Tinham passado poucas horas desde que a BBC se referiu a Isabel dos Santos como a “bilionária corrupta” e menos horas ainda desde que Rui Pinto assumira que foi o pai do caso que ficou conhecido como Luanda Leaks, quando a empresária angolana fez saber que vai processar o consórcio internacional de jornalistas que denunciou diversos documentos que apontam para alegados desvios de milhões da Sonangol e para outros benefícios.
“Refuto as alegações infundadas e falsas afirmações e informo que deram início as diligências para as ações legais contra [o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação] e parceiros [deste], as quais serão conduzidas pela empresa internacional de advogados Schillings Partners”, disse à Lusa, defendendo que está a ser “alvo de uma campanha […] orquestrada por vários órgãos de comunicação social”.
Isabel dos Santos afirma mesmo que os documentos utilizados foram selecionados e mal interpretados de modo a extrair determinadas conclusões e lembra que na sua base estão “e-mails obtidos criminalmente por via de hacking”.
No comunicado enviado àquela agência reforçou ainda que “as empresas com as quais [opera] são legítimas, pagam impostos” e que “nenhuma foi jamais condenada por atividade criminal”.
Rui Pinto, o ‘pai’ dos Luanda Leaks
Ontem as dúvidas acabaram: Rui Pinto foi a única fonte do caso Luanda Leaks. O hacker português defende que encontrou todo o manancial de informação – mais de 700 mil documentos – por acaso quando passava a pente fino todos os dados do escritório PLMJ para encontrar informações de negócios do mundo do futebol.
O seu advogado francês, William Bourdon, disse ao New York Times que o disco com a informação lhe foi entregue na Hungria em 2018 num encontro com o jovem hacker: “Consegui criar com ele uma relação de confiança e ele decidiu partilhar connosco a informação de um grande escândalo em África”.
Luís Pais Antunes, sócio-gerente da PLMJ, assegurou, no entanto, ao mesmo jornal que a informação relativa ao Luanda Leaks não terá sido encontrada nos ficheiros do escritório.
Ao i, Francisco Teixeira da Mota avança com uma possível explicação: Rui Pinto, seu constituinte, entregou documentação ao consórcio, mas estes jornalistas investigaram depois o caso, recolhendo eles próprios mais documentos, inclusivamente com deslocações a Angola. “Não há dúvida de que o consórcio fez uma investigação autónoma. Tiveram acesso a documentos, depois foram recolher mais. Foram a Luanda. Estiveram um ano a trabalhar”, diz. O advogado do hacker afirma ainda que esta revelação “vem reforçar o entendimento da defesa de que Rui Pinto é um denunciante”.
“Ele [Rui Pinto] tinha entregue isso há um ano, sabia que estava a ser investigado, mas não sabia se estava mais ou menos adiantado. Ele tinha a noção de que tinha descoberto coisas graves, por isso é que entregou, não era banda desenhada. Sabia que eram coisas sérias e graves”, acrescentou o advogado.
Já quanto às ações anunciadas por Isabel dos Santos, Teixeira da Mota não se mostrou surpreendido: “É natural que avance com ações judiciais. Vai arranjar mais uma armada de advogados, consultores e contabilistas. É a obrigação dela…”
Questionado ainda sobre o porquê de Rui Pinto ter receio de agora ser colocado numa cadeia de alta segurança, Teixeira da Mota disse apenas que este é um medo recente: “Não sei porque surgiu o receio de ser colocado numa cadeia de alta segurança. Era uma preocupação que antes do Luanda Leaks não manifestava”.