Uma nova Europa


Confesso, no entanto, que entendo um pouco como ridículas as manifestações de choro ou mesmo a interpretação de algumas canções de despedida em plena sessão plenária. Convenhamos que política, para mais política internacional é matéria demasiado séria para estes pseudodramas teatrais.


Ao momento em que escrevo este artigo, raia o Sol numa nova Europa. Uma Europa sem o Reino Unido, que pese embora os seus tradicionais e mais profundos euroceticismos, fez indelevelmente parte de uma história comunitária aprofundada ao longo de largas décadas.

Perguntamo-nos muitas vezes ao longo da nossa vida, sobretudo quem gosta mais destas matérias, o que é a História. Outros olham-na como quase uma realidade paralela tantas vezes entendida como sendo uma disciplina apenas direcionada ao passado. Assim não acontece hoje. Nesta manhã de Sexta-Feira dia 31 de janeiro de 2020 faz-se História. Só o tempo dirá se má ou boa, porque na verdade entre Londres e Bruxelas ninguém ainda percebeu o que na verdade o Brexit concretamente significa. Tanto assim é que vários foram os eurodeputados que se apressaram a considerar que este momento não é um fim de linha política e social. Confesso, no entanto, que entendo um pouco como ridículas as manifestações de choro ou mesmo a interpretação de algumas canções de despedida em plena sessão plenária. Convenhamos que política, para mais política internacional é matéria demasiado séria para estes pseudodramas teatrais.

Aceito até que alguns me acusem de frieza nesta análise. E com ela não quero ferir quaisquer suscetibilidades porque o sentimento faz parte da vida. Mas transmite uma certa infantilidade em assuntos que não se compadecem com ela. À parte disso, e ilustrando a tal inexistência de fim de linha, estará um período temporal em que até ao fim deste ano civil, salvo algumas situações com carácter de excepcionalidade, se continuará a fazer sentir por terras de Sua Majestade muita da que é a legislação Europeia, o que também não é bom sinal porque a transição dever-se-ia ter acautelado antes da saída formal e nunca, a meu ver, depois dela. Talvez seja defeito meu por preferir que as decisões devam sempre ser tomadas depois de bem definidos os seus critérios.

Sobretudo as que representem qualquer afastamento. Mas verdade seja dita, foi a possibilidade menos má de entre este verdadeiro emaranhado que tem sido o Brexit. Até porque, tal como já se ouviu dizer, e mesmo que não se ouvisse seria intuitivamente expectável, este mesmo período de transição arrastar-se-á com certeza por mais alguns anos ainda que Johnson cada vez que fale se apresse a dizer que tal não acontecerá. Tal como disse, a História escreve-se cada dia. Assume-se na sua totalidade e como se diz por cá, prá frente é que é Lisboa. Portanto daqui para diante julgo ser do mais elementar interesse que Europa e Reino Unido possam encontrar pontos de convergência que continuem a permitir, com as distâncias britânicas pretendidas, entendimentos a todos os níveis.

O que será curioso observar é se este momento histórico não marcará também o início definitivo de uma mudança geostratégica culminando a mesma numa nova ordem mundial. Se a Europa já tinha grandes desafios, e verdade seja dita não tem sabido e conseguido resolver nenhuns, vê-los-á agora exponencialmente multiplicados. E também não vale a pena querer tapar o Sol com a peneira, os Britânicos foram sempre eurocéticos, mas nos últimos anos muito contribuiu Bruxelas com a sua tecnocracia para que o fosso das mesmas se agudizasse. A Europa só voltará a ser forte se primeiro voltar a ser uma União de Estados fortes. Se assim não acontecer, antevejo com muito pequena dúvida de errar que mais países vão querer também eles fazer parte de um novo mundo que na verdade podem nem saber o que é. Aguardemos os novos episódios. Como disse William Shakespeare, “A vida é enfadonha como uma história contada duas vezes”. Já que iniciaram uma nova, encontrem formas de pelo menos nalguma coisa a tornarem melhor que a anterior.

 

 


Uma nova Europa


Confesso, no entanto, que entendo um pouco como ridículas as manifestações de choro ou mesmo a interpretação de algumas canções de despedida em plena sessão plenária. Convenhamos que política, para mais política internacional é matéria demasiado séria para estes pseudodramas teatrais.


Ao momento em que escrevo este artigo, raia o Sol numa nova Europa. Uma Europa sem o Reino Unido, que pese embora os seus tradicionais e mais profundos euroceticismos, fez indelevelmente parte de uma história comunitária aprofundada ao longo de largas décadas.

Perguntamo-nos muitas vezes ao longo da nossa vida, sobretudo quem gosta mais destas matérias, o que é a História. Outros olham-na como quase uma realidade paralela tantas vezes entendida como sendo uma disciplina apenas direcionada ao passado. Assim não acontece hoje. Nesta manhã de Sexta-Feira dia 31 de janeiro de 2020 faz-se História. Só o tempo dirá se má ou boa, porque na verdade entre Londres e Bruxelas ninguém ainda percebeu o que na verdade o Brexit concretamente significa. Tanto assim é que vários foram os eurodeputados que se apressaram a considerar que este momento não é um fim de linha política e social. Confesso, no entanto, que entendo um pouco como ridículas as manifestações de choro ou mesmo a interpretação de algumas canções de despedida em plena sessão plenária. Convenhamos que política, para mais política internacional é matéria demasiado séria para estes pseudodramas teatrais.

Aceito até que alguns me acusem de frieza nesta análise. E com ela não quero ferir quaisquer suscetibilidades porque o sentimento faz parte da vida. Mas transmite uma certa infantilidade em assuntos que não se compadecem com ela. À parte disso, e ilustrando a tal inexistência de fim de linha, estará um período temporal em que até ao fim deste ano civil, salvo algumas situações com carácter de excepcionalidade, se continuará a fazer sentir por terras de Sua Majestade muita da que é a legislação Europeia, o que também não é bom sinal porque a transição dever-se-ia ter acautelado antes da saída formal e nunca, a meu ver, depois dela. Talvez seja defeito meu por preferir que as decisões devam sempre ser tomadas depois de bem definidos os seus critérios.

Sobretudo as que representem qualquer afastamento. Mas verdade seja dita, foi a possibilidade menos má de entre este verdadeiro emaranhado que tem sido o Brexit. Até porque, tal como já se ouviu dizer, e mesmo que não se ouvisse seria intuitivamente expectável, este mesmo período de transição arrastar-se-á com certeza por mais alguns anos ainda que Johnson cada vez que fale se apresse a dizer que tal não acontecerá. Tal como disse, a História escreve-se cada dia. Assume-se na sua totalidade e como se diz por cá, prá frente é que é Lisboa. Portanto daqui para diante julgo ser do mais elementar interesse que Europa e Reino Unido possam encontrar pontos de convergência que continuem a permitir, com as distâncias britânicas pretendidas, entendimentos a todos os níveis.

O que será curioso observar é se este momento histórico não marcará também o início definitivo de uma mudança geostratégica culminando a mesma numa nova ordem mundial. Se a Europa já tinha grandes desafios, e verdade seja dita não tem sabido e conseguido resolver nenhuns, vê-los-á agora exponencialmente multiplicados. E também não vale a pena querer tapar o Sol com a peneira, os Britânicos foram sempre eurocéticos, mas nos últimos anos muito contribuiu Bruxelas com a sua tecnocracia para que o fosso das mesmas se agudizasse. A Europa só voltará a ser forte se primeiro voltar a ser uma União de Estados fortes. Se assim não acontecer, antevejo com muito pequena dúvida de errar que mais países vão querer também eles fazer parte de um novo mundo que na verdade podem nem saber o que é. Aguardemos os novos episódios. Como disse William Shakespeare, “A vida é enfadonha como uma história contada duas vezes”. Já que iniciaram uma nova, encontrem formas de pelo menos nalguma coisa a tornarem melhor que a anterior.