessoalmente em campanha. Na Virgínia, estado com 99 delegados, realizou apenas um comício. No Texas, o segundo prémio em número de delegados (228), demonstrou-se a força de Biden entre o eleitorado negro, recebendo o voto de 6 em cada 10 eleitores afro-americanos, segundo o Washington Post. Aqui, o eleitorado negro foi determinante na estreita vitória contra o senador do Vermont.

Sanders foi rei entre o eleitorado hispânico, jovem e liberal. Apostou forte na Califórnia – estado com muito eleitorado hispânico – e colheu os frutos, embora não com a vitória folgada que desejava. Com 87% dos votos contados, o senador liderava com 135 delegados contra os 85 de Biden e um de Warren, segundo a contagem do New York Times. São 415 delegados em disputa, por isso, ainda pode haver surpresas na Califórnia, mas o senador do Vermont lidera em quase todos os condados. Um dos trunfos de Sanders é o eleitorado entre os 18 e os 29 anos. A falta de participação desta faixa eleitoral – apenas um em cada oito terão ido às urnas – não ajudou o senador. 

Neste momento, há a possibilidade real de as primárias só ficarem decididas em julho, numa convenção onde participará um exército de super-delegados. Mas a luta é renhida e os dois candidatos vão dar tudo por tudo para evitar esse cenário. 

A próxima ronda eleitoral acontece no dia 10 de março. Idaho, Michigan, Mississippi, Missouri, Dakota do Norte e Washington contabilizam 352 delegados. O grande prémio é o Michigan (125 delegados), onde será testado o apelo dos dois candidatos entre o eleitorado afro-americano, classe trabalhadora branca e a população suburbana.