O bocado da jornada n.o 18 que se disputou entre segunda e quarta-feira serviu para que uns e outros voltassem a fazer contas. Silas, por exemplo, depois de o Sporting ter batido o Marítimo em Alvalade (1-0), resolveu, com toda a legitimidade que lhe assiste, olhar para cima e afirmar que quer ir em busca do segundo lugar. Talvez contasse com a fase complicada do FC Porto para ganhar, no mínimo, um pequeno pontinho. Sérgio Conceição, ainda que metido numa camisa, já não direi de onze varas, mas para aí de umas sete, não esteve pelos ajustes. Mais com o coração e com a alma do que com lucidez, o dragão viu-se livre do Gil Vicente – um cliente crónico das Antas, onde até hoje só soube perder – vencendo por 2-1 e mantendo os 12 pontos de vantagem para o leão.
Reafirmo que Silas tem todo o direito de se recusar a olhar para baixo. Ninguém lhe retira a coragem do discurso, ainda por cima no momento em que ficou sem a única pérola que podia exibir no dedo anelar, após a transferência de Bruno Fernandes para o Manchester United, e vai ter de puxar pelas meninges para ensinar a equipa a jogar desamparada do seu capitão. Precisará de argúcia, não restam dúvidas.
Na quarta-feira à noite recebeu a notícia de que o surpreendente Braga de Rúben Amorim continua em estado de graça e foi vencer, a Moreira de Cónegos, o Moreirense por 2-1, mantendo um ritmo impressionante e chegando à quinta vitória em cinco jogos. Olha-se para a classificação e o que se vê? Sporting, 32 pontos; Famalicão, 31; Braga, 30; Rio Ave, 28. Ora tubérculos! A coisa está brava!
Se olhar para baixo, sem vertigens, Jorge Silas agrada-se por já lá ver o Famalicão, que andava na sua frente até à derrota caseira com o Santa Clara, na última jornada, mas não poderá deixar de observar o Braga com evidentes cuidados, sendo de aceitar que o treinador de um clube como o Sporting não se deixe invadir por receios. Ainda mais sabendo que no domingo, pelas 17h30, vai à Pedreira, e uma eventual derrota faz com que os bracarenses ultrapassem os verde-e-brancos. Talvez o Famalicão-Rio Ave de hoje, às 21h15, o console por um ou os dois dos que o seguem terem de perder pontos. Até porque a próxima saída do Sporting é precisamente a Vila do Conde. Há muito para decidir entre aqueles que se batem pelos lugares europeus, cabendo-me pedir desculpas a Silas por não ter qualquer crença no seu novo sonho.
Na frente Aproxima-se vertiginosamente o dia 8 de fevereiro, aquele em que o FC Porto recebe o Benfica e pode devolver ao campeonato uma nova chama no caso de vitória, reduzindo a diferença para o primeiro posto a uns quatro pontos, bem mais recuperáveis do que os atuais sete.
Claro que tudo isto é muito bonito de se dizer, ou escrever, neste caso, mas ainda há questões por resolver até lá. A primeira delas já hoje, na Luz, às 19h00. O Benfica defronta aquele clube anteriormente conhecido por Belenenses, agora comandado por alguém que deixou litros e litros de suor na camisola encarnada, uma personagem do quilé chamada Armando Teixeira e mais conhecido por Petit. A uma semana de ir ao Porto, perder pontos seria um desastre. Mas está aí o jogo da época passada, o único que a águia não ganhou depois da chegada de Bruno Lage, para servir de aviso.
A expressão desastre transfere-se ipsis verbis para a possibilidade de o FC Porto não sair de Setúbal com uma vitória, no sábado às 20h00, isto é, mais ou menos à hora em que o árbitro der por finda a peleja frente ao Vitória local. Parece andar em bom momento a equipa do espanhol Julio Velázquez Santiago, vinda de duas vitórias consecutivas, a mais recente em Tondela por 3-0. Não me parece que seja suficiente para travar a recuperação anímica do dragão, a sair da onda de choque provocada pelas palavras do seu treinador numa flash interview, logo seguida do silêncio de uma conferência de imprensa na qual pura e simplesmente não pôs os pés e de outra ainda que nem chegou a existir, a de antevisão ao jogo com o Gil Vicente. Vale a Sérgio Conceição a submissão corporativa dos órgãos de comunicação, que desprezou de forma inaceitável – e, com essa atitude, desprezou também todos os adeptos que por esses meios seguem o que acontece no clube que lhe paga. Correram todos de microfones e gravadores em riste a beber as suas palavras. E ficámos a saber que só ficaremos a saber o nome dos promotores da desunião portista quando Conceição estiver para aí virado. Por mim, espero sentado.