Não é um exclusivo de Portugal e um pouco por todo o mundo há figuras, como o famoso Tino de Rans, que querem uns momentos de fama e decidem concorrer às eleições, sejam legislativas, autárquicas ou presidenciais. Uma das candidaturas mais célebres foi a do brasileiro Tiririca, que tinha como slogan qualquer coisa como “votem em mim que pior não fica”.
Num tempo em que as redes sociais e os programas televisivos para reformados e domésticas têm um peso considerável na sociedade portuguesa, é normal que todos tenham ambições de ir mais longe. Se antigamente as televisões vendiam sonhos, hoje vendem realidades. As realidades dos “mamã, olha como eu sou forte” dos Big Brothers da vida, da estridente da Malveira, que com as suas mãos na anca e voz de varina do Mercado do Bolhão, ao lado do seu vizinho amaneirado, fazem sucesso; até aos jogadores da bola com penteados à ninho de cegonhas da Comporta, tudo isto é fado, perdão, tudo isto é verdade.
Não é, pois, de estranhar que a rainha das audiências televisivas da manhã tenha acordado um dia destes e comunicado ao mundo que teve uma visão: “Um dia poderia representar todos os portugueses. E não iria falhar”, disse Cristina Ferreira. O mais engraçado é que, na entrevista que deu à Visão, a apresentadora fez tal afirmação sem se rir, segundo rezam as crónicas, assumindo que está perfeitamente convencida de que um dia pode ser Presidente da República.
Não sei se a culpa é de Marcelo Rebelo de Sousa e de todos os políticos que se sujeitam a ir ao seu programa falar de política enquanto cozinham. Não faço ideia se lhe dão dicas que Cristina encara como “sentenças” decretadas por alguma cartomante. Sei, sim, que a apresentadora se leva muito a sério: “Não me imaginava num cargo político, nunca me passou pela cabeça até ao momento em que as pessoas me começaram a dizer que poderia acontecer”.
Acredito que dos cerca de 700 mil espetadores que a veem diariamente, muitos até votassem na Tiririca portuguesa.