O dia 5 de janeiro de 2020 deu ao País mais uma nota de como a Assembleia da República se está a transformar num verdadeiro espaço para decisões de relevo nacional, alterando o panorama político.
O debate em torno da péssima decisão que o PS tomou (sozinho) para a implementação de um projeto de expansão do metropolitano de Lisboa (a famosa “linha circular”), resultou numa deliberação que pretende evitar um mau investimento público.
Durante anos muito falei contra este mau investimento público, desde logo pelo facto de não se tratar de uma verdadeira expansão e, o próprio Metropolitano de Lisboa, fugiu sempre ao compromisso de facultar documentação para sustentar a sua argumentação.
É para todos evidente que o grande objetivo da utilização de um sistema de transporte, como o metropolitano, é o de poder assegurar a rápida ligação entre pontos relevantes, servindo concentrações de população e serviços, hubs de transportes coletivos de superfície e nós rodoviários e ferroviários.
Esta “linha circular” não promove a substituição do automóvel pelo Metro para entrar em Lisboa, que deveria ser a prioridade, para além de não cumprir o desígnio de expansão (e que, na realidade, atropela essa mesma expansão), mantendo o estrangulamento da estação mais frequentada da cidade: o Cais do Sodré.
Pensar cidade implica conjugar todos os elementos que a constituem, num objetivo de harmonia e fluidez, e é por isso que entendo importantes as estações em Santos e na Estrela, ligando a Alcântara respetivamente o Cais do Sodré e o Largo do Rato, por linhas diferentes.
Porque é em Alcântara que podemos parar o trânsito automóvel, vindo da marginal e da ponte sobre o Tejo, evitando assim que entrem dezenas de milhares de carros no centro da cidade.
E também porque é em Alcântara que vamos ter um novo (e muito importante) hospital na cidade de Lisboa.
Agora, pasme-se, vem o Partido Socialista, o primeiro a utilizar a Assembleia da República para promover a maioria que lhe permitiu governar, criticar maiorias parlamentares.
O PS veio acusar o PSD de "uma enorme irresponsabilidade" ao ter permitido o chumbo da linha circular do metro. Essa ideia de que, os sociais-democratas não pensaram nos "milhares de portugueses que utilizam transportes públicos", além de que o chumbo vai custar "para lá de 100 milhões de euros", entre a perda de fundos comunitários e indemnizações a empreiteiros, é uma argumentação fraudulenta.
O PSD chumbou a proposta precisamente porque pensou nos milhares de pessoas que utilizam os transportes públicos, em especial nos que não conseguem chegar à zona ocidental da cidade de metropolitano, e nos mais de quatrocentos mil que entram de carro em Lisboa, porque não existe uma verdadeira alternativa.
O PSD chumbou a proposta por entender que o dinheiro dos contribuintes, portugueses e europeus, não pode ser investido em maus projetos, ficando a ideia de que o que interessa é “sacar” dinheiro à União Europeia, independentemente da qualidade do projeto…
O PSD demonstrou uma enorme responsabilidade e sentido de Estado.
Para andarem de carrossel na linha circular, talvez preferissem ir à feira popular, se é que algum dia a CML irá avançar com essa obra…
Nem os parlamentares do PS, nem o ministro do Ambiente, nem os secretários de Estado que esbracejaram e gritaram no Parlamento, numa chantagem inadmissível sobre os grupos parlamentares, falaram verdade.
A obra ainda não começou e não se vão desperdiçar fundos europeus: vai poupar-se dinheiro dos contribuintes!
Numa obra que agora tem hipótese de ir ao encontro do que os moradores da grande Lisboa realmente precisam e não de um projeto megalómano e inútil que ignorou estudos, pareceres e abaixo-assinados de moradores e utentes de transportes públicos.
Governar é também ter a humildade de escutar o que os eleitores querem e não tratá-los como se não tivessem capacidade de discernimento para saber o que é melhor para as suas vidas. São eles que utilizam diariamente os transportes públicos.
Por isso alterem o objeto do contrato para uma obra que leve o metropolitano à zona ocidental da cidade (por exemplo) e de futuro pensem duas vezes antes de atuarem de forma prepotente e contra a vontade da população (e de uma clara maioria da Assembleia da República, que formou uma Coligação do Bom Senso).