“Homem-aranha” escala arranha-céus em protesto contra Macron

“Homem-aranha” escala arranha-céus em protesto contra Macron


Alain Robert opõe-se à proposta de reforma das pensões, que afetará sobretudo funcionários públicos e pessoas com interrupções laborais. “No dia em que parar de trepar não recebo mais nada”, lamentou.


Sem quaisquer cordas ou arneses, Alain Robert, de 57 anos, trepou um edifício de 48 andares em La Defense, o distrito financeiro de Paris, esta segunda-feira. Robert ficou conhecido como o "homem-aranha" francês, por trepar mais de um centena de estruturas, incluíndo a ponte Vasco da Gama, a Ponte 25 de Abril – foi detido após escalar esta última – e o Burj al Khalifa, no Dubai, o edifício mais alto do mundo. Contudo, desta vez, o seu objetivo para subir os 186 metros do arranha-céus Tour Total era outro. "Estou a tentar usar a minha fama para algo que considero significativo", disse Robert à Reuters, mostrando-se "profundamente preocupado" com o plano de reforma das pensões, proposto pelo Executivo francês de Emmanuel Macron. 

Apesar do Presidente francês ter abdicado este sábado do polémico aumento da idade de reforma, dos 62 para os 64 anos, muitos outros franceses mostram-se tão preocupados como Robert – o país enfrenta protestos e greves gerais há mais de um mês. Se alguns sindicatos, como a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), se mostram dispostos a negociar, agora que o aumento da idade de reforma está fora de questão, outros, como a Confederação Geral do Trabalho (CGT), mais radical, rejeitam o documento na íntegra.

O objetivo da proposta é unificar os 42 regimes de pensões franceses num só, alterando também o método de cálculo das reformas. Ou seja, por exemplo, em vez de se ter em conta os 25 anos em que se ganhou mais – como no caso dos trabalhadores do setor privado – ou os últimos seis meses de carreira – como no caso dos funcionários públicos – o cálculo passaria a ser feito com base em toda a carreira, ganhando-se pontos em função de fatores como o número de filhos.

Analistas apontam que o novo método de cálculo possa levar a uma baixa generalizada das pensões. Sobretudo entre funcionários públicos, que normalmente ganham mais no final de carreira, pessoas que têm interrupções laborais ou atividades de desgaste rápido, como é o caso do "homem-aranha" francês. "Vivo dos patrocínios, mas os patrocinadores só me dão algo quando trepo", lembrou Robert, que subiu o Tour Total apenas com as suas mãos nuas, giz para evitar escorregar e um par de sapatos de escalada. "No dia em que parar de trepar não recebo mais nada", assegurou à agência norte-americana.