A 27 de Janeiro de 1945, há precisamente 75 anos, as tropas soviéticas libertaram os campos de concentração de Auschwitz, tendo por isso a Assembleia Geral da ONU decretado este dia como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Devemos, por isso, todos recordar a memória dos seis milhões de vítimas inocentes que foram brutalmente assassinadas pelo regime mais pérfido que alguma vez terá existido na história da humanidade.
Visitei Auschwitz há uns anos e é impossível não sentir uma profunda sensação de revolta perante os brutais crimes que foram ali praticados. Choca-nos pensar que aquela linha de comboio representou o fim da vida de um milhão de pessoas. Achamos inconcebível terem lá existido gabinetes médicos onde, em lugar de se tratarem doentes, se faziam experiências com seres humanos. Ficamos indignados quando vemos as ruínas das câmaras de gás, onde se procedia ao assassínio sistemático de homens, mulheres e crianças. E é especialmente revoltante ver como os nazis recolhiam sistematicamente os pertences das pessoas que assassinavam, como malas, roupas e sapatos, que ali eram armazenados, demonstrando que o Holocausto não foi apenas um extermínio organizado, mas também um roubo em larga escala. Tive ocasião de ver, em Hamburgo, pequenos dísticos à entrada de casas, referindo que a família que ali morava tinha sido morta em Auschwitz, tendo sempre pensado quem estaria hoje a habitar aquela casa que lhes pertencia e como teria ela chegado à sua posse.
No monte Herzl, em Jerusalém, encontra-se o Yad Vashem, o museu oficial de Israel em memória das vítimas do Holocausto, que tive ocasião de visitar recentemente. O nome Yad Vashem recorda um versículo do profeta Isaías (56.5): “Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome (Yad Vashem), melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará”. E, de facto, o museu cumpre a tarefa de não permitirmos que se apaguem os nomes eternos das inúmeras vítimas do Holocausto, e possibilita-nos prestar respeito à sua perene memória. É um museu magnífico, que documenta na perfeição os inúmeros crimes praticados pelo regime nazi alemão.
Nesse museu encontra-se um mapa da Europa, referindo as vítimas do Holocausto nos diversos países europeus, demonstrando a enorme dimensão dessa tragédia. Não podemos deixar de sentir orgulho quando verificamos que em Portugal não houve nenhuma vítima do Holocausto. Antes pelo contrário, o museu presta homenagem a Aristides de Sousa Mendes, considerado justo entre as nações por ter concedido vistos a milhares de refugiados em Bordéus, atribuindo grande destaque à frase por este proferida: “Antes de bem com Deus e de mal com os homens que de bem com os homens e de mal com Deus”.
Quando, no mundo de hoje, assistimos ao regresso de doutrinas racistas e anti-semitas, bem como à falta de auxílio a refugiados perseguidos nos seus países de origem, é bom que recordemos sempre Auschwitz.
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Escreve à terça-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990