A chegada do último dia do calendário presta-se a um balanço do que andámos a fazer com o tempo, esse bem precioso que não nos custa nada a ganhar… mas também não custa a gastar. Segundo um estudo recente, os norte-americanos passam, em média, 12 horas e quatro minutos por dia a olhar para um ecrã (telemóvel, computador, televisão). É mais de metade da vida agarrado a um aparelho! Os números no resto do mundo, da Nova Zelândia a Portugal, não devem ser muito diferentes. Como aqueles hamsters que correm numa roda sem saírem do mesmo sítio, passamos uma parte importante cada vez maior da vida como que hipnotizados pela tecnologia, sem que daí resulte nada de muito interessante ou produtivo. No ranking do desperdício de tempo, o primeiro lugar será sem dúvida ocupado pelas redes sociais, que nos mantêm presos nas suas malhas sem sequer nos darmos conta. Achei interessante, a esse propósito, um post da apresentadora Filomena Cautela a aconselhar os seus seguidores a fazerem meditação. “Meditem ou comecem a meditar”, incitou. O conselho será excelente, bem-intencionado, precioso. Mas vindo de uma das grandes gurus das redes sociais – e destinado aos seus ávidos seguidores nestes meios… – parece algo deslocado. Ou, na melhor das hipóteses, é difícil de distinguir de qualquer outra “boca” sobre uma peça de roupa ou um restaurante.
A meditação, presumo, deve ser o oposto do “mastiga e deita fora” do Twitter e do Facebook; o oposto da ligeireza, da superficialidade e da futilidade das redes; o oposto das opiniões histéricas, ruidosas e precipitadas despejadas em 200 carateres. Reflete uma atitude perante a vida que não se compadece com a excitação das modas e da tecnologia – nem, já agora, com resoluções de Ano Novo que só se cumprem nos primeiros dias do ano ou nem isso.
“Meditem ou comecem a meditar” – a sugestão é boa. Mas se querem realmente agarrar o tempo, não será seguramente com conselhos “picados” aqui e ali nas redes sociais. Será não o perdendo. Deixar de focinhar no lixo digital dos outros pode ser um bom começo.