Berlinale suspende prémio por novas evidências de passado nazi de Alfred Bauer

Berlinale suspende prémio por novas evidências de passado nazi de Alfred Bauer


Prémio Alfred Bauer, que em 2012 distinguiu Tabu, de Miguel Gomes, foi imediatamente suspenso depois do jornal Die Zeit ter publicado uma investigação com novas provas do passado nazi do primeiro diretor do festival.


Foi o primeiro diretor do Festival de Cinema de Berlim. E era já conhecida, pelo menos em parte, a sua ligação ao III Reich de Hitler. Historiador de Cinema e jurista, Alfred Bauer trabalhou na década de 1940 para o departamento de cinema do regime nazi. Do seu currículo constava também o papel desempenhado enquanto conselheiro do governo militar britânico para as questões de cinema no pós-guerra. Mas anteontem, a menos de um mês do início da 70.ª edição do festival, que arranca a 20 de fevereiro na capital alemã, o Die Zeit publicou uma investigação que prova que as ligações de Bauer ao regime de Hitler eram mais profundas do que o que até aqui se julgara.

A reação do festival que dirigiu até 1976 foi imediata. “No artigo de hoje do Die Zeit são citadas fontes que lançam uma nova luz sobre o papel de Alfred Bauer [no regime]”, lia-se num tweet publicado na página do festival. “A interpretação destas fontas sugere que ocupou lugares de relevo durante o período nazi”. A direção anunciou assim a suspensão “com efeitos imediatos” do Urso de Prata Prémio Alfred Bauer. Um prémio instituído em 1987 em homenagem ao primeiro diretor do festival fundado nos anos do pós-guerra, numa cidade ainda semi-destruída, por Oscar Martay, um militar dos serviços de informação do exército americano na Alta Comissão dos Aliados na Alemanha ocupada. Em 2012, Tabu, de Miguel Gomes, foi distinguido com o Prémio Alfred Bauer.

Segundo a investiação do Die Zeit, Bauer dedicou-se no pós-guerra a apagar as provas do seu nível de comprometimento com o III Reich, que incluem “um lugar de topo na burocracia nazi”, no departamento de cinema do Ministério da Propaganda de Joseph Goebbels. Segundo o jornal, Bauer tinha poderes de decisão sobre a produção cinematográfica nacional, incluindo a escolha de atores e de realizadores. Decisões como dispensas do serviço militar passavam também pelas suas mãos, segundo o jornal. Num dos documentos até aqui desconhecidos a que o jornal teve acesso, Bauer é descrito por um oficial do partido de Hitler como um “ávido SA”, a força paramilitar em que se apoiava o III Reich.

welket Bungué protagoniza filme em competição No mesmo dia em que a direção do festival anunciou a suspensão do prémio atribuído em honra do primeiro diretor do festival, foi também anunciada a lista dos 18 filmes em Competição, secção de onde sairá o vencedor do Urso de Ouro da edição de 2020 e na qual estrearam nos últimos anos Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira, e Colo, de Teresa Villaverde. E depois de em meados de janeiro se ter tornado oficial a seleção de A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos, para a nova secção competitiva Encontros, criada pelo novo diretor artístico do festival, Carlo Chatrian, um outro nome português, o ator Welket Bungué, nascido na Guiné-Bissau, marcará presença no festival, como protagonista de Berlin Alexanderplatz, de Burhan Qurbani, uma das longas-metragens exibidas na Competição, juntamente com os novos filmes de Hong Sangsoo, Philippe Garrel, Sally Potter, Abel Ferrara e Christian Petzold.

Na secção Forum Expanded, tem a sua estreia internacional Crioulo Quântico, de Filipa César, e entre as European Shooting Stars, uma plataforma para promover novos talentos da representação junto da indústria, está a atriz Joana Ribeiro.