PGR de Angola vem a Lisboa num clima de “total alinhamento”

PGR de Angola vem a Lisboa num clima de “total alinhamento”


Isabel dos Santos foi constituída arguida e PGR angolano vai reunir-se com homóloga portuguesa. António Costa diz que há um “total alinhamento de pontos de vista sobre esta matéria” entre os dois países.


Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi constituída arguida pela justiça angolana por má gestão e desvio de fundos da Sonangol, a petrolífera estatal daquele país. O anúncio foi feito ontem pelo procurador-geral de Angola, Hélder Pitta Grós, em conferência de imprensa realizada em Luanda, na qual foi revelado que o inquérito-crime nasceu de uma queixa do atual presidente do conselho de administração da petrolífera, Carlos Saturnino, e que já fez outros arguidos (alguns portugueses), como Sarju Raikundalia, que foi administrador financeiro da Sonangol; Mário Leite da Silva, gestor de Isabel dos Santos; Paula Oliveira, amiga pessoal de Isabel dos Santos e administradora da Nos; e Nuno Ribeiro da Cunha, que é diretor no EuroBic. Este último responsável foi encontrado na sua casa de férias pela empregada a 7 de janeiro com vários ferimentos graves, tendo dito que se tratara de uma tentativa de suicídio, mas a PJ não afasta para já o cenário de tentativa de homicídio.

“Neste momento, a preocupação é notificar e fazer com que venham voluntariamente à justiça”, afirmou Hélder Pitta Grós, explicando que estas pessoas, que se encontram fora do território angolano, são suspeitas de serem testas-de-ferro da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
 
Encontro envolto em suspense e as decisões de Isabel dos Santos Também ontem ficou a saber-se que o homem que lidera o Ministério Público de Angola estava a caminho de Portugal, onde hoje se vai reunir com a homóloga portuguesa, Lucília Gago – uma notícia avançada pela SIC. Até ao final da tarde não havia qualquer registo de tal reunião na agenda da procuradora-geral da República.

Pitta Grós já tinha deixado claro numa entrevista que concedeu àquela estação que tencionava solicitar auxílio a Lisboa não só para a investigação à fortuna de Isabel dos Santos como também para os portugueses que estão envolvidos neste caso.

Mas na esfera dos negócios, as revelações do chamado caso Luanda Leaks também estão a dar um abanão. Depois de se saber que o banco EuroBic tinha avançado para um corte de relações comerciais com entidades relacionadas com Isabel dos Santos, ontem foi dado mais um passo relevante, anunciado pela própria instituição bancária: a empresária decidiu vender os 42,5% do capital que detém no banco. Além disso, a angolana renunciou “em definitivo ao exercício dos seus direitos de voto”.

Também na Nos houve desenvolvimentos, com o conselho de administração a decidir que Jorge Brito Pereira, presidente do conselho de administração e advogado da empresária angolana, e os administradores Paula Oliveira e Mário Leite da Silva devem ser ouvidos pelas comissões de governance e ética da empresa sobre as relações que mantêm com Isabel dos Santos. 

António Costa promete total apoio à Justiça de Luanda O primeiro-ministro português pronunciou-se ontem pela primeira vez sobre o caso Luanda Leaks, referindo que tal como tem vindo a acontecer, o que compete a Portugal “é colaborar totalmente com as autoridades angolanas”. 

“Espero que este caso permita à justiça angolana tratar aquilo que tem a tratar e às empresas portuguesas continuarem a desenvolver a sua atividade dentro do maior quadro de estabilidade que seja possível”, frisou António Costa, que aproveitou para responder às acusações do BE que davam conta de que Isabel dos Santos sempre tivera um tratamento de exceção do Governo: “O Bloco de Esquerda deve seguramente desconhecer os factos”.

Falando num “total alinhamento de pontos de vista sobre esta matéria” entre Lisboa e Luanda, António Costa disse que as empresas portuguesas, como a Efacec, não têm de temer o que está a acontecer: “A investigação incide sobre uma acionista, e não sobre a empresa”.

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