OMS acredita que ainda é possível conter vírus

OMS acredita que ainda é possível conter vírus


São já mais de 9600 os doentes na China e só 181 estão curados. Peritos da OMS avisam que vão ser precisas “fortes medidas” em todos os países para travar a disseminação do novo coronavírus.


A epidemia é galopante na China e no espaço de um mês o número de doentes infetados com o novo coronavírus superou a barreira dos 9500 e o vírus espalhou-se por todo o país, um cenário que há menos de uma semana, quando estavam diagnosticados 700 casos contidos na região de Hubei, parecia impensável. À terceira reunião do comité de emergência, a Organização Mundial de Saúde decidiu declarar o novo vírus uma emergência de saúde pública de importância internacional, mas o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, insistiu mais de uma vez que não se trata de um voto de desconfiança para com a capacidade de Pequim em conter a epidemia. A decisão foi justificada com o receio de que o vírus alastre em países com sistemas de saúde menos robustos. “Não sabemos quais seriam os danos que este vírus faria se se espalhasse num país com um sistema de saúde mais fraco. Temos de agir agora para ajudarmos os países a prepararem-se para essa possibilidade”, afirmou.

Numa altura em que tem sido questionada a atuação das autoridades de Wuhan na resposta inicial ao surto – esta quinta-feira o responsável pelo centro de controlo de doenças da China, Zeng Guang, reconheceu na imprensa chinesa que o Governo de Wuan terá hesitado num momento crucial para conter o vírus e o perfeito do município já pôs o cargo à disposição – Tedros Adhanom Ghebreyesus elogiou a cooperação e transparência das autoridades chinesas, considerando que a resposta que têm dado ao surto é “impressionante”. Depois de várias companhias aéreas terem suspendido voos para a China e da Rússia ter anunciado o encerramento da fronteira com o país, a OMS deixou claro que não considera que existam razões para medidas que “interfiram desnecessariamente com as viagens internacionais e comércio”, não recomendando restrições. “Pedimos aos países que implementem decisões que sejam baseadas em evidência e consistentes”, apelou Tedros Adhanom Ghebreyesus, defendendo também que é altura de solidariedade internacional e de combater rumores e desinformação. “É tempo para factos e não medo, para ciência e não rumores, para solidariedade e não estigma”.

O comité de emergência, que desta vez foi unânime em recomendar a declaração de emergência, diz acreditar que ainda é possível travar o vírus, que já foi identificado em 19 países (Itália confirmou ontem os primeiros dois casos), na maioria das vezes em doentes recém-chegados da China. Mas deixa o aviso de que serão precisas “medidas fortes” em todos os países para “detetar precocemente a doença, isolar e tratar os doentes, rastrear contactos e promover medidas de isolamento social adequadas ao risco”, lê-se no documento com as conclusões da reunião, que reconhece que à medida que a epidemia evolui pode haver novas indicações. Em Portugal, o plano de contingência foi ativado na semana passada com três hospitais de prevenção para receber possíveis doentes (Estefânia e Curry Cabral em Lisboa e S. João no Porto). Não foi implementado o rastreio de passageiros provenientes da China à chegada ao país, medida que continua a não ser recomendada pela OMS, ainda que tenha sido imposta em vários países. O rastreio de passageiros à saída continua a estar apenas recomendado para todos os aeroportos e portos chineses, com vista à deteção precoce de sintomas. A Direção Geral de Saúde publicou esta quinta-feira uma circular com orientações para liar com possíveis casos suspeitos. Os hospitais e centros de saúde têm de afixar cartazes a alertar os utentes para caso tenham estado recentemente em áreas afetadas pelo vírus e apresentem sintomas de infeção respiratória (febre, tosse ou dificuldade respiratória aguda) devem informar o segurança ou administrativo e os profissionais devem ser treinados para despistar doentes suspeitos. Deverão ser colocados em áreas de isolamento definidas para o efeito, um quarto ou sala. Todas as unidades devem ter máscaras disponíveis. Foram também emitidas orientações para os profissionais de emergência pré-hospitalar, que começaram ontem a ser transmitidas pela Proteção Civil aos bombeiros.