Ministro para a Administração Interna, procura-se


Bem sei que o que escrevo não é inédito, nem sequer neste espaço de opinião que semanalmente assino. No entanto, começa a ser realmente confrangedora a manutenção de Eduardo Cabrita como ministro da Administração Interna, que é tão-somente uma das áreas mais importantes da governação e a qual o sr. ministro já demonstrou não ter…


Bem sei que o que escrevo não é inédito, nem sequer neste espaço de opinião que semanalmente assino. No entanto, começa a ser realmente confrangedora a manutenção de Eduardo Cabrita como ministro da Administração Interna, que é tão-somente uma das áreas mais importantes da governação e a qual o sr. ministro já demonstrou não ter a mínima capacidade para tutelar. Depois de, no Parlamento, André Ventura afirmar ter conhecimento de que as forças de segurança compram material do seu próprio bolso, responderam-lhe que devia mudar de informador. Depois colocaram em causa a veracidade das faturas apresentadas, uma vez mais, por Ventura, que davam conta das aquisições a título pessoal do material trazido à liça. Eis que agora Cabrita, em entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, veio proferir declarações verdadeiramente vexatórias e inaceitáveis a um governante. Mais coisa menos coisa, por estes ou termos parecidos, terá dito na supracitada entrevista que as forças policiais só compram equipamento do seu próprio bolso porque querem e que não têm necessidade nenhuma de o fazer. Perante estas declarações, só há dois caminhos de análise: no primeiro, o sr. ministro, com o devido respeito, sofre no mínimo de um qualquer surto de falta de memória, esquecendo-se das respostas que se deram a André Ventura no Parlamento assegurando que esta realidade não se verificava em Portugal. Se for este o cenário, estou certo de que a coisa se resolve com recurso a umas embalagens de Memofante – passe a publicidade desinteressada – para que recupere com a maior celeridade possível. Já no segundo cenário, Cabrita é simplesmente incompetente para as funções que lhe estão confiadas e, pior que isso, parece ousar fazer das nossas forças de segurança gente completamente desequilibrada, na medida em que, não bastassem já os vergonhosos vencimentos que auferem, contrastantes com a importância das funções que lhes estão confiadas, e a diminuição do prestígio social que a classe devia merecer, mesmo assim se dão ao luxo de comprar do seu bolso materiais que, pela conversa do ministro, devem ser encarados como supérfluos. Peço imensa desculpa do termo que vou usar, mas vai já sendo hora de alguém dizer o que tem de ser dito com crueza. O sr. ministro anda a fazer-nos todos de parvos, anda somente a fazer de parvos os agentes das nossas forças de segurança ou anda a fazer-se passar por parvo a si próprio? É que ainda na citada entrevista, apesar de primeiro vir dizer que as compras de material a título pessoal só existem porque os agentes as querem fazer e sem delas terem necessidade, acrescenta depois que, ainda assim, não pode garantir que não haja falhas de material, afirmando mesmo que, e cito “falta muita coisa nas nossas forças de segurança e é necessário recuperar e, por isso, temos padrões tão exigentes como aqueles que estão neste Orçamento do Estado”. Quer dizer, tudo isto parece inequivocamente um discurso para malucos, acrescentando-se a ele esta coisa dos padrões de exigência constantes do Orçamento do Estado que, muito verdadeiramente, por já o ter lido na íntegra, não só não sei onde estão como sequer ao que hipoteticamente se aplicam. Já a semana passada escrevi sobre isso e não me repetirei, mas tudo não passa de uma pachangada geral. Aqui chegados, o que verdadeiramente me preocupa já não é a manifesta falta de jeito, sensibilidade e coerência do sr. ministro, porque aí não há qualquer novidade. O que me aborrece, sim, é que não perceba o próprio que, se se demitisse ontem, já o fazia atrasado, e que na ausência desse impulso pessoal o seu primeiro não o faça por si. Portanto, sendo difícil acreditar que os agentes das nossas forças de segurança só comprem material porque querem, e que disso não têm necessidade, julgo que já não há é necessidade nenhuma de mantermos em funções um ministro manifestamente inapto para a pasta. Mas estamos em Portugal. Haja sol!

 

Escreve à sexta-feira