Chegou ao fim a aventura de Ernesto Valverde no comando técnico do Barcelona. Dois anos e meio e quatro títulos depois (duas vezes campeão de Espanha, uma Taça do Rei e uma Supertaça espanhola), o técnico espanhol foi despedido pelos culés. A saída do treinador de 55 anos é anunciada na sequência da eliminação dos blaugrana na meia-final da Supertaça, diante do Atlético Madrid, num encontro em que saíram derrotados por 3-2. De resto, a equipa capitaneada por Messi segue a liderar a Liga vizinha (ainda que em igualdade pontual com o Real Madrid), está presente na Taça do Rei (ficou ontem a saber que defrontará o emblema da segunda divisão B espanhola UD Ibiza nos 16-avos- -de-final) e ainda luta na Champions, prova em que irá enfrentar os italianos do Nápoles nos oitavos-de-final (com a primeira mão agendada para o próximo mês de fevereiro). De relembrar que os rumores de uma eventual saída de Valverde começaram precisamente por causa da eliminação dos catalães da Liga dos milhões na temporada transata, quando, em maio, o campeão espanhol caiu de forma estrondosa diante do Liverpool (4-0), em Anfield, depois de ter vencido por claros 3-0 em Camp Nou, na primeira mão das meias-finais.
Numa altura em que está oficialmente cumprida metade do campeonato espanhol (19 de 38 jornadas), o Barcelona segue, como já foi referido, no topo da tabela, com os mesmos 40 pontos que o rival Real Madrid.
De sublinhar ainda dois dados interessantes nesta despedida. O primeiro tem que ver com o facto de o clube demitir pela primeira vez um treinador desde 2003, ano em que Louis van Gaal concluiu a sua segunda passagem pelo clube. Já o segundo prende-se com o facto de Valverde se tornar agora o quarto treinador que é despedido da Liga espanhola num momento em que lidera a classificação. O último caso havia sido o de Radomir Antic, do Real Madrid, em 1991/92, época em que o sérvio foi despedido também na jornada 19. Já o primeiro exemplo remonta a 1935/36, quando José María Olabarría, técnico do Athletic Bilbao, foi despedido à décima jornada. Pelo meio, em 1954/55, deu-se o despedimento do então técnico do Real Madrid, Enrique Fernández, na 13.a ronda da Liga.
Diga-se, contudo, que o Barcelona não perdeu tempo a anunciar o homem que se segue. Quique Setién foi esta terça-feira apresentado como o novo timoneiro do Barça.
À moda de Cruyff
O técnico espanhol de 61 anos já tinha sido um dos nomes em cima da mesa quando surgiram as primeiras notícias que colocavam o seu compatriota na porta de saída, uma vez que o antigo treinador do Bétis é conhecido por valorizar o estilo de jogo baseado na posse de bola, bem à imagem de marca dos catalães. Fã confesso de Johan Cruyff, antiga lenda do Barça, Setién fez uma declaração que correu mundo há cerca de dois anos. “Disse a Cruyff que teria dado o dedo mindinho para ter jogado na sua equipa, não por jogar no Barcelona, mas pela forma como jogavam, porque via como os jogadores desfrutavam”, afirmou ao El Periódico em 2018. Ainda nesse ano, mas em entrevista ao El País, também mostrou a admiração que tinha pelo holandês. “Quando estava em campo, sabia que se podia jogar melhor futebol. Não o soube verdadeiramente até defrontar as equipas do Cruyff. Pasmava-me o que sentia. Não sou capaz de inventar, mas sim de o copiar”, admitiu.
Já nas duas últimas épocas, Setién brilhou aos comandos do Bétis, tendo sido, aliás, o último treinador a vencer em Camp Nou, com um triunfo por 4-3 sobre o Barcelona em novembro de 2018, referente à jornada 12 da Liga espanhola 2018/19.
Ainda na época passada bateu o Atlético Madrid e o Real, em pleno Santiago Bernabéu, por 2-0, deixando entretanto o emblema de Sevilha no último verão.
Setién assinou agora contrato até junho de 2022 e a sua estreia está agendada para o próximo domingo, com a receção ao Granada dos portugueses Rui Silva e Domingos Duarte.
Ontem, durante a sua apresentação, o espanhol não conseguiu esconder a euforia de ser o novo treinador do líder do campeonato espanhol: “Este é um dia muito especial para mim. Ainda ontem estava a passear junto às vacas na minha terra e hoje estou a treinar os melhores jogadores do mundo, numa equipa enorme”. “Jamais poderei melhorar, isto é o máximo!”, reconheceu.
Quando confrontado com os próximos objetivos, o espanhol foi perentório: “Conquistar troféus”. “Vamos tentar ganhar tudo o que pudermos. Neste clube não há outro caminho que não seja melhorar a cada ano e conquistar o máximo de títulos possíveis”, sublinhou.
De “El Maestro” a técnico “cabeçudo”
De ideias fixas, o antigo técnico do emblema de Sevilha mostrou-se confiante para o novo desafio, que irá encarar “com grande ambição”.
“As convicções são importantes, mas o trabalho também o é. Tenho as coisas muito claras. Ouço sempre toda a gente, mas é difícil tirar-me da cabeça as coisas de que estou convencido. Sou o primeiro a defender as minhas equipas e a morrer com as minhas ideias”, referiu. Este ano, o antigo internacional espanhol também já tinha confessado que há quem o tenha apelidado de “cabeçudo”, precisamente por fazer questão de levar as suas convicções até ao fim. “Já me chamaram cabeçudo, e talvez tenham razão, mas sou cabeçudo para defender a minha proposta. Creio que é no sentido positivo porque, quando as coisas vão mal, precisas de alguém com determinação para defender a ideia”, contou ao El Mundo.
Ontem, o ex-médio relembrou também que os blaugrana fizeram com que gostasse ainda mais de futebol. “Desfrutei muito a ver esta equipa jogar nos últimos anos, estes jogadores fizeram-me apreciar ainda mais o futebol. Sinto que vou treinar a melhor equipa do mundo e ainda não estou bem consciente do que isto significa. Já falei com Messi e disse-lhe que tenho admiração por ele”, rematou.
Como técnico, Setién conta com um título na segunda divisão B espanhola. Já enquanto jogador fez inicialmente carreira no futebol de praia, representando o seu país antes de ingressar no Real Racing Club, onde ganhou a alcunha de “El Maestro”.
Três vezes internacional por La Roja, o antigo médio-centro ganhou ainda uma Supertaça de Espanha ao serviço do Atlético Madrid (que representou durante três anos, entre o verão de 1985 e 1988).