Era o desfecho anunciado. Joacine Katar Moreira desvinculou-se ontem de madrugada do partido Livre e fez o anúncio na sua página oficial de Facebook, a única que tem nas redes sociais. “A sensação, por enquanto, não é de liberdade nenhuma. Mas de repente fez-se silêncio e isso é uma espécie de ouro neste momento”, escreveu a deputada, agora parlamentar não inscrita, no curto comentário sobre o assunto.
A decisão levou a uma onda de comentários na mesma rede social, alguns insultuosos, mas um a sugerir-lhe a criação de uma nova força política para o futuro.
Para já, a deputada, que dispõe de menos tempo para falar no Parlamento, terá de defender as propostas do Livre na discussão orçamental e replicou-as na sua página do Facebook. As medidas foram apresentadas quando Joacine Katar Moreira ainda era deputada eleita pelo Livre.
Do lado do partido, que Rui Tavares ajudou a fundar, a resposta é a de um desfecho normal depois de meses de desencontros e polémicas. Pedro Mendonça, dirigente do Livre, membro do grupo de contacto daquela força partidária, limitou-se a dizer ao i que é o “curso normal, era o esperado” – apesar de o partido, por norma, não comentar filiações ou desfiliações daquela força política.
A desfiliação de Joacine Katar Moreira é o epílogo de um processo conturbado entre a deputada e o partido que marcou o último congresso e ditou a retirada de confiança política à parlamentar. No início desta semana, os representantes do Livre reuniram-se com Ferro Rodrigues, presidente do Parlamento, e comunicaram a sua decisão, alegando que tinham optado pelos valores em detrimento da manutenção de um cargo político eleito. Na altura, Pedro Mendonça desejou “felicidades” à deputada. Ontem, ao i, o mesmo dirigente acrescentou que nunca esteve em cima da mesa pedir à parlamentar para sair do Parlamento: “Nunca iríamos pedir à Joacine para abdicar. Nunca jamais em tempo algum, porque o lugar é dela. E isso parte da vontade própria do deputado, neste caso da deputada”, afirmou ao i Pedro Mendonça. O Livre, apurou o i, responderá à carta de desfiliação com um registo administrativo, a acusar a receção do pedido.
De realçar que Joacine Katar Moreira passou a deputada não inscrita, o que significa que perde alguns direitos de um parlamentar único a representar uma força política. Por exemplo, a deputada não terá tempos definidos na grelha parlamentar para confrontar o primeiro-ministro nos debates quinzenais. Além disso, não poderá agendar um tema por cada sessão plenária e perde espaço também no recurso a declarações políticas.
No próprio hemiciclo, Joacine Katar Moreira passará para as filas mais recuadas por ser uma deputada não inscrita numa força política. Por fim, o seu orçamento também será reduzido, com menos cerca de 60 mil euros anuais.
Recorde-se que o Parlamento já teve outros deputados não inscritos, que se incompatibilizaram com as forças políticas que representavam. O mais recente foi Paulo Trigo Pereira, deputado eleito pelo PS, que saiu da bancada socialista no último ano da legislatura passada. Embora a saída não tenha sido conturbada, o então deputado teve de sair do gabinete que ocupava no espaço dos socialistas e mudar-se para uma sala contígua ao hemiciclo, nos andares cimeiros do Palácio de São Bento.
O i tentou obter alguma reação complementar da deputada, através do seu assessor, mas sem êxito.